Música

Trio Siridó celebra 50 anos de carreira com uma série de shows pelo DF

O Trio Siridó, grupo que animou as principais festas nordestinas de Brasília, celebra 50 anos de carreira com uma série de shows

Reduto de imigrantes do Nordeste no Distrito Federal, Ceilândia acolhe há 50 anos o Trio Siridó, expoente da cultura popular daquela região na Capital Federal. Para celebrar a data, o grupo programou uma série de apresentações, a maioria gratuita, que teve início no último final de semana com shows na Casa do Cantador e na Feira Central no Sol Nascente. A partir da próxima semana sai em caravana por outras cidades, tendo Santa Maria como ponto de partida.

Criado em 1962 por José Torres da Silva, cantor e tocador de triângulo Torres do Rojão, o grupo já teve várias formações. Na atual, ele tem como companheiros o jovem sanfoneiro Nivaldo e o zabumbeiro Toim. A história do Siridó, nos cinco décadas de carreira, está registrada em 16 discos — oito LPs e oito CDs. Ao longo dos anos, o trio tocou em todo o DF — principalmente no ciclo das festas juninas —, mas também nas várias regiões do país e até no exterior.  "O que sempre buscamos foi sustentar e fortalecer o movimento dos forrozeiros, não apenas de Ceilândia, mas também de todo o DF", ressalta Torres."Não custa destacar que o forró, um ritmo nordestino, possui o título de patrimônio cultural imaterial do Brasil", acrescenta.

Torres teve em Luiz Gonzaga a grande fonte inspiração quando, bem jovem, decidiu seguir o ofício de músico. Paraibano de Campina Grande, foi em sua cidade natal que ele conheceu o Rei do Baião. No repertório de shows e mesmo de discos do trio, ele sempre incluiu composições do ídolo, com quem chegou a dividir o palco em várias ocasiões. Ao Correio o forrozeiro concedeu longa entrevista. Aqui, trechos da conversa.

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Torres do Rojão Paraibano de Campina Grande, foi lá que o forró entrou em sua vida?

Ingressei em minha vida no forró em Caruaru, com os meus 14 anos, amante do forró desde o berço, principalmente por influência do meio cultural em que estava inserido. Todos na minha família eram amantes do forró raiz, com zabumba, triângulo e sanfona. Já cantei também com outros músicos que foram meus professores, como Jacinto Silva, Déo do Baião, Jackson do Pandeiro e o sanfoneiro Camarão. Tenho duas filhas ainda crianças, 10 filhos crescidos e muitos netos e bisnetos. Já perdi a conta.

Como foi o encontro com Luiz Gonzaga, naquela cidade?

Meu encontro foi emocionante, ele fazia um show na cidade de Caruaru, e chamou a garotada que sabia as letras das músicas dele e eu me destaquei cantando às canções que sabia de cor e salteado. Depois, tivemos muitos encontros, o Trio Siridó sempre foi selecionado para acompanhar o nosso rei do Baião nas suas apresentações na reunião Centro-Oeste. O show de Caruaru foi apenas um portal de entrada para muitos outros encontros musicais emocionantes.

O Rei do Baião é sua principal referência?

Por ordem de afeto: Luiz Gonzaga, Jacinto Silva, Déo do Baião, Jackson do Pandeiro e o sanfoneiro Camarão são minhas principais inspirações e influências no mundo da música. Luiz Gonzaga sempre foi um padroeiro dos forrozeiro. Um artista que marcou época e lançou tendência no nosso gênero, que se tornou patrimônio imaterial do Brasil. Acompanhamos Gonzagão em várias apresentações no DF.

Quando veio para o Distrito Federal, foi morar em Ceilândia?

Quando cheguei aqui na capital fui morar na extinta vila do IAPI. Depois, percorri várias regiões do DF. Hoje, eu e minha família moramos em Ceilândia, berço da cultura nordestina no DF.

Que lembranças guarda de quando, em 1972, criou o Trio Siridó?

Eu tocava na extinta boate Camisa Listrada, de Ceilândia, sem receber nada, foi quando o dono (Paulo Brandão) me convidou para ser artista fixo da casa. A partir daí, surgiu a necessidade de formar um trio. Passei a me apresentar com os meus companheiros (Mocó e Deijaci). Os trios de forró estavam em alta na época, feliz foi essa decisão. E até hoje os trios trazem alegria por onde se apresentam.

A escolha do nome do grupo foi sua, ou houve sugestão de alguém?

Escolha minha e do Mocó, que homenageia a canção de Luiz Gonzaga sobre a região nordestina e suas mazelas enfrentadas. O povo nordestino é marcado pela perseverança, assim como o seridoense.

Qual a avaliação faz de sua trajetória musical?

São muitas emoções ao lembrar da nossa trajetória. Passamos muitas dificuldades, como todos artistas, mas também tivemos muitos momentos de glória. Tive a oportunidade de me apresentar com meus ídolos, de trazer alegria por esse Brasil a fora. O forró é o compasso do coração. É uma felicidade plena poder fazer o que amo há meio século.

Em quais as mídias o trio fez registro do trabalho?

Já fizemos jornais locais, nacionais, programas de TV e rádios para todo o país. Hoje estamos na internet, nas redes sociais. Temos parceria com a Asforró, associação dos forrozeiros do Distrito Federal e participamos de vários projetos culturais, com outros diversos nomes e trios de forró consagrados no DF.

Quantos discos foram lançados?

Nos 50 anos, o Trio Siridó lançou 16 discos, oito em vinil e oito em CD. O primeiro, Progresso da mandioca, foi lançado em 1980. Flor mulher, Sapo na lagoa e Bate bate paixão são as músicas mais conhecidas do trio.

Do repertório autoral do Siridó que músicas são destaques?

São várias, Carregadinho de amor, Flor mulher, É que nem sapo na lagoa, Progresso da mandioca, É de madrugada que a população aumenta, entre tantas outras.

Tem quanto tempo a atual formação e como descobriu seus atuais companheiros?

Essa atual formação surgiu depois da pandemia. São músicos que sempre foram fãs do Siridó e tinham vontade de ingressar no nosso time. Também conto com a ajuda dos meus netos, que, às vezes, tocam comigo.

Além do Distrito Federal, que outras regiões do país já tomaram conhecimento do forró criado pelo grupo?

Todo o Norte, Nordeste, Centro-Oeste e algumas regiões do Sul como, Paraná, Maringá. Estivemos também na África (Luzamba, Luanda e África do Sul).

Na sua avaliação, o Trio Siridó tem o devido reconhecimento como uma referência da cultura popular brasiliense?

Não é o que eu esperava. O meio artístico é cheio de altos e baixos. Só reafirmo que sinto muito orgulho do meu meio século de forró.

Reprodução - Formação atual do Trio Siridó: Nivaldo, Torres do Rojão e Toim
Divulgação - Torres do Rojão é o único integrante do trio original
Reprodução - Capa do primeiro disco do Trio Siridó: O progresso da mandioca
Antonio Cunha/CB/D.A Press - O Trio Siridó no lançamento do sétimo LP