O pedido de cessar-música com a mão, marca registrada de Jô Soares, era sinal de que o apresentador daria prosseguimento ao brilhante trabalho como apresentador. Agora, o silêncio se prolonga sem ser cortado pela voz carismática de Jô. A experiência de participar do programa de entrevistas mais famoso do país ficou marcada na trajetória de artistas brasilienses. "Mandamos o disco, e o Jô logo se interessou pelo nosso jeito inusitado de fazer música", relata ao Correio o maestro Rênio Quintas, sobre a participação no Programa do Jô. Welder Rodrigues, integrante da Cia Os Melhores do Mundo, lamentou a perda e destacou a importância de Jô na trajetória do grupo de comédia. "Ele é praticamente um divisor de águas na nossa carreira. Tem uma carreira antes do Jô, no teatro de Brasília, reconhecidos em Brasília.… Mas depois do Jô, a gente vira um grupo nacional de teatro", disse.
Os Melhores do Mundo
Para os integrantes da Cia. Os Melhores do Mundo, a participação no Programa do Jô foi fundamental para alavancar a carreira nacional. "Ele é praticamente um divisor de águas na nossa carreira. Tem uma carreira antes do Jô, no teatro de Brasília, reconhecidos em Brasília.… Mas depois do Jô, a gente vira um grupo nacional de teatro. A nossa relação com ele sempre foi ótima! O Jô, numa agenda gigantesca e um monte de prioridade, abriu espaço para mandar um recado quando a gente comemorou 25 anos de carreira. É muito emocionante e maravilhoso", contou Welder Rodrigues.
"A morte é sempre uma perda, apesar de ser um processo natural da vida. O Jô, sem a menor dúvida, entra para o panteão das maiores celebridades da nossa cultura, um nome que fica gravado para sempre na história da nossa arte, do humor. Ele é um dos caras, eu acho, mais importantes da história da tevê e do humor no Brasil", refletiu Adriano Siri.
Welder Rodrigues reflete sobre o futuro do humor no país sem a figura do Gordo: "A gente perde mais um pilar. A gente perdeu o primeiro com o Chico (Anysio) e agora com o Jô, referência para todos nós. E agora nós estamos aqui para honrar o legado dele e continuar tentando fazer humor neste país, que não está fácil".
Adriano lembra que, na segunda passagem pelo programa do humorista, a companhia fez uma cena de Joseph Klimber. "O site Jacaré Banguela gravou da televisão e publicou no YouTube e, apesar de ainda estar nos seus primórdios, viralizou. Pouco tempo depois, nós éramos conhecidos no Brasil inteiro e, a partir daquele momento, por causa daquela entrevista, nós começamos a fazer grandes casas por todo o Brasil", enfatizou Adriano.
Victor Leal também lembra com carinho da apresentação, em específico de uma fala de Jô que marcou para sempre a trajetória do grupo. "Ele sempre citava o Joseph Klimber como um dos grandes textos de humor que ele já tinha visto. Então você receber um elogio destes do Jô Soares é muito forte", lembra o ator que elogia o apresentador. "Uma pessoa muito culta, muito sofisticada e que mesmo assim era muito popular. Além disso, uma pessoa muito querida", complementa citando que mesmo debilitado, Jô enviou um vídeo parabenizando os 25 anos de Os Melhores do Mundo. "Foi uma honra ter passado de fã para amigo de uma pessoa como ele", concluiu.
A perda de Jô Soares fez com que os Melhores do Mundo relembrassem a própria carreira. "O Brasil perde uma referência no humor, nas artes e em tudo. Nós, dos Melhores do Mundo, somos muito impactados com isso, pois tivemos o privilégio de ter a nossa vida modificada pelo Jô. Tivemos o privilégio de conhecê-lo e de ficar amigo dele, bem próximos dele. Que Deus o tenha. Em outro plano, que ele continue a brilhar como brilhou aqui nessa neste planeta junto com a gente", diz o humorista Jovane Nunes, exaltando a vida do apresentador que os apadrinhou.
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Luis Xavier de França/Esp. CB/D.A Press - Philippe Seabra
Philippe Seabra
Philippe Seabra, o rosto da banda brasiliense de rock Plebe Rude, relembra a importância do espaço para atos musicais nos programas de entrevista: "O Jô Soares sempre recebeu as bandas de rock de braços abertos. Era, talvez, um dos poucos lugares onde o rock alternativo, mais afastado do mainstream, ou até mesmo underground, tinha espaço". O vocalista relembra, em tom divertido, que o apresentador gostava de se arriscar na música: "Às vezes, ele tocava bongô junto e era sempre muito bacana". E completa com a revelação de que, além da atuação, Jô foi vanguarda no rock brasileiro: "As pessoas esquecem que um dos primeiros rocks gravados no Brasil foi um compacto do Jô chamado Capitão gay".
Paulo César Cascão
"Genialidade, generosidade e intelectualidade". É como descreve o vocalista e formador original da banda Detrito Federal, Paulo César Cascão. O ex-integrante via em Jô uma pessoa que muito agregou para a cultura e para a arte brasileira. "Todo mundo fala da intelectualidade de Jô. Realmente, é ímpar a genialidade dele. Mas a generosidade dele é maior, porque dava espaço para todos", completa. Para o artista e hoje advogado, Jô conseguia compreender o matiz de todas as artes, inclusive a característica de Brasília, o rock n' roll.
Rênio Quintas
O maestro Rênio Quintas, do grupo Naipe, teve a oportunidade de estar presente no Programa do Jô, para uma conversa sobre a música brasiliense. Rênio se emociona ao falar do momento em que esteve diante o artista. "Mandamos o disco, e o Jô logo se interessou pelo nosso jeito inusitado de fazer música", conta. Quintas descreve que a conversa com Jô flui muito bem. "Ele estava sempre provocando e conseguia tirar o melhor das pessoas". Para Rênio, Jô vai deixar o legado de uma grande inteligência, que tinha como dom a compreensão dos humanos.
André Deca
O ator e produtor brasiliense André Deca exalta as qualidades que fizeram de Jô Soares o fenômeno que foi. "O Jô é uma referência para muitos, um artista múltiplo, carismático, inteligente e criativo", afirma. Deca teve a honra de produzir um espetáculo do apresentador em 2001 em Brasília e recorda as qualidades profissionais do artista. "Eu admirava muito seu humor político e irreverente! Um dos grandes artistas que o Brasil perde. Muita luz pra ele!", completa.
Jaime dos Santos
Em 2013, Jô entrevistou Jaime dos Santos, brasiliense que tinha um blog sobre histórias do cidadão da capital, o Humanos de Brasília, e sempre manteve uma vida atrelada ao ativismo social. Jaime é filho de Cristina Serra, jornalista que por muito tempo foi "menina do Jô", título carinhoso que ganhou dos repórteres que discutiam assuntos políticos com o apresentador. "Quando conheci, ele eu tinha ido assistir minha mãe na plateia ao vivo. Me jogaram uma pergunta aleatoriamente durante o show e eu respondi com a inocência de um adolescente de 16 anos", lembra. "Ele viu algo nisso, e umas duas semanas depois recebi uma ligação da produção dele. Jô, sinceramente, tinha curiosidade em ouvir a perspectiva de um adolescente sobre tudo que estava acontecendo naquele momento", conta Jaime, que hoje segue carreira musical sob o nome Saint-Hills. "Ele foi uma das primeiras pessoas que viu algo em mim", concluiu.
Colaboraram Ricardo Daehn e Pedro Ibarra
*Estagiários sob a supervisão de José Carlos Vieira