A Embaixada da Itália promove, desta terça-feira (30/8) ao dia 18 de setembro, uma exposição fotográfica que remonta a história da instituição, desde a criação no Rio de Janeiro, em 1919, aos dias atuais, em Brasília. A mostra funcionará de segunda a sexta, das 16h as 19h; sábado, domingos e feriados, das 10h as 16h. A entrada é gratuita.
Vinte e dois painéis totalizam 61 fotografias dispostas em cavaletes de cristal projetados pela designer ítalo-brasileira Lina Bo Bardi oferecem, em um sinuoso percurso, um passeio histórico pela residência italiana no Brasil. A mostra A Embaixada da Itália em Brasília: um percurso fotográfico do Rio de Janeiro ao Planalto ilustra episódios marcantes ocorridos na sede, que se fixou no Rio de Janeiro em 1919 e mudou-se para Brasília em 1972, onde se encontra até hoje. Definida pelo Embaixador italiano em Brasília Francesco Azzarello como "uma construção dentro de uma construção", a instituição se ampara na imponente história dos italianos que cruzaram o Atlântico no século 19 para erguer uma nova vida em paralelo ao país, que vivia uma era de expansão e autodescobrimento.
Fotografias históricas da antiga sede, um Solar em Laranjeiras, se contrapõem aos registros atuais do imponente prédio brasiliense desenhado por Pier Luigi Nervi e captados pela conceituada fotógrafa de arquitetura Joana França. Em adição à mostra fotográfica, o pintor Carlos Bracher, descrito pelo embaixador como um "amante da cultura italiana", apresenta dois quadros pintados em parceria com 80 alunos cegos, surdos e surdos-mudos da rede oficial de ensino do DF. Para sedimentar a história, a Embaixada da Itália distribuirá um livro especial sobre a mostra que será entregue em formato impresso àqueles que visitarem a instalação.
Entrevista - Francesco Azzarello
Como a chegada dos imigrantes italianos impactou a cultura brasileira? Como os dois países se relacionam?
Os muitos emigrantes italianos do final de 1800, início de 1900, tiveram que trabalhar duro, em condições ambientais extremamente difíceis, para sobreviver da melhor forma possível e construir sua primeira base de vida no Brasil. Foi, gradualmente, ao longo do tempo, que as duas culturas puderam se enriquecer mutuamente, com os resultados extraordinários que todos conhecemos. Um exemplo eno-gastronômico: no sul, os italianos encontraram as melhores terras que estavam já ocupadas e tiveram literalmente que transformar as terras que receberam para torná-las cultiváveis. Hoje, temos a grande sorte de poder beber excelentes espumantes ítalo-brasileiros e vinhos que ganham prêmios no exterior. Eles combinam muito bem com os pratos tradicionais italianos.
Qual foi a importância, à época, da embaixada para os italianos e descendentes?
Embaixadas e Consulados sempre foram um ponto de referência fundamental para as primeiras ondas massivas de emigração italiana ao redor do mundo. Entretanto, estamos falando de outra época, sem telefones celulares, computadores, aviões, trens e muito mais. E, naqueles dias, as muitas necessidades modernas eram superadas pela necessidade de sobreviver e melhorar o padrão de vida.
Em 1960, a capital se muda para Brasília e, com ela, a embaixada. Como você vê a diferença entre os dois momentos?
Os anos 1960 na Itália foram os chamados anos do "boom econômico" e, naquela época, os migrantes italianos começavam a se afirmar e a ser protagonistas no Brasil. Acredito que, em geral, ninguém queria deixar o Rio de Janeiro e sua vida por Brasília, uma cidade nascida do nada, na fase inicial de sua existência. Após o compreensível choque inicial, a história nos conta uma vida diferente da do Rio, mas intensa, agradável e da mais alta qualidade.
Em Brasília, há um número considerável de italianos? Como é a vivência dos imigrantes na capital em 2022? E como é a relação com a embaixada?
Em Brasília há um número limitado de cidadãos italianos, levando em conta seu total no Brasil, hoje cerca de 713.000. Quem mora em Brasília geralmente é um profissional, um empresário, um comerciante. O relacionamento com a Embaixada é excelente.
Como foi o processo de curadoria das fotografias?
Não foi fácil. No final, após muita pesquisa em várias direções, no Brasil e na Itália, reunimos muito material e tivemos que fazer escolhas. Tudo isso, porém, de acordo com um fio lógico, cronológico e temático. Começamos com fotografias da sede no Rio nas décadas de 1920 e 1930, do Planalto Central de 1892-94 e da década de 1950, do início da construção em Brasília, para chegar às fotos da visita do Presidente Gronchi em 1958 e da entrega pelo Presidente Kubitschek da placa do lote nº30 do terreno, ao projeto do engenheiro Nervi e ao papel de seu filho arquiteto Antonio, às esculturas e pinturas de artistas de origem italiana dentro e fora dos palácios institucionais, à doação de uma cópia da Lupa Capitolina pelo Prefeito de Roma, hoje em frente ao Palácio Buriti, até o final das obras da Embaixada e os dias de hoje. Meu agradecimento especial vai para o Correio Braziliense por nos dar acesso ao seu arquivo, do qual extraímos diversos materiais preciosos incluídos na exposição e no livro. O Correio tem desempenhado um papel fundamental na história de Brasília e o relacionamento com a Embaixada tem se consolidado ao longo do tempo.
O senhor poderia citar alguns dos grandes momentos na história da Embaixada que foram eternizados nas fotos? Há algum que ficou de fora da exposição?
A história da Embaixada é uma história também fotográfica, de uma construção dentro da construção, de uma relação arquitetônica quase íntima com a realidade envolvente, que ao longo dos anos evolui, e a Embaixada começa a fazer parte do mundo sócio cultural de Brasília. É o que demonstra a recente exposição Portinari Ilustrador, às homenagens ao engenheiro Pier Luigi Nervi, e nossa primeira Semana da Embaixada Verde com seus programas.
Como surgiu a ideia de contrastar imagens de época com os registros contemporâneos de Joana França?
A ideia nasceu ao examinar o material fotográfico e ao estudar o layout e a criação do livro. Espero que seja uma experiência interessante e bem-sucedida.
Como o trabalho de Carlos Bracher se incorpora à exposição?
Ele é um grande amante e conhecedor da cultura italiana, tanto antiga quanto moderna. Graças ao nosso amigo comum Silvestre Gorgulho, a ideia de pintar a Embaixada se concretizou e Carlos aceitou generosamente. A obra, à qual dedicamos a capa do livro, é objetivamente muito bonita. Poderíamos chamar isso de uma demonstração áulica da interação cultural contemporânea Itália-Brasil.
A Embaixada da Itália em Brasília: um percurso fotográfico do Rio de Janeiro ao Planalto
De terã-feira (30/8) ao dia 18 de setembro, de segunda a sexta, das 16h às 19h, e sábado, domingos e feriados, das 10h às 16h, na Embaixada da Itália em Brasília — SES Quadra 807, Lote 30, Setor de Embaixadas Sul, Asa Sul.
Saiba Mais
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
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