Livro

Beth Goulart lança em Brasília livro sobre reafirmação da vida

Entre memórias da vida caseira, ao lado dos pais, e relatos de autoconhecimento, a atriz Beth Goulart lança o primeiro livro da vida: 'Viver é uma arte'

» Ricardo Daehn
postado em 23/08/2022 18:26 / atualizado em 24/08/2022 09:49
A atriz e dramaturga Beth Goulart -  (crédito:  Nana Moraes/Divulgação)
A atriz e dramaturga Beth Goulart - (crédito: Nana Moraes/Divulgação)

Num mundo "perdido de si mesmo", com brechas para transformações derivadas da liberdade e do pensamento crítico individual, a atriz e diretora Beth Goulart encontrou espaço para entregar uma contribuição: a publicação do primeiro livro, Viver é uma arte. "O livro foi um desabafo sincero do meu coração", já comentou a atriz, aquariana, que aos 61 anos, se diz animada com a porção "velha moça", com a qual faz trocadilho com música que ela compôs no passado. Libertária e independente, Beth, na abertura do livro, é vista como uma "oficiante da palavra", ao que enfatiza a experiente escritora Nélida Piñon. Em Brasília, cidade em que estreou seis espetáculos da carreira, Beth lança o livro nesta quarta (24/8), a partir das 18h30, no Centro Cultural de Brasília (SGAN 601, L2 Norte).

Saber falar, saber calar e saber ouvir são atitudes no rol do que a autora preza, como ela já pontuou em entrevista ao Correio: "Vivemos tempos de intolerância e saber ouvir é fundamental para saber falar". "Durante toda a minha vida, busquei um lugar de paz dentro de mim, através de meditação, exercícios físicos e de respiração", explicou Beth Goulart, que destrinça aprendizados cotidianos e luto, durante a narrativa de Viver é uma arte. Tanto o pai, Paulo Goulart (morto há oito anos), quanto a mãe de Beth, Nicette Bruno, vitimada por Covid-19, em 2020, contribuíram para a capacidade expressiva da atriz que vincula arte à aceitação do diferente e à elaboração de sua conexão com muitas almas. Com lacuna na arte, a sociedade se torna doente, defende. "Acredito que fé e arte foram sinônimas para nossa família", grafa Beth, em determinado ponto da escrita. Aprendizados dão as caras,
naturalmente, no livro em que a autora fala da aceitação das fases da vida.

Superar etapas tensas, com o sustento de espiritualidade e intuição, levam a autora a refletir que "a morte chama para a vida". Dos estreitos vínculos com o pai, Paulo, Beth computa a sabedoria, vertida em "prosperidade, felicidade e alegria". A conexão com a vida, chega por meio da singeleza de testemunhar um belo por do sol, de brincar com as cachorras de estimação. A vida, por sinal, se encarrega de alguns confortos: enterrado no Cemitério da Consolação, o pai ocupa jazigo justo embaixo de árvore que plantou.

As dores do luto, com a morte da mãe, estão descritas no livro em que Beth traça a importância para a rede de solidariedade da qual desfrutou. "Perder os mais longevos e sábios para recuperar o valor do tempo" está na lista de percepções de Beth Goulart, diante dos efeitos avassaladores da Covid-19. Sensibilidade e amor estão ressaltados no depoimento da referencial Fernanda Montenegro, ao tratar das qualidades de Nicette Bruno, sempre vista "na luz, com luz, para a luz". Percebendo a maternidade como "uma ponte entre a eternidade e a vida", Beth Goulart traz o revelador dado de ter parentes formadas em medicina obstetrícia, sob duras condições.

Distorções históricas na planilha do feminismo chegam sob alerta da autora que enfatiza a necessidade da correção urgente e com atrasos de "leis que garantam direitos (das mulheres) e avanços". Beth faz ecoar dados da cultura celta em que mulheres eram tidas como "seres especiais". Beth enfatiza o posicionamento o posicionamento da sociedade que parece ter acordado de um sono milenar. Numa metáfora de ter "sido parida" por Clarice Lispector, no livro, a atriz detalha o desafio da peça Simplesmente eu, Clarice Lispector, no qual Beth viveu Lispector, passados dois anos de pesquisa, seis meses de preparação e dois meses de ensaios. Ainda no livro, estão descritos processos e visuais adotados em obras como O outro, Electra com Creta, Perigosas peruas e O primo Basílio.

Entre movimentos como explicar parte da lida com o espetáculo Perdas e ganhos, apoiado em texto de Lya Luft, consciente da maturidade na qual se percebe viva e atuante, Beth Goulart traça, no livro, uma trama construída com educação, respeito, fé e muito endosso de autoconhecimento, autoestima e autoconfiança. É como já revelou, em entrevista, com destaque para o poder do amor: "um sentimento-mãe que te abraça e te aceita do jeito que você é. O amor é nossa fonte de existência, dele nascemos e para ele retornaremos na hora devida."


Viver é uma arte: transformando a dor em palavras

Centro Cultural de Brasília (SGAN 601, L2 Norte). Quarta, dia 24 de agosto, lançamento do livro às 18h30, com vendas da publicação no local. Evento é gratuito, com palestra acessível mediante inscrição pelo Sympla (vagas limitadas) e doação de um quilo de alimento não perecível. Livro de memórias de Beth Goulart, 138 páginas. Preço: R$ 59,90 (impresso) e R$ 34,90 (e-book). Editado pela Letramento.

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