No final de 2019, Roberto Corrêa foi convidado para compor a trilha sonora do longa-metragem Bravos valentes: vaqueiros do Brasil. Enquanto se debruçava sobre a música para o filme, ele teve uma ideia: fazer uma música com viola da gamba, um instrumento que adora, ouve muito e que lembra o berro de boi. "Imaginei duos de violas, algumas violas do Brasil, de certas regiões, e compus algumas peças", conta o músico. Assim nasceu o Concerto para vaca e boi, que será lançado na sexta-feira em um recital transmitido na página do artista no Youtube e estará disponível em todas as plataformas digitais.
Com 12 faixas, o 20º disco de Roberto Corrêa é um verdadeiro passeio pela história da viola no Brasil e pelos usos possíveis dos diferentes instrumentos. Ele começou com viola da gamba, mas resolveu ampliar o projeto para todos os tipos de violas do Brasil. São seis no total — viola de buriti, machete baiana, viola caiçara, viola de cocho e viola caipira —, incluindo a da gamba. O Concerto para vaca e boi é formado por duos de cada uma dessas violas com a da gamba. "É um encontro no tempo de instrumentos antigos, porque essas violas também são instrumentos antigos", conta o músico, que teve o projeto contemplado no Rumos Itaú Cultural, um dos principais programas de fomento à cultura no país.
A viola da gamba foi muito popular no período barroco. Hoje, é usada por instrumentistas que pesquisam e cultuam instrumentos antigos. "É um instrumento da família do violão, com afinação parecida, tocada com arco, um pouco maior que o violoncelo, e com sete cordas. Essa viola tem muitos harmônicos e deu muito certo com as violas brasileiras", avisa Corrêa. No disco, Gustavo Freccia, professor da Escola de Música de Brasília (EMB), ficou responsável pelo instrumento, que se tornou praticamente um protagonista no novo álbum.
Junto com o disco, Corrêa lança ainda um livro de partituras e textos dedicados à peça. Concerto para Vaca e Boi. Composições para Violas Brasileiras e Viola da Gamba. Partituras, tablaturas, apontamentos e memórias foi escrito ao mesmo tempo em que as nasciam as composições. O livro tem um trecho autobiográfico no qual o violeiro explora as próprias memórias e fala de sua relação com os instrumentos. Cada uma das violas ganhou um texto no qual o autor narra seu primeiro contato com o instrumento. "Foi uma imersão muito grande esse processo de criação, de lidar com essas violas", avisa. Esse é o quinto livro do músico que, em 2019, publicou Viola caipira das práticas populares à escritura da arte. "Todo esse processo da minha lida com os instrumentos, escrevo. Não só a preparação de cada instrumento. Não é música regional, é música de concerto, de câmara, então os instrumentos foram preparados, muito bem afinados, para soar o melhor possível. E é música complexa, com contrapontos", avisa. Cada viola também teve direito a um videoclipe.
Filho de fazendeiro, Roberto Corrêa conta que passou a infância e a adolescência fascinado com as histórias de boiada. Se interessava pelo dia a dia dos vaqueiros, pelos bichos, pelo trabalho em si, e não pelo negócio. Concerto para vaca e boi, para ele, pode ser uma forma de retorno à própria infância, por isso o título inusitado da peça. "Talvez essa trilha musical (feita para o filme Bravos valentes: vaqueiros do Brasil) tenha me trazido para esse universo da minha infância e adolescência, daí nasceu esse concerto. É como se estivesse fazendo o concerto para uma cultura de boiada, de bois, de moda de viola, que eu sempre tive na minha história. Essa relação com vaqueiros, peões de veadeiro…", divaga.
Concerto para boi e vaca
Lançamento na sexta-feira, no canal do Youtube de Roberto Corrêa (https://www.youtube.com/user/CanalRobertoCorrea)
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