Mostra de cinema

Festival Slow Filme reúne 22 filmes sobre gastronomia no Cine Brasília

Cinema e gastronomia têm o casamento perfeito, no festival Slow Filme, com carga de reflexão e entrada franca no Cine Brasília

Ricardo Daehn
postado em 23/08/2022 06:20 / atualizado em 23/08/2022 10:48
 (crédito:  Theodora Filmes/Divulgação)
(crédito: Theodora Filmes/Divulgação)

Há 75 anos, o estudo Geografia da fome — O dilema brasileiro: Pão ou aço, escrito pelo médico e antropólogo pernambucano Josué de Castro, apontava a desigualdade de distribuição de riquezas mundo afora. Com mal-estar, os leitores de 2022 se deparam com o retorno dramático do tema, pelo lançamento do livro Da fome à fome, organizado por Ana Paula Bortoletto e Tereza Campello. A obra propõe a reflexão sobre múltiplos aspectos  da insegurança alimentar e será lançada no próximo domingo (28/8), às 17h, no foyer do Cine Brasília (EQS 106/7), com a presença das autoras. Para além dos escritos de especialistas mundiais em nutrição, produções cinematográficas serão exibidas na ampla programação do Slow Filme 2022 — Festival Internacional de Cinema e Alimentação, promovido entre esta quarta-feira (24/8) e domingo (28/8), no Cine Brasília, sob curadoria do professor e crítico Sérgio Moriconi. Atividades paralelas (no Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul) terão coordenação de Guilherme Lobão.

A exibição, em caráter gratuito, de 22 filmes criados em 13 países parte de um filme de trama surpreendente: Os caçadores de trufas brancas, a ser mostrado amanhã, às 19h, alinha idosos rastreadores de raras iguarias de florestas ao norte italiano aos achados de cães adestrados. No segundo dia de programação, quinta-feira (25/8), há um mergulho na história de vindimas e de adegas lusitanas, visto no filme Setembro a vida inteira (às 16h). Às 20h da quinta, a atração é o filme peruano Semeadoras de vida, no qual mulheres andinas persistem no tradicional papel de guardiãs da mãe terra. Pouco antes, às 18h, a produção espanhola A receita do equilíbrio revela como o badalado chefe de cozinha Ricard Camarena encarou os desafios da reabertura de casas, passada a fase mais crítica da covid-19.

Médias-metragens também integram o Slow Filme que chega à 11ª edição. Sexta (26/8), às 16h, a produção de Taiwan Yilan, Um gostinho de casa cruza improváveis traços em comum das cozinhas chinesa e basca. Na mesma sessão, Armazéns de Beagá traz radiografias de estabelecimentos históricos da capital mineira; e O branco da raiz se apoia na dedicação de uma família alagoana na feitura artesanal de farinha de mandioca. Produções nacionais como Antes do prato (de Carol Quintanilha, com respaldo da Greenpeace) prometem fomentar debate, a partir do registro de escassez de comida e da mobilização social gerada a partir de uma corrente solidária para solucionar parte das preocupantes questões.

Diversa, a mostra de filmes acolherá animações como Almoço de domingo, criado pela francesa Céline Devaux, e que explora um campo minado familiar, num corriqueiro almoço de domingo. O público infantil não foi esquecido na festa do gosto pelo cinema: haverá sessões, sábado (27/8) e domingo (28/8), às 10h30. No sábado, derivado de um projeto premiado no prestigiado Festival de Annecy, será a vez de Bom dia, mundo!, que encampa o cotidiano de dez espécies de animais que, poeticamente, dançam entre algas e acalentam sonhos como o de alcançar a lua. Domingo é a vez de Tainá — A origem terá exibição, com relevância para o cenário da Floresta Amazônica e para a força dos povos indígenas.

Austrália, Grécia, Índia e Turquia são alguns dos países com culturas abraçadas no Slow Filme. Entre tópicos, há de abordagens variadas que sublinham desde a comunhão com a natureza até o estímulo ao turismo e o reconhecimento das PANCs (Plantas Alimentícias Não-Convencionais), que incrementam molhos e geleias. Tramas de reconhecimento despontam em filmes como Sementes enterradas (Índia) e O mestre cervejeiro (Finlândia). No primeiro, a perseverança impulsiona o chefe Vikas Khana, que, de imigrante anônimo em Nova York conquistou tremendo prestígio mundial. Em O mestre cervejeiro, a reconstrução de uma empresa na Lapônia é alcançada, depois das desigualdades de conjuntura internacional determinada pela prevalência da globalização.

As mulheres marcam presença no festival, em filmes como Neste mundo, de Anna Kauber, todo em torno do envolvimento de pastoras com o mercado produtivo de ovinos e caprinos, e criado a partir de 100 entrevistas. Na frente produtiva de estabelecimentos ligados à comida, no desempenho de atividades de sommeliers e de ativismo, as mulheres protagonizam À procura de mulheres chefs, filme sobre lideranças femininas na gastronomia. Agentes de transformações, com enfrentamento de corporações e de modelos de agricultura industrial ganham espaço na programação do Cine Brasília que estende tapete para produtos orgânicos e artesanais. O desprezo por venenos nos defensivos agrícolas e a valorização de métodos ancestrais também estão incorporados nos filmes do Slow Filme 2022.

Moinhos de pedra, conservas artesanais e sequenciamento de práticas tradicionais qualificam filmes como o turco Foça — o mercado da terra e ainda a produção italiana O vegetariano, que examina dilemas frente a uma vaca improdutiva. Rodado em Havana e nas cidades espanholas de Barcelona e Lloret de Mar, o média-metragem Constante y El Floridita de Hemingway, outro título escalado para Slow Filme, revela pequenos segredos do mixologista Constante Ribalaigua, apelidado pelo escritor Ernest Hemingway, um habitué do bar El Floridita, como o Rei dos Daiquiris.

 

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    » À procura de mulheres chefs Foto: Theodora Filmes/Divulgação
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    Mercearias de Beagá Foto: Theodora Filmes/Divulgação
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    Sérgio Moriconi Foto: Zuleika de Souza/CB/D.A Press
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    » O branco da raiz Foto: Theodora Filmes/Divulgação

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