A felicidade despontou no diretor Luiz Villaça, ao saber da primeira vontade de um espectador, ao assistir o mais recente filme dele, 45 do segundo tempo: o espectador em questão sentiu enorme vontade de ligar para um amigo do qual estava afastado há anos. “O filme é sobre amizade e foi feito por amigos. Aposto na continuidade, no que é cotidiano, e esse é o filme no qual mais me vejo”, avalia, em entrevista ao Correio.
O ponto inicial do filme que é uma foto refeita, anos depois da separação natural entre três amigos. Essa premissa do filme existiu, de fato, e brotou da ideia de um jornal paulistano —, preencher a beleza do reencontro, com enredos fictícios coube ao roteiro do longa-metragem de Villaça feito em tom de comédia. No filme, com o passar de anos, Pedro (Tony Ramos) apostou na gastronomia, Ivan (Cássio Gabus Mendes) se afundou na carreira de advogado e Mariano (Ary França) se fez padre. Num momento crítico, todos se veem ligados por futebol.
Villaça recebe por “elogio imenso” uma possível comparação com o cinema de Domingos Oliveira. “Na verdade, eles são todos nós. Tenho um pouquinho de cada um dos três personagens. Prezei notar como foi, de fato, a ação do tempo na vida deles. Num primeiro momento, eles não falam nada, se escondem e, depois que um deles se expõe, de verdade, de coração, os outros dois começam a se expor. No fundo, no fundo, estamos todos na mesma, e precisamos andar de braços dados”, avalia.
Entrevista // Luiz Villaça
Qual a sensação com o filme?
A gente tem um filme que dialoga muito com o público. Fala de passado, mas ele fala de um presente muito necessário, tratando de relações ainda mais no pós-pandemia e num Brasil tão dividido. Vivemos um momento de querer se olhar, de ligarmos para um amigo, de contar com o olho no olho e de se abraçar, se relacionar e de nutrir boas amizades. O filme fala da nossa relação com a fé, de homofobia e fala de vender o almoço para comprar o jantar, das dificuldades econômicas. Fala do idealismo que a gente traz na vida e o que nos tornamos numa certa idade.
Em que apostou no novo filme, e que tipo de cinema te interessa?
É o tipo de comédia que eu amo: você se percebe sorrindo, suave e que explora o cotidiano, e, num determinado momento, você se vê com uma lágrima escorrendo. É um filme que rende um bom bate-papo, depois. Minha expectativa é grande de que o filme comunique: emociona, diverte e te faz pensar. Essa é a minha busca em relação ao cinema. Acredito muito no cinema como um impulso da vida. Adoro quando você vai ao cinema e sai com mais vontade de viver, de fazer acontecer alguma coisa. Cinema,além de de mostrar a realidade, nua e crua, pode ser impulsionador de mudança. Te fazer tocar a vida para frente. Gosto do cinema que tenha cotidiano, que mostre que a vida está nos detalhes.
É fácil conduzir Tony Ramos, uma figura tão idolatrada pelo público?
O Tony encontrei, pela primeira vez, em A mulher do prefeito; naquela série, me apaixonei por ele como amigo que eu ganhei na vida e como profissional. Desde o início do longa, a gente escreveu o argumento para desenvolver, já pensando nele. Ele te oferece uma ampla gama de caminhos e te surpreende, o tempo inteiro. Ele é um cara incrível. No dia a dia, nas filmagens, ele é uma presença absurdamente boa para todos da equipe. Nos 10 dias de ensaio, foi incrível, pois precisávamos que uma unidade fosse criada ejá parecia uma reunião de amigos. Ele é Tony Ramos, e não é por acaso: ele está incrível no papel.
Percebe que se aproximou, em certa medida, do humor de Domingos Oliveira?
Numa certa medida, o Domingos conversa com minha vida, porque eu acho ele um mestre. Eu tive uma enorme surpresa, quando fiz uma série para a GNT, 3 Teresas. O telefone tocou e era ele. Ele me ligou para falar da série e que gostaria muito que a gente desenvolvesse alguma coisa juntos, mas, infelizmente, não houve tempo.
O filme traz à tona um novo modelo de homem?
Com relação à masculinidade, vejo o filme com olhar bastante feminino, e do ponto de vista muito feminino. Tem esses caras, e com as presenças tão marcantes, dizem tudo. Há representatividade total. A Louise é uma preciosidade, no filme, não conseguia enxergar outra pessoa para fazer a Soninha, nessa participação especial. A Denise (Fraga) é caxias, estudiosa e gosta de trocar e de receber dados da direção. Ela devolve tudo com ideias muito importantes. Ela tem uma maturidade incrível: em cena, se coloca com sutileza e delicadeza. Denise diz tudo, numa outra presença feminina marcante. A história é muito mais importante, e o futebol está no plano de fundo. O futebol como uma metáfora da vida. Gosto bastante de futebol, sou palmeirense, mas não sou fanático de ficar em roda de futebol. Mas o futebol é importante para nossa cultura, agindo como metáfora da vida e das discussões sociais que até alimentamos por meio do futebol.
Notas cortantes para um coração em frangalhos
Números musicais, letras de composições e flertes, além de muitas complicações sentimentais se multiplicam no filme Meu álbum de amores, de Rafael Gomes, que entra em cartaz a partir de hoje. Roteirista selecionado ainda para o desenvolvimento de 45 do segundo tempo (outra estreia desta quinta-feira), Rafael Gomes engata mais uma parceria com Luiz Villaça, numa estrada de uma década que já rendeu séries de tevê, peça de teatro e dois longas (o atual e De onde eu te vejo). “Acho que ele e eu nos encontramos no humanismo, no gosto pela comédia humana e no apreço pela honestidade emocional das personagens, seja em circunstâncias mais cômicas, seja em outras mais dramáticas — ou, até mesmo, como síntese, na tragicomédia que é a vida”, comenta, em entrevista ao Correio.
Assim como nos dois filmes anteriores que conduziu, 45 dias sem você e Música para morrer de amor, Rafael Gomes foca em sentimentos instáveis, no filme Meu álbum de amores; agora, dedicados ao personagem de um dentista com dor de cotovelo, e que vive amores registrados em músicas originais da dupla Arnaldo Antunes e Odair José (dono do eterno hit Eu vou tirar você desse lugar). Ao lado da mãe Maria Helena (Maria Luisa Mendonça) e do recém-descoberto irmão Felipe (Felipe Frazão), Júlio (Gabriel Leone, em papel duplo, e que ainda vive Odilon Ricardo) reacenderá amores ao som de O amor da minha vida, O sofrimento ensina e Museu das relações perdidas. A recusa da expressão “abandono” fala alto nos personagens do filme, que dá voltas nas condições de solidões e tristezas. Contradições, superação e até psicodrama entram em cena, no filme que conta com participações de atrizes como Laila Garin, Regina Braga e Clarisse Abujamra.
Três perguntas // Rafael Gomes
O que vem com maior carga, nas tuas criações: a música ou o amor?
Vêm juntos. Porque meu interesse nas canções é o sentimento que as canções carregam e transbordam. Especialmente nos filmes, a música surge dentro do universo do cancioneiro romântico, da sentimentalidade exacerbada, do derramamento. Então é uma espécie de círculo virtuoso: o sentimento me interessa embalado em sua forma estética (de canção) e a canção me interessa, para além de sua textura estética, por causa do sentimento (amoroso) que carrega. E, acima de tudo, acho que há essa sensação compartilhada de que as histórias de amor, em nossas vidas, são histórias cheias de trilha sonora. De certa forma, é essa percepção sobre a qual os filmes trabalham, essencialmente.
Reavivar Odair José te traz que gosto? Por que o interesse por ele?
Eu não diria que este filme reaviva Odair porque eu acho que é quase o contrário, ou seja, ele que injeta vida e alma nessa obra. Porque Odair está vivíssimo, com álbum de inéditas lançado recentemente, agenda de shows cheia. Mas entendo que, sim, há uma geração, ou mais de uma, que talvez não o conheça, para quem ele não é o ídolo popular que foi nos anos 1970. Nesse sentido, apresentá-lo a quem eventualmente não o conheça me dá um gosto de justiça histórica, de honrar nossos mestres, de lembrar de onde as coisas vêm e que caminho elas percorrem — essa noção de que uma música, de certa forma, contém toda a história da música dentro de si. Assim como uma pessoa contém a história de inúmeros antepassados inscrita em seus genes. A música de Odair sempre me interessou, assim como toda a música dessa geração que, como ele, foi tachada de“brega”. Acho que é um cancioneiro que conta a história de quem somos, como nação, tanto quanto a MPB, o samba ou outros gêneros mais “nobres”.
Há carência de roteiristas eficientes no Brasil?
Sobre essa afirmação de que o Brasil ainda carece de bons roteiristas, eu não acho que seja mais verdade. Há muitos profissionais extremamente competentes e talentosos no mercado. E é óbvio que sempre há espaço para melhorarmos, mas o que eu acho de verdade é que precisamos de melhores leitores de roteiro. Não basta a gente formar roteiristas se as pessoas que discutem e aprovam os roteiros (nos canais de televisão e streaming, por exemplo) não estiverem também elas muito capacitadas e preparadas. Da mesma forma, um bom roteiro pode ser facilmente desvirtuado por uma visão conflitante de um diretor ou diretora, fazendo parecer, a posteriori, que o roteiro é que não era bom. Enfim, ao falar sobre qualidade artística, estaremos sempre no terreno da subjetividade, mas acredito com veemência que o audiovisual brasileiro, hoje, tem uma base muito bem estruturada, em termos de autores e autoras. Mas precisamos, sim, nos fortalecer como cadeia de produção e pensar como esses roteiros são lidos, tratados e produzidos.
Outras estreias
Luta pela liberdade
De Zhang Yimou. Com Zhang Yi e Liu Haocun.
Nos anos de 1930, quatro agentes especiais deixam a União Soviética, com ideais comunistas, rumo à China. Filme selecionado pela China para uma vaga na seleção do melhor filme estrangeiro pelos integrantes da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas
que vota o Oscar.
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De Roberto Marquez. Com Eriberto Leão, Maria Flor e Luana Piovani.
Com origens na exploração da Boca do Lixo, a trama explora um escritor que almeja a literatura, mas se encontra em crise criativa. Inspirado em um diário que encontra ao acaso, ele passa a escrever, mas com consequências inimagináveis.
Dragon Ball Super: Super hero
De Tetsuro Kodama.
O longa explora animê em que o Novo Exército Red Ribbon está em formação, com direito a muitos androides letais.
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