Papéis artesanais, madeiras abandonadas, pregos e ferragens enferrujadas, conchas, lixas de parede usadas, lamparinas, filtros velhos de café, a paleta de materiais utilizados por Bené Fonteles é vasta, mas as obras são sempre perpassadas por um elemento comum: o tempo. Essa combinação é o ponto central dos trabalhos apresentados em Poéticas da impermanência, em cartaz a partir deste sábado (13/8) na Karla Osório Galeria.
Boa parte das obras foi concebida graças a uma velha jaqueira derrubada por um raio na chácara do artista na Serra da Mantiqueira. “Encontrei essa jaqueira e comecei a fazer esculturas grandes de três, quatro metros”, conta. Sobre a madeira, Bené colocou papéis artesanais colecionados durante anos, ferros, pregos de portas coloniais, conchas e outros materiais. “São matérias desgastadas, tudo é sempre a ação do tempo sobre as coisas, só a jaqueira são mais de 100 anos. Tem muitos fragmentos de coisas da natureza, de coisas industrializadas que o tempo levou anos para fazer”, avisa.
No chão da galeria, uma série de trabalhos feitos com lixas utilizadas em pintura de parede associadas às madeiras, pregadas com tachinhas de sapateiro e conchas formam um desenho particular. “Quando isso fica no chão, cria uma geografia das lixas com o solo e essas conchas marinhas fazem um contraste”, explica Bené. Na galeria menor, ele dispôs uma série de trabalhos nos quais os materiais estão soltos, prensados entre a moldura e o vidro. Um resquício da pandemia aparece ali, com máscaras brancas misturadas a pigmentos azuis e dourados. “Os pigmentos vão contaminando as máscaras igual o vírus”, compara o artista.
Uma série de ninhos feitos em algodão e com pavios de lamparina, lanterninhas e cheiros do Pará aparecem ao lado dos Bichos inúteis, uma alusão aos múltiplos de plástico dos bichos de Lygia Clark. “Essa série nova está em cima do tempo, trabalho e fé”, diz o artista. “O Drummond dizia 'o tempo é minha matéria´. O tempo é minha história, o tempo é tudo em toda obra de qualquer artista, não tem jeito, é o tempo da história acontecer. E, para mim, é importante porque a chuva, o vento, o sol, tudo tem um trabalho que dá textura, forma e cor ao meu trabalho.”
Também na Karla Osório Galeria, José Ivacy inaugura neste sábado (13/8) a exposição Arqueologia da matéria, composta por uma série de obras desenvolvidas a partir de 2020 com madeira, cimento e terra. Um conjunto de 50 esculturas e objetos evocam as próprias origens do artista, mineiro radicado em Brasília desde criança. “É um pouco da cultura da minha família, dos meus avós, pessoas que trabalhavam muito com artesania em madeira em fazendas em Minas. Sempre tive interesse em confeccionar objetos a partir de materiais naturais, recolhidos”, explica Ivacy.
Movido pelos materiais, ele faz da coleta uma parte importante do trabalho. "Às vezes vejo algo que me interessa, reaproveito madeiras de móveis antigos, coleciono peças que interessam e, a partir delas, desenvolvo geometria, volume, texturas. Me interesso por essas coisas: a linha , a forma, o volume, o espaço, a tridimensionalidade”, diz.
Serviço
Poéticas da impermanência
De Bené Fonteles
Arqueologia da matéria
De José Ivacy
Abertura neste sábado (13/8), às 10h, na Karla Osório Galeria (SMDB, Conjunto 1, Lote 1B). Visitação
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