Adriana Lodi começou a conceber o espetáculo Senhora P em 2019 quando convidou um grupo de amigos e parceiros para dar início a um processo de investigação sobre a violência contra a mulher. A ideia era elencar temáticas e memórias importantes para construir uma narrativa a várias mãos. Veio a pandemia, o grupo tentou adentrar o universo do teatro on-line mas a presencialidade fez falta e o trabalho ficou um pouco suspenso. Em 2021, com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o projeto foi retomado e peça chega agora ao Teatro Sesc Garagem. Senhora P tem apresentações marcadas até domingo e leva para o palco um monólogo encenado por Adriana Lodi.
Com a ajuda de Fernando Villar, cabeça importante no desenho final da dramaturgia do espetáculo, a atriz construiu uma narrativa estruturada em três pilares. Em cena, uma professora reflete sobre o lugar da educação, do afeto e da própria figura do mestre a partir da perspectiva em sala de aula, da intimidade e do questionamento público. “A narrativa vai se desenhando a partir desses três lugares: a sala de aula, o espaço da intimidade, com depoimentos, e o interrogatório, que é o espaço político”, explica Adriana. “Senhora P é uma professora. A educação vem sofrendo com uma tentativa de criminalização dos professores, do que é dado, como se diz, o que se diz, como se a educação pudesse se abster do professor. E quando você está em sala de aula, muitas coisas acontecem, o sujeito é complexo. Ser professora não é só passar um conteúdo, é atuar na formação integral do sujeito. Então a peça parte do princípio de que a educação é uma educação do afeto.”
A atriz buscou na própria experiência parte do material para a dramaturgia. Adriana dá aulas de teatro há 14 anos e atua na formação de atores. A escrita pessoal e autobiográfica sempre funcionou como um instrumento de trabalho. Quando entrou para o doutorado, em 2019, ela quis aprofundar essa pedagogia a partir da crítica feminista. “Queria acionar esses lugares das escritas pessoais que são muito potentes”, conta. O processo consistia em ficcionalizar as escritas pessoais para dar conta do que era doloroso e, muitas vezes, inacessível no mundo real. “É muito impactante, a gente sai da autobiografia e parte para a ficção, que é engrandecedora”, garante a atriz.
Durante a pesquisa, ela teve contato com o trabalho de Valesca Zanello, professora e pesquisadora de saúde mental e gênero na Universidade de Brasília (UnB). “Ela trouxe reflexões e questionamentos muito interessantes, e uma parte dos conceitos que ela traz são abordados na peça. Ela fala sobre a subjetividade feminina construída a partir do olhar do masculino”, avisa Adriana.
Serviço
Senhora P
Com Adriana Lodi. Hoje e amanhã, às 20h, e domingo, às 19h, e de 18 a 21 de agosto, no Teatro Sesc Garagem (913 Sul). Ingressos: R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 16 anos.
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