Na comédia O palestrante, a fictícia empresa Trino comandada pela personagem de Dani Calabresa, passa do projeto contestado da utilidade de uma tomada com três pinos à tentativa de acertar em cheio, contratando um coach motivacional. "Acho super que o humor é motivacional. A gente precisa rir das coisas que acontecem com a gente, no cotidiano. Então, quando vemos algum comediante contando perrengue de forma engraçada, a gente se identifica; você para e pensa: 'Tá vendo?! Eu também passo por isso'", pontua Dani Calabresa, em entrevista ao Correio.
Muita coisa se passa no dia a dia de um funcionário da empresa contratada por Denise (Calabresa): na base da boçalidade, o chefe Roberto (Ernani Moraes) exerce o carpe diem, bebendo uísque às 10 horas da manhã e Neide (Debora Lamm) espera a versão tequileira do colega Guilherme (Fábio Porchat). Mas, o pior de tudo é que Guilherme, sem pestanejar, aceita viver um cotidiano de impostor: ele se diz Marcelo, o palestrante acionado por Denise, isso sem jamais sê-lo.
A comédia dirigida por Marcelo Antunez, calcada num roteiro que explora frustrações profissionais, escrito por Porchat e Claudia Jouvin, embute uso de power point, trata de dinâmica de grupo e investe em algo que move as risadas, na vida real, do criador Porchat: "O que me faz rir é gente tomando susto. Não há nada mais divertido no mundo", entrega. Atual, O palestrante ainda faz graça do "resgate de bichinhos na Cracolândia" protagonizado por Luísa Mell e traz citações ao guru Kleber Bambam, por meio do troglodita personagem Josué (Antônio Tabet).
Enfurnada num hotel de Itaipava (Rio de Janeiro), a galeria de funcionários experimenta emoções singulares de prometidas sessões de hidrolambada; trocam figurinhas sobre "protoctologista holístico"; se esforçam por "viver, antes de morrer" e celebram referências musicais que vão de Ragatanga a Xitãozinho & Chororó, passando pela "obra completa do Dominó". No elenco do filme que, a todo momento enfatiza a existência e os pilares da felicidade (com temas como aceitação e carisma), estão Evandro Mesquita, Paulo Vieira, Rodrigo Pandolfo e Maria Clara Gueiros.
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Entrevista // Fábio Porchat & Dani Calabresa
Qual o teu tipo de happy hour?
Porchat — Meu happy hour ideal é sair viajando pelo mundo. O meu carpe diem é quando eu consigo três dias de folga, aqui na minha rotina e vou me embora para o Chile ou vou para Etiópia. É um pouco esse meu carpe diem. Eu acho que a felicidade acaba podendo ser uma aquisição, sim. No sentido de você perceber que felicidade também é como você usa o seu tempo. o tempo vale dinheiro — o tempo pode ser comprado e adquirido, e, no fim das contas, tudo é sobre o que você está fazendo com a sua vida, né?
Num elenco com Calabresa, Tabet e Otávio Muller, quem arranca mais risos, nos bastidores? Vocês acham a Luísa Mell, zoada no filme, bastante risível?
Porchat — Olha, eu rio muito do Tabet e da Dani, mas, para mim, Otávio Muller é um gênio. Ele é hilário, ele é escroto na medida certa, ele improvisa: vai do humor mais pastelão ao drama de Tchékhov, em um segundo. Não acho que Luisa Mell seja risível — ela tem um trabalho excelente. Acho que a Luisa Mell é uma pessoa necessária. Quem dera mais pessoas pudessem lutar pelas causas dos animais como a Luisa faz. Claro que, no filme, a gente brinca com ela, como brincamos com todo mundo — inclusive com ela —, mas eu a acho fundamental.
Como lida com a impressão de que seja um coach do riso para um povo, por hora, muito sofrido?
Porchat — Fazer rir tem sido esse momento mais importante para a gente. Fazer isso, né, no ano tão difícil com eleições, um ano tão duro, meio pós-pandemia, mas ainda na pandemia. Não é que eu seja um coach, não, mas eu acho que eu fazendo o que eu sei fazer de melhor: posso fazer com as pessoas esqueçam dos problemas um pouquinho.
Humor às vezes traz certa dose de autoajuda?
Dani Calabresa — Acho que todo mundo passa por perrengue. Sabe, ninguém vive só de momentos bons tranquilos e felizes, mas eu acho que faz bem ter humor. Faz bem a gente fazer o exercício de olhar para vários momentos da nossa vida com o humor. Às vezes, o perrengue de hoje pode ser uma história engraçada amanhã ou, daqui um ano, depois da terapia.
Como você recria a sua imagem?
Dani Calabresa — Olha, eu nunca me preocupei muito assim em construir uma imagem. Eu faço o que o que eu sinto que é certo. O que me empolga, o que eu, e tudo que eu me proponho a fazer, faço com carinho, com dedicação e de uma forma espontânea. Eu gosto de imprimir a minha personalidade. Eu não mudo de roupa para, sei lá, parecer ser de um jeito.
E de que é feita a tua expressão, então?
Dani Calabresa — Eu gosto da roupa em que me sinta bem — eu gosto de usar maquiagem que me deixe bem. Então, eu aposto na minha imagem que é a imagem que, na verdade, combina mais 100% — assim, mais ao máximo possível com a minha personalidade. Eu não moldo nada, não planejo nada: eu sou assim o que eu sou. claro, eu tomo banho, escovo os dentes — essa é uma preocupaçãozinha, vai... Mas, de resto...
Carisma é uma coisa que possa ser construído?
Dani Calabresa — Acho que não. Acho que a gente simplesmente tem, sabe? É óbvio que ninguém vai agradar todo mundo. Ninguém é uma unanimidade. Mas eu acho que a maioria das pessoas — por exemplo, Ivete Sangalo! Vamos lá, amor, acho que o Brasil todo praticamente todo ama a Ivete. Ela é carismática, além dela cantar muito bem. Ela tem uma luz e isso é uma coisa da pessoa, né? Não é uma questão de trabalhar a imagem. Eu acho que carisma é a essência da pessoa junto com a arte dela. Será que essa é a boa resposta? (risos). Difícil, isso...
Um mini-Picasso, como vocês observam no filme, pode ser uma obra de arte?
Dani Calabresa — Eu acho que sim. Ah, amor!... Numa mini-parede! Eu acho tem todos os formatos, todos os tamanhos, todos os tipos de gosto... Amor dá para encaixar isso aí (risos): alguém vai achar uma obra de arte o Picasso de alguém.
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