Com um chapéu à la ursinho Paddington (o personagem peruano que, numa animação, busca por um lar em Londres), o tipo vivido por Brad Pitt em Trem-bala circula por Tóquio, com a pretensão de adquirir calma e emanar paz. Mas, dentro do que ele chama de "azar épico", com o qual convive, Joaninha (o codinome do personagem de Pitt) terá pela frente mais uma missão que o impulsiona para o mau caminho. Sem demora, Joaninha se verá dentro de um trem que abriga enredo assemelhado ao de Assassinato no Expresso do Oriente, com direito a diferencial: poucos dos passageiros poderiam ser considerados inocentes.
No novo filme de David Leitch — lembrado pela truculência gráfica dos anteriores Atômica (2017) e Deadpool 2 (2018) — há compulsão por jatos de sangue, doses de vômito, violência e agressão. A referência inicial a Os embalos de sábado à noite é genial. Com poucas paradas pela frente, o trem-bala do título entra nos trilhos, ainda que de modo caótico, no longa que tem a assinatura de Zak Olkewicz (do terror Rua do medo: 1978). Morte Branca é o nome de um personagem que parece fazer parte do histórico de muitos outros que desfilarão no enredo. O destino do trem final parece ser Kyoto, mas será que todos chegarão?
Perigosos como qualquer integrante da Yakuza, e dentro de uma corrida atrás de maleta repleta de dólares, o círculo se apresenta: Príncipe (Joey King, a garota de A barraca do beijo) tenta passar despercebida; enquanto Tangerina (Aaron Taylor-Johnson) e Limão (Brian Tyree Henry) são comparsas inseparáveis, e Kimura (Andrew Koji), que está com o jovem filho internado em hospital, confirma a dependência e a aprovação do pai (Hiroyuki Sanada). No filme que adapta a literatura de Kôtorô Isaka, ainda há espaço para personagens sul-americanos como O Lobo (Bad Bunny), que traz rastro de sangue.
Um evento com morte coletiva é anunciado no filme que, além das participações de Channing Tatum, Zazie Beetz, Michael Shannon e Sandra Bullock, traz a presença de uma cobra de veneno mortal. Em certa medida, o novo filme se vale de emblemática persona criada por Brad Pitt nos cinemas, que, no passado esteve a serviço do inglês Guy Ritchie (de Snatch: Porcos e diamantes, de 2002) e Era uma vez em... Hollywood (Quentin Tarantino, de 2019). Nas melhores tiradas, o personagem de Pitt, escolado em indicar terapeutas, confirma que "carma é uma merda" e tem o sangue frio de parar uma sangrenta trégua, para beber uns goles de água.
Com incômodos excessos de esperteza e aborrecedora insistência em gracejos, a personagem Príncipe (Joey King) — desinteressada em ser esposa ou mesmo mãe de alguém, como ela reforça — é mais uma a insistir no mote da paternidade presente no filme. Com apelativas cenas de humor descabido e afetado, como na hora em que Tangerina e Limão recapitulam o empilhado de mortes que carregam na profissão de mercenários, Trem-bala ganha terreno e conquista, pela velocidade nas reviravoltas, em planos e estratégias. Em meio a tanta vingança e malícia, é curiosa a estratégia do personagem Limão, que, dentro do tal trem-bala, faz constantes relações entre a realidade dele e o famoso desenho animado de emotivas locomotivas Thomas e seus Amigos.
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