Com a 20ª edição marcada para ocorrer entre 23 e 27 de novembro, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) retoma os encontros presenciais depois de duas edições on-line e conta com um coletivo de curadores para selecionar os nomes dos convidados. Fernanda Bastos, Milena Britto e Pedro Meira Monteiro têm origens diferentes e campos de pesquisa diversos, uma combinação que pode alimentar uma mescla de temas e autores interessantes. O nome da primeira convidada foi divulgado esta semana. Saidiya Hartman, professora da Universidade de Columbia, em Nova York, e pesquisadora da escravidão nos Estados Unidos, estará na festa.
Professora da Universidade Federal da Bahia, Milena Britto tem como áreas de pesquisa temas como gênero e estratégias de legitimação no campo literário. Para a 20ª edição da Flip, ela propõe uma literatura expandida, para além do livro físico e com trânsito em outras plataformas e artes. “Quando falamos em Flip, ainda estamos apegados ao livro, aos gêneros literários mais acessados, que também vão estar na festa, porque fazem parte de nossa expressão, mas a gente pretende dividir a conversa tanto com outras linguagens como com outras plataformas”, avisa.
Para ela, o momento pede que se pense na posição política do corpo feminino, uma pauta presente no mundo inteiro. “A gente tem uma cultura recente de tentativa de equilíbrio de gêneros” explica. Há 10 anos, eventos de literatura cujas listas de convidados incluíssem apenas homens não causavam tanto espanto. Hoje, os questionamentos vão além da presença de mulheres entre os convidados. “A gente também está pensando de uma forma muito particular que é como essas questões se refletem em uma comunicação estética, porque não existe uma única forma de ser mulher no mundo. Queremos trazer essa reflexão que não apresenta só um modelo estético, mas que problematize. Gênero e raça são fazem parte de todo o mundo, da existência.”
Fundadora da editora Figura de Linguagem, apresentadora da TVE do Rio Grande o Sul e do podcast Onda Negra, na plataforma Feminismos Plurais, Fernanda Bastos acredita no coletivo de curadores como uma forma de enriquecer a Flip. “Ter curadores de diferentes localidades e com trajetórias distintas, a gente vem de lugares diferentes com trajetórias diferentes, vai ser muito rico trazer a bibliodiversidade. Vamos tentar dar conta da pluralidade de vozes e presenças em Paraty”, avisa. “Vivemos num país imenso e temos debatido isso, tentando tirar a centralidade de um próprio olhar do Brasil sobre si mesmo. Acho que esse coletivo produz uma reflexividade bacana para toda essa discussão que vem sendo feita sobre o que imagem o Brasil quer passar de si.”
Ela brinca que não quer alimentar expectativas quanto aos nomes dos autores convidados e que isso ainda está sendo decidido com calma. “A gente sabe que é um evento que o meio inteiro quer participar, um evento único na trajetória de escritores e escritoras. E certamente há uma sensibilidade e um interesse nosso de que a gente possa ter essas presenças de várias minorias, ou grupos de oprimidos, que sejam presenças mais naturalizadas”, adianta. “Nossa ideia é ter essa pluralidade. É algo que a gente vai trazer naturalmente.”
Para Pedro Meira Monteiro, estruturar a programação da Flip funciona como montar um verdadeiro quebra-cabeça. Professor da Universidade de Princeton (Estados Unidos), e um dos fundadores do LAB, departamento de estudos luso-afro-brasileiros, ele já havia participado da curadoria da edição anterior. “Gosto muito da metáfora do radar, acho que são radares muito diferentes os nossos, e, ao mesmo tempo, muito convergentes no que mais interessa, que são os valores, a diversidade, a biodiversidade, a questão que o mundo da literatura e da produção vai muito além do eixo Rio-São Paulo, além das grandes editoras”, explica. “A gente está tentando trazer isso para a Flip. Acho que vai sair uma programação muito potente e interessante em função de nossa variedade dentro do coletivo.”