Crítica

Confira a crítica do terror 'O telefone preto'

Violento e teatral na estrutura, filme tem teor sádico e pouca empolgação

Quase 50 anos passados desde a exibição de O massacre da serra elétrica, e o clássico não deixa de ser reverenciado — mesmo que na ficção, por personagens de O telefone preto. Situado em fins dos anos de 1970, o novo filme assinado por Scott Derrickson (que, em 2005, brilhou com O Exorcismo de Emily Rose, e em 2016 dirigiu Doutor Estranho) explora inicialmente a tensão familiar disposta entre os jovens Finney Shaw (Mason Thames) e Gwen (Madeleine McGraw), entregues ao dia a dia junto ao pai perturbado, Terrence (Jeremy Davies, sempre lembrado como o tradutor de O resgate do soldado Ryan).

Mas, o livro de Joe Hill que inspirou o roteiro assinado pelo diretor e ainda por C. Robert Cargill (A entidade) quer mesmo é chegar à perturbadora figura do mascarado personagem de Ethan Hawke, que, motorista de obscura van, ainda se agarra a um punhado de balões pretos (se alguém lembrou da franquia It, vale destacar que James Ransone, que tomou parte de Capítulo 2, em O telefone preto vive Max...) Um dos problemas no filme é a abertura de várias frentes de suspense que investem em violências físicas e psicológicas, sem dispensar aspectos sobrenaturais. Criado no âmbito da produtora Blumhouse, o filme dá a impressão de tirar uma lasquinha de cada filme anterior que levou a marca, entre os quais Chamas da vingança, Fragmentado, Ourija e Atividade paranormal.

O sequenciado desaparecimento de jovens de Denver, em que é situada a história, ronda a casa de Finney, que vivencia problemas de bullying e presença a irmã espancada, por ela insistir na crença de presságios e em comunicações sobrenaturais. Na vizinhança, some o menino que se destaca nos esportes; o outro, que é entregador de jornal e também o mexicano Robin (Miguel Cazares Mora, em boa participação), esse, preocupado no crescimento de Finney, incapaz de se defender sozinho. Enquanto passa a escutar os sonhos, Gwen lida com o desespero de ver Finney sumir, sem deixar rastros. Dispensando demora, o roteiro do filme passa a se assemelhar a um jogo — mais precisamente, um escape room: tem cadeado, tem armadilha, fugas e castigos.

Depois de abandonar a linha quanto mais sangue, melhor; a maior força gráfica é deixada para a cena da machadada e a do menino comendo tal qual um animal, O telefone preto tem escancarado o defeito de não vir embasado por sentido. Mascarado, morgado e nada altivo, o personagem de Ethan Hawke, progressivamente, se assemelha a um minotauro. De resto, embalado em capítulos — em que jovens mortos-vivos municiam o protagonista para uma fuga do porão (num embalo de terror psicológico), O telefone preto é bem raso.