Morreu, na manhã desta quarta-feira (20/7), aos 59 anos, o luthier Achiles Soares, em decorrência de um infarto do miocárdio. Soares teria sofrido uma parada cardíaca dois dias antes, sucumbindo pela indisponibilidade de leitos em uma UPA em Brasília.
Nascido no Maranhão em 1963, mudou-se para a capital muito jovem. Durante os longos anos de carreira, Achiles conheceu diversos professores e artistas da cena musical brasileira e internacional. O velório será realizado nesta quinta-feira (21/7), das 14h30 às 16h30, e o sepultamento será às 17h, na capela nº5 do Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul.
Carreira
Luthier é o profissional que trabalha com a construção, manutenção e afinação de instrumentos musicais de corda, sopro e percussão. Portanto, o luthier deve conhecer bem os instrumentos e as necessidades específicas de cada um, bem como apresentar conhecimento básico sobre tons musicais. Durante boa parte da vida, Achiles Soares atuou em sua loja e ateliê Achiles Guitar Network, hoje localizada no Guará II.
O local estava sempre repleto de clientes ilustres e artistas renomados do Brasil todo, sem contar que Soares também costumava receber ligações de outros profissionais de vários países. A influência do luthier o consagrou como referência nacional e internacional na profissão.
Aos 15 anos, Achiles fez um curso de marcenaria, no qual fabricou um contrabaixo totalmente do zero e sem experiência prévia. Nesse momento, começou a descobrir o dom de artista. Pouco depois, participou de um concurso de escultura. Novamente, não apresentava conhecimento na área e estabelecia contato com a técnica pela primeira vez, o que não o impediu de conquistar o primeiro lugar na competição. Na busca de aperfeiçoar os estudos, Achiles teve a oportunidade de estudar em uma faculdade na Inglaterra quando jovem.
Influência
Além de fabricar e adaptar instrumentos de acordo com a necessidade dos clientes, Achiles Soares também tinha o dom da mentoria. Em entrevista ao Correio, Rafael de Araújo Silva contou sobre as experiências e conhecimentos que herdou de seu mestre. “Achiles chamava atenção pelo amor que tinha pelos instrumentos. Ele sempre os fazia com muito afinco, amor e sabedoria”, afirmou Rafael. “Até hoje vivo e respiro seus ensinamentos, que eram bem vastos. Minha experiência com ele foi muito intensa.”
Aos 37 anos, Rafael Silva também exerce a profissão da luteria e administra a própria loja no Núcleo Bandeirante, a Rafa Luthier. Hoje, acumula 12 anos de trabalho na área e carrega grande estima pela maestria com a qual seu mentor conduzia as tarefas e os possíveis desafios. Segundo ele, uma façanha admirável que Achiles Soares conquistou foi quebrar um tabu inerente à profissão: a de que um luthier que não sabe tocar um instrumento não recebe a devida credibilidade.
Por mais que Soares tivesse o conhecimento musical básico para testar e afinar os instrumentos, não tinha o costume de tocá-los. Mesmo assim, foi um profissional de alta credibilidade e referência. “Quando comecei a trabalhar com ele, não fazia ideia do prestígio que ele tinha. Achiles recebia telefonemas de outras pessoas do mundo todo para trocar conhecimento. Ele era reservado mas carismático e tinha um coração enorme”, conclui Rafael.
*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel