Lisboa, Portugal — Nelson Motta, 77 anos, passou os últimos meses em terras portuguesas — ele tem um amplo apartamento no charmoso bairro de Príncipe Real, em Lisboa —, mas já está de volta ao Brasil para resolver uma série de assuntos pessoais. Chega ao país no que ele chama de o período mais estúpido da história, devido à polarização “estimulada, primeiro, pelo ex-presidente Lula, do nós contra eles, e intensificada, depois, pelo presidente Jair Bolsonaro, com o discurso do bem contra o mal”.
As eleições presidenciais de outubro, por sinal, são um dos poucos temas que tiram o sorriso fácil da cara do jornalista, escritor e compositor, que se intitula um liberal radical do tipo independente, um feministo.
Na opinião dele, não será uma boa opção para o Brasil escolher entre o ex-presidente Lula e Bolsonaro. “Eu queria que Lula e Bolsonaro se enfrentassem em um duelo e perdessem os dois”, diz. O ideal, acredita, seria ter o professor Fernando Haddad, que concorrerá ao governo de São Paulo, à frente da chapa presidencial do PT.
“O PT tem Fernando Haddad, que é um dos maiores quadros políticos do país, talvez o melhor quadro político do partido. O professor Fernando Haddad é um homem muitas vezes mais qualificado do que Lula, sob todos os pontos de vista, ético, cultural, de gestão, de tudo. Não é demagogo, não é populista”, afirma. “Além disso, Lula tem um telhado de vidro que não tem mais jeito. Na verdade, o problema não é o Lula, é o PT, que continua 20 anos atrás, quer vingança, quer censurar a imprensa. Sabe o que vai acontecer: sairão os militares e entrarão os sindicalistas”, enfatiza.
Motta reconhece, porém, que a prioridade é tirar Jair Bolsonaro do poder. “Espero que esse idiota se exploda no espaço, e veremos isso em outubro”, ressalta. Contudo, não descarta a possibilidade de o atual presidente da República partir para um golpe caso seja derrotado, como forma de permanecer no poder.
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“Bolsonaro está com medo de ser preso, ele e os filhos bandidos dele”, emenda. O escritor ressalta, ainda, que o estrago feito por Bolsonaro na cultura brasileira foi monumental, e levará anos para que o setor se reconstrua. “Temos o pior governo da nossa história. Um governo que desmoralizou a educação, a civilidade. Um governo que odeia a cultura, que persegue a cultura, que está na lama mesmo. Mas eu tenho fé de que, em breve, vamos nos livrar deste pesadelo.”
Na visão de Motta, é alvissareiro ver artistas com a cantora Anitta engajadas na política. “Vibrei em relação a Anitta, de quem me orgulho muito de ser amigo. Anitta é muito inteligente, tem caráter, é uma verdadeira patriota. Não é esse vagabundo que está enrolado em bandeira brasileira. Tenho horror dessa gentalha. Deus me livre. Então, Anitta deu uma cacetada muito boa e vai dar muitas outras”, afirma. Ele também elogia o fato de a cantora ter enquadrado o PT, que passou a usar a imagem dela, como se apoiasse o partido. O apoio foi para Lula contra Bolsonaro. “Ela disse claramente: não sou lulista porra nenhuma. Disse que detesta o PT. Anitta é muito melhor que esses caras”, frisa.
A despeito de elogiar o posicionamento claro de Anitta, Nelson Motta diz que ninguém tem obrigação de nada. “As pessoas são livres para seguir a sua consciência”, assinala. Acrescenta, ainda, que a música de hoje já não mobiliza, sozinha, tanto as pessoas como no passado, em que o lançamento de um disco era um acontecimento nacional. “Não é que a música piorou, mas virou commodity, como soja e feijão. Tem gente muito boa, mas é mais difícil de encontrar”, explica. “O público mais infiel é o do sucesso do momento. Logo que consome aquele sucesso, quer outro, é insaciável”, emenda.
Incansável, o responsável pelo lançamento de alguns dos mais importantes artistas do país, como Marisa Monte, está em plena produção. Terminou um musical para o teatro sobre Tom Jobim, que deve estrear no fim do ano. “É uma obra grandiosa”, garante. Neste momento, finaliza uma série de documentários sobre Tim Maia. São três programas de uma hora, no qual só o cantor fala. “Ele vai contando a história dele. É um show de humor e de música. Estou animadíssimo. Vai estrear em 28 de setembro, quando Tim completaria 80 anos”, diz.
Não é só. “Tem ainda o livro de poesia que digo que está pronto, mas sempre estou mexendo. Chama-se Sexo oral. Não se assustem. Não são poemas eróticos, no máximo, afrodisíacos, talvez”, brinca. O título do livro, conta ele, é inspirado em um post da internet. “Trata-se de uma língua lambendo um cérebro humano e a mulher dizendo assim: não vou te dar nem um beijo na boca antes de dar uma trepada violenta com o seu cérebro. Falei, é o sexo oral, é comigo mesmo.” Veja, a seguir, trechos da entrevista de Nelson Motta concedida ao Correio.
Em recente passagem por Portugal, o cantor Ney Matogrosso disse que a cultura do Brasil está na lama. É isso mesmo?
Sim, o Brasil todo está na lama. Temos o pior governo da nossa história. Um governo que desmoralizou a educação, a civilidade. Um governo que odeia a cultura, que persegue a cultura, que está na lama mesmo. Mas eu tenho fé de que, em breve, vamos nos livrar deste pesadelo.
A cultura deixou de ser prioridade no Brasil?
A cultura é inimiga do Estado, segundo Bolsonaro. O Estado brasileiro, o governo brasileiro, é inimigo declarado da cultura e dos artistas.
O senhor acredita que é possível reverte o atual quadro de desastre na cultura?
Somente quando esse idiota explodir no espaço, que será em breve. Espero que, em outubro, não sobre nada dessa pessoa.
Como o senhor avalia o movimento político de artistas, em parte liderado por Anitta? Os artistas têm que se envolver com política?
Ninguém tem obrigação de nada. As pessoas são livres para seguir a sua consciência. Vibrei em relação a Anitta, de quem me orgulho muito de ser amigo. Anitta é muito inteligente, tem caráter, é uma verdadeira patriota. Não é esse vagabundo que está enrolado em bandeira brasileira. Tenho horror dessa gentalha. Deus me livre. Então, Anitta deu uma cacetada muito boa e vai dar muitas outras.
Mas ela também deu cacetadas no PT, certo?
Sim. Ela disse claramente: não sou lulista porra nenhuma. Disse que detesta o PT, proibiu petistas de usarem a imagem dela. Anitta é muito melhor que esses caras.
Hoje vemos um Brasil totalmente polarizado. Como avalia isso?
É a situação mais estúpida que já tivemos, provocada pelo PT de Lula, do nós contra eles, e finalizada por Bolsonaro pelo discurso do bem contra o mal. Eu queria que Lula e Bolsonaro se enfrentassem em um duelo e perdessem os dois.
Na sua avaliação, Lula não deveria ser o candidato do PT à Presidência neste momento?
Não deveria. O PT tem Fernando Haddad, que é um dos maiores quadros políticos do país, talvez o melhor quadro político do PT. O professor Fernando Haddad é um homem muitas vezes mais qualificado do que Lula, sob todos os pontos de vista ético, cultural, de gestão, de tudo. Não é demagogo, não é populista.
Além disso, Lula tem um telhado de vidro que não tem mais jeito. Na verdade, o problema não é o Lula, é o PT, que continua 20 anos atrás, quer vingança, quer censurar a imprensa. Sabe o que vai acontecer: sairão os militares e entrarão os sindicalistas.
O senhor acredita na possibilidade de golpe de Bolsonaro, caso ele não seja reeleito?
Acho que essa possibilidade existe, com consequências imprevisíveis, pode morrer muita gente. Mas Bolsonaro não está ligando para isso. Ele está com medo de ser preso, ele e os seus filhos bandidos.
O Brasil tem jeito?
Tem, sim, com certeza. Mas a melhora será para os meus netos.