O ator Marco Pigossi falou, em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta segunda-feira (11/7), sobre como leva a causa LGBTQIAP+ para o trabalho e sobre o processo desde que se descobriu homossexual.
Desde que assumiu publicamente o relacionamento homoafetivo com o diretor de cinema italiano Marco Calvani, em novembro de 2021, o ator vem se envolvendo cada vez mais com projetos da cauda LGBTQIAP+.
Um desses trabalhos destacado por Pigossi é o documentário Corpolítica, produzido pelo ator, com roteiro e direção de Pedro Henrique França. Selecionado para o Queer Lisboa — Festival Internacional de Cinema Queer, em setembro, o filme trata da candidatura de pessoas LGBT+ nas eleições municipais do Rio de Janeiro em 2020.
Além disso, Marco Pigossi começa a gravar em setembro o longa Best place in the world, sobre um jovem brasileiro que deixa a família evangélica rumo a Provincetown, famoso reduto LGBTQIA+ em Cape Cod, nos Estados Unidos.
O filme é o segundo em parceria com o namorado, diretor do longa. "O personagem era latino, mas virou brasileiro quando entrei no projeto. O Marco acompanhou meu processo de sair do armário e transformar isso numa questão política para abrir caminhos para jovens. Tenho necessidade de me expressar sobre o meu processo, sobre o que causou em mim, sobre o que pode causar nas pessoas. É uma maneira de eu me curar", conta o ator.
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Sobre as parcerias profissionais com o amado, Pigossi celebra não precisar mais dividir o trabalho da vida pessoal.
"A vida inteira meu trabalho e minha vida pessoal eram separados, tinha medo de que descobrissem... Pela primeira vez, esses mundos existiram juntos, e foi emocionante", relembra.
O ator abordou o processo que enfrentou desde que se descobriu gay, um caminho que teve que enfrentar sozinho por um bom tempo.
"Eu rezava, pedia a Deus para me consertar. A homofobia é tão enraizada que, por mais que a gente assuma, ainda vai lidar com o preconceito interno. Vesti a máscara heterossexual, sempre fui observado pela beleza. Fiz esse personagem hétero para me esconder, o que deixou minha vida mais confortável. E sou branco, privilegiado, classe média, filho de médicos. Imagina quem está na favela, é negro...", ponderou.
Pigossi falou sobre a liberdade ao assumir sua identidade sexual e como se sente acolhido pela comunidade.
"A pessoa que se aceita e está feliz com o que é conhece uma força enorme. Se sente com poder para ocupar espaços. E o encontro com a comunidade é uma corrente bonita, a gente se sente fortalecido, cria um senso comunitário. Porque, no fundo, o que a gente mais quer é pertencer. Como homossexual, sentia que não pertencia a nenhum grupo. Todos esses corpos passam por isso. E quando passam a pertencer... É do car***!".
Ele comentou também sobre o "papel" que criou para esconder a sexualidade. "Me desenvolvi tentando manter um corpo masculinizado. E acho que isso veio do trauma de não poder me assumir, foi uma maneira de me proteger. Mas, hoje, aquela sombra de 'não desliza' desapareceu", completou.