Segundo Zé Ibarra, o show da banda Bala Desejo nada tem a ver com o disco. Quer dizer. o show é o disco, mas é muito mais do que as 14 faixas de Sim, sim, sim. Lançado no início deste ano, o álbum veio coroar um sucesso que começou nas redes sociais, durante a pandemia, de maneira espontânea e ancorado no sólido background musical de Júlia Mestre, Dora Morelenbaum, Lucas Nunes e Zé Ibarra.
É esse show que a Bala Desejo mostra em Brasília, no dia 7 de agosto, durante o Festival CoMA. “O show é praticamente o disco, mas o show não tem nada a ver com o disco, é muito mais”, avisa Ibarra. Uma sensação de festa, de alegria, uma vibe de afeto e reunião são algumas das experiências que a banda quer levar ao público. “O Bala tem essa qualidade balística que é muito explosiva, não tem como fazer uma coisa meio morna. Tem várias sensações e não é performance, é real, é aquela coisa que leva a dançar, a dar beijo na boca”, diz Ibarra, que acaba de voltar de um mês de turnê na Europa. “O Bala é um acontecimento de explosão e a gente resolveu comprar isso.”
Júlia Mestre conta que a liga da banda é o amor, o respeito e admiração que os integrantes sentem uns pelos outros. A Bala Desejo não era uma banda até 2021, quando os quatro foram morar juntos durante a pandemia, em um apartamento dos pais de Júlia, em Copacabana. Ali havia estrutura para Ibarra terminar de gravar um disco da banda Dônica, que formou com Tom Veloso, filho de Caetano Veloso, e Lucas. Este último já namorava Dora, filha de Jacques e Paula Morelenbaum.
O quarteto se conhece desde o ensino fundamental e a música está presente desde a infância. Júlia é compositora e tem faixas gravadas pelos Gilsons, banda formada pelos filhos de Gilberto Gil. Lucas é o produtor do disco Meu côco, de Caetano, e Zé Ibarra esteve em turnê de Milton Nascimento e gravou com Gal Costa. “Acho que a gente se inspira muito um no outro. Zé, Lucas e Dora fazem faculdade de música e eu estudo artes cênicas. Acho que essa é a mistura que faz Bala Desejo ter essas sensações no palco. A gente se provoca muito”, garante Júlia.
Sim, sim, sim é um disco de MPB clássica, segundo Ibarra, mas também um lugar de experimentação, base da proposta da banda. Solar, com músicas como Baile de máscaras (Recarnaval) e versos como “Era de dia de folia/E a gente não se via/Era dia de maldade/E a gente na saudade/Sol queimando o chão da rua/Tão vestida quanto nua/No outro ano a gente não demora”, traz também uma mensagem de um mundo com menos medo e expectativas menos sombrias. “A gente quis fazer do Bala uma oferenda. E fazer um descolamento, que o disco pudesse servir como um curativo e desse conta de outras sensações, porque a gente está muito noiado, com muito medo, muita angústia. O disco é um souvenir do outro mundo, com a função de olhar pro mundo com outras esperanças”, diz Ibarra.
O quarteto começou a aparecer em lives durante a pandemia. Sozinhos, em dupla, todos juntos ou nas lives de Teresa Cristina, a química foi crescendo. “As lives foram momentos de cura, de poder desaguar. A gente começou a ver que não era só pra gente, mas para as pessoas também. E também para o coletivo, porque o Bala Desejo aconteceu de fora pra dentro. Quando a gente aparecia junto, tinha um retorno muito maior do que sozinho”, conta Júlia.
A pegada anos 1970 da banda e das músicas de Sim, sim, sim tem uma razão de ser. No palco, os figurinos e atitudes vêm com ares de Mutantes e Secos e Molhados. Na sonoridade, as referências são as mesmas. Essa identificação, segundo Ibarra, vem de alguns aspectos, como o fato de terem gravado juntos e composto juntos, primeiro no apartamento de Copacabana, depois em um sítio próximo ao Rio. “A gente se apropria de uma estética clássica, de MPB clássica mesmo. A invenção não foi aí, foi em outro lugar, foi nas composições e dentro do período histórico atual. Mas a estética é de MPB clássica, todo mundo tocando ao vivo. E foi muito bom porque, saindo da pandemia, a gente queria esse contato, essa ideia de gente, transando, beijando, Foi uma loucura boa pra caralho”, conta o músico, que ficou surpreso com a repercussão. “Foi bem inesperada, a gente gostava muito do disco, a ponto de achar que faria sentido para os outros, mas foi inesperado. É um álbum da maneira que a gente queria fazer mesmo, do arranjo, do acorde, é um álbum completamente autoral. Dizer que um álbum como esse rolou é realização pura.”
Para Júlia, a experiência foi transformadora. “O disco mudou a gente. Éramos outras pessoas, não só o próprio quarteto, mas também quem estava vivendo a experiência. O Bala Desejo é uma grande família em erupção e a gente sente que talvez seja isso que acontece no palco”, diz. Um vulcão que, segundo Ibarra, não é uma banda e sim uma "união do agora”.
Ao longo do mês, o Correio fará, nos meios on-line e impresso, um passeio entre as atrações do Festival CoMA, traçando um retrato dos artistas e a relação com Brasília e o evento. Entrevistas com Remobília, Vitor Ramil, Braza, ÀTTØØXXÁ, Urias e Rico Dalasam já estão disponíveis.
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