O vocalista Raoni Knalha, um dos quatro integrantes da banda baiana ÀTTØØXXÁ, tem Brasília no coração. Foi em uma edição do Favela Sounds, em 2016, que ele teve um dos primeiros encontros com o público brasiliense. “Brasília foi um dos primeiros lugares em que a gente fez um evento já como banda mesmo. Era um festival só de música periférica, primeiro festival grande, com Baianasystem, MC Carol”, conta Raoni. “E depois que a gente fez esse festival, foi abrindo mais oportunidade para a galera que tocava pagodão. Tinha essa coisa de ‘os meninos não são populares, vamos chamar pra tocar’ e, já de cara, foi uma super recepção, a gente ficou apaixonado.” Foram muitos shows desde essa estreia na capital federal e, agora, a ÀTTØØXXÁ tem encontro marcado novamente com os brasilienses como uma das atrações principais do CoMA.
Os quatro baianos sobem ao palco do festival, no Eixo Cultural Ibero-Americano, no sábado (6/8) e trazem como convidado o conterrâneo Carlinhos Brown. Com quatro discos gravados — Blvckbvng, LUVBOX, É Foda Porra, ÀTTØØXXÁ É F*DA P*RRA —, Rafa Dias, Oz, Chibatinha e Raoni prometem um repertório variado e, sobretudo, muita sensibilidade. Raoni conta que, normalmente, eles não ensaiam o show. Preferem sentir a vibração do público antes. “A gente vai mesmo observando o público, como reage a cada música. Às vezes, tem público que gosta mais de dança, às vezes, de ferveção, então nosso produtor musical, que é o Rafa Dias, vai ditando de acordo com o que está acontecendo no show”, conta.
A ÀTTØØXXÁ tinha acabado de fazer um show com Carlinhos Brown pela primeira vez quando a pandemia começou. A banda achou que a participação iria abrir portas, mas praticamente todas as portas da indústria cultural se fecharam naquele março de 2020. “Como tínhamos feito esse show, a gente meio que já tem alguma coisa produzida. E acredito que vão haver alguns ensaios, porque Brown é perfeccionista e não vai deixar essa oportunidade de estar fazendo um show novo”, garante Raoni.
O vocalista tem em Brown uma referência e uma figura de mestre. A relação funciona um pouco como um espelho: se o criador da timbalada representa uma certa reinvenção da música baiana, a ÀTTØØXXÁ se destaca por experimentar com o pagodão baiano, o grupo mostra uma combinação do gênero com ritmos eletrônicos. “Brown trouxe uma representatividade muito grande, desdes os sucessos que ele trazia para o cenário musical da Bahia, com a fundação da Timbalada, a mudança e alternância de ritmos, a gente se sente se vendo ali de novo”, garante Raoni. “Ele mudou certa células e certas sonoridades que existiam na música na época e a gente se vê assim neste momento, tentando trazer um pouco de um soar que ainda não existe, junto com as referências de todas as coisas que já passaram. Esse show é como se fosse um grande reencontro de todas as grandes coisas que vêm acontecendo há muito tempo, não só na música baiana mas na nacional.”
A representatividade que a ÀTTØØXXÁ carrega não está apenas nos ritmos, mas nas origens do pagodão. É, como Raoni lembra, música de periferia e isso é importante. “Tem o peso que isso carrega. A mensagem que traz qualquer artista ou qualquer cidadão periférico que ganha visibilidade. Esse artista carrega consigo não só a luta, a força, a determinação, mas o exemplo para todos ali ao redor dele, desde quando ele sai de casa, para os meninos que estão na rua e imaginam a possibilidade de, em vez de estar envolvido com coisas que as pessoas que vêm a periferia estão expostas, poder vencer na vida e alcançar espaço porque os caras estão alcançando”, diz o músico.
Ao longo do mês, o Correio fará, nos meios on-line e impresso, um passeio entre as atrações do Festival CoMA, traçando um retrato dos artistas e a relação com Brasília e o evento. Entrevistas com Remobília, Vitor Ramil e Braza já estão disponíveis.
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