Com 15 anos de trajetória, os dois últimos em formato on-line devido à pandemia de covid-19, o Festival Latinidades reencontra o público brasiliense com o tema "Mulheres negras e indígenas — todas as alternativas passam por nós". Em uma programação que conta com shows, gastronomia, literatura, exposições e espaço geek, o evento traz à cidade importantes e diversas cantoras, fazendo jus ao mote deste ano.
O Latinidades foi inaugurado, ontem, com shows de nomes locais, como Medro e Taliz, e as já consagradas Drik Barbosa, Deise Tigrona, Dj Lumena Aleluia e MC Carol.
O time de artistas que sobe ao palco hoje e amanhã ganha a adesão de nomes internacionais, como os de Nduduzo Siba, da África do Sul; Veeby, de Camarões; e Malika Tirolien, de Guadalupe. O fim de semana será presenteado, ainda, pelas músicas de Tássia Reis, Dona Onete, Funmilayo Afrobeat Orquestra com participação de Luedji Luna, Juçara Marçal, além de uma série de outras atrações.
Uma das atrações do domingo, Juçara Marçal está muito feliz com o convite para o festival, por ser um evento que dialoga diretamente com o último álbum solo que lançou, Delta Estácio Blues. "Quando a gente pensou no Delta Estácio Blues, eu e o Kiko, o produtor, vínhamos trabalhando as fontes que inspiram a gente. Justamente a música da África contemporânea, a música da Latino América, a música negra dos Estados Unidos", lembra a artista. "Poder estar num festival que trata justamente esse assunto como central é reconhecimento de que o nosso trabalho está dialogando com esse universo que nos inspira tanto", completa.
A cantora, conhecida por liderar o grupo de jazz Metá Metá e que agora explora uma experimentação que vai da MPB ao eletrônico na carreira solo, aproveita para elevar as expectativas para a vivência que terá na noite de domingo. "O meu desejo é de que as pessoas se conectem com a linguagem musical que a gente vai trazer, com a roupagem toda do show, então acho que é por aí que vai acontecer", afirma a cantora, que vê com bons olhos o lugar escolhido para a apresentação. "Estou muito curiosa de fazer um show no museu. Acho que vai ser bem massa", adianta.
Tássia Reis, que encerra o sábado, mistura vertentes do hip-hop, jazz, MPB e já deu o ar da graça pela capital. "Já toquei algumas vezes em Brasília e sou sempre muito bem recebida. Ainda não tive oportunidade de ficar longos períodos por aí, mas os eventos que eu toquei foram muito legais. Eu tenho boas memórias". Essa também não é a primeira oportunidade da cantora de subir ao palco do festival. "É um evento lindo. É um festival incrível, que une não só a negritude daqui, mas, também, a América. É um um festival que visualiza uma coisa maior. Tem um outro olhar para a cultura. Eu acho super importante e super rico."
Para a cantora, o tema de 2022 não poderia ser mais relevante. "É bem forte.Todas as alternativas passam pela gente. Quando eu escuto isso, eu penso na frase da Angela Davis: 'Quando uma mulher negra se movimenta, ela movimenta toda a estrutura'. Tudo que é de ruim passou pela gente, mas tudo que é de bom foi construído por nós também." Ainda que Tássia esteja com um "show bem enérgico, dançante e bem alegre" engatilhado para o público brasiliense, Tássia revela que, apesar da felicidade em participar de um evento estruturado na visibilidade das artistas negras, as portas da arte ainda não estão abertas para elas da forma que deveriam. "Mulheres negras geralmente arrombam portas", enfatiza.
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Lugar de pertencimento
É fato que esta edição do festival dá voz e palco a mulheres negras como nunca antes. MC Carol entende que é importante uma iniciativa como esta, uma vez que vê os palcos como um dos espaços menos ocupados pelas minorias. "Estou muito feliz de estar sendo convidada, porque a gente não faz parte de nada. Melhorou muito, mas ainda tem muita coisa para melhorar e para mudar", afirma a cantora, que tocou na noite de ontem do evento.
Carol relata que é uma alegria, mas a trajetória foi de muita tristeza e frustração. "Eu fui excluída a minha vida toda por vários motivos. Eu fui uma criança, preta, periférica, gorda e do sexo feminino, então sempre estava de fora de tudo", lembra e por isso exalta o Latinidades. "A gente nunca teve espaço. Então é muito bacana quando você ver um festival e projeto tão grande encabeçado por mulheres pretas", complementa a MC.
"Existir um festival que me aceita e inclui é muito importante. Porque quando uma pessoa entende que é anormal, não se sente bem-vinda, tem a sensação de que não deveria existir, que é excluída pelo mundo. Essa pessoa não tem motivação para viver", reflete a cantora.
MC Carol não só comemora a chegada dela, mas como a do gênero que dá voz a ela. "O funk foi entrando em vários lugares que não entrava de jeito nenhum. Uma coisa que não rolava antigamente, funk era coisa de vagabundo. Eu não podia ouvir funk em casa de forma alguma, nem os que não tinham palavrão. Se meu bisavô ouvisse só a batida já era castigo", recorda. "Não é só você ser convidado, é você entrar com auto estima ali, saber que aquele ambiente também é seu", finaliza.
Serviço
Festival Latinidades
- Local: Museu Nacional da República
- Data: Sábado e domingo (24 e 25)
- Horário: A partir das 10h
- Entrada gratuita
- Veja programação em: sympla.com.br
*Estagiários sob a supervisão de Severino Francisco.
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