Foi preciso muito exercício de corpo e de voz para conseguir encontrar o tom dos cinco personagens vividos por Luis Miranda e Mateus Solano em O mistério de Irma Vap, em cartaz hoje no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Além de encarnar vários personagens, a dupla troca de roupa no palco na mesma velocidade em que troca de voz e postura. Dirigida por Jorge Farjalla, a peça precisou ser suspensa no início da pandemia e agora retoma a turnê nacional em uma montagem ancorada na comédia e no terror que caracterizam o texto original de Charles Ludlam.
O mistério de Irma Vap conta a história de Lady Enid, uma mulher que tenta se adaptar à vida em uma mansão mal-assombrada após o casamento com um lord excêntrico. O espírito da primeira mulher do nobre, Irma Vap, não dá sossego a Lady Enid, que também enfrenta o fato de o filho do casal ter sido morto por um lobisomem. Para completar o pesadelo, uma governanta disputa com a lady o papel de protagonista no ambiente doméstico.
Farjalla decidiu transformar a mansão do texto original em um trem fantasma e é nesse ambiente de terror que Mateus Solano e Luis Miranda interpretam os cinco personagens. "A construção das personagens foi feita num intenso processo de preparação de três meses sob a batuta de Jorge Farjalla", conta Solano. "Boa parte do ensaio foi dedicada também a entender como trocar rapidamente de personalidade pois na peça, muitas vezes, minha personagem conversa com meu personagem. É preciso ter agilidade, não só para a troca de roupa, mas também para troca de personagem."
O mistério de Irma Vap ficou famoso no Brasil quando Marília Pêra trouxe a montagem para o país. Durante 11 anos, Ney Latorraca e Marco Nanini encenaram a peça que acabou no Guinness Book por ter mantido o mesmo elenco durante tanto tempo. Solano e Miranda não chegaram a assistir ao espetáculo na época. "Não tivemos o privilégio de ver Irma Vap. Portanto, não usamos a montagem dos dois como referência", diz Solano.
Para Farjalla, a peça é uma grande homenagem ao fazer teatral e ao trabalho do ator, por isso ele procurou valorizar esses dois aspectos. "É uma grande brincadeira entre o fazer teatral e a comicidade", explica. "Por ser um besteirol e por ser comédia, ela te propõe brincar com isso, colocar coisas do cotidiano. Abre esse lugar para que o ator, mesmo o encenador, possa trazer coisas atuais. Não tinha como, por exemplo, não colocar algo sobre a pandemia. O pré do espetáculo são os meninos de máscara recebendo no palco."
Mateus Solano enxerga um diálogo muito atual na proposta de Farjalla. "Durante o processo de ensaio e através das apresentações que vamos fazendo nesses quatro anos de carreira, vamos encontrando oportunidades no texto e na montagem para falar da sociedade em que vivemos", diz. "O fato de termos um ator preto e um branco, o fato de fazermos uma criada e uma lady nos dá a oportunidade de falar sobre racismo e lutas de classes, por exemplo. Mas tudo é feito de uma forma leve, priorizando o riso."
O mistério de Irma Vap
Direção: Jorge Farjalla. Com Mateus Solano e Luis Miranda. Hoje, às 21h no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos: de
R$ 70 a R$ 1.200.
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