"Quero ver a dor/quando faltar o ar,/porque, se sentir,/morro, morro, antes/antes, antes, de tudo./O ar é a vida!/A vida é o ar/a que possamos aspirar/e que possamos respirar". Esse é um dos poemas do livro duplo de poesia Máscaras Tristes (volume 1) e Máscaras Baraço (volume 2) que o advogado e poeta Luis Carlos Alcoforado escreveu durante a pandemia. Ele autografa os dois volumes, hoje, a partir das 19h, no Vinala, no Centro Comercial Gilberto Salomão, no Lago Sul.
Nascido em Natal, no Rio Grande do Norte, Alcoforado mora em Brasília desde 1986. Máscaras é uma resposta ao período pandêmico, no qual as pessoas eram obrigadas a um isolamento social extremamente desumano. Alcoforado procura fazer reflexões poéticas sobre a situação traumática, perpassada pela ideia do medo, pela sensação de asfixia e pela falta de perspectivas: "Eu peguei covid, no início da pandemia, quando não havia ainda vacina", lembra Alcoforado. "Passei mal, perdi 86% da capacidade respiratória. Naquele momento, de quatro que eram internados, um morria. "
Os poemas registram esse momento dramático de solidão, de desesperança e de reflexões realistas sobre a existência pessoal, sobre a condição humana e sobre as circunstâncias políticas, mas sem partidarismos. A dramaticidade da crise sanitária foi agravada pela estupidez das seitas que professam o negacionismo: "Homens fracos!/Incapazes de vencer/um agente virótico e infeccioso, pequeno/como o homem/e, como parasitas,/fazem bem ao homem mau./Amanhã, o homem/se sobreviver, será o/homem, o velho homem/de sempre!/Capaz de matar homens/mas incapaz para matar/o vírus!"
Esses são o 10º e o 11º livros de poesia de Alcoforado. Os poemas foram escritos, em ritmo frenético, entre os meses de março e setembro de 2020: "A existência é uma/dança com passos/incertos e música/silenciosa." Embora restrita ao período da pandemia, a poesia de Alcoforado toca também nos temas do tempo, da memória e da condição humana: "Só vejo o homem mau, não vi o homem bom, não vi o homem bíblico", confessa o poeta.
A pandemia ofereceu muitos momentos para reflexões sobre a estupidez humana: "Eu pensei que a/estupidez fosse/um estágio/anômalo./Errei!/É o estado do Homem!". Alcoforado escreveu todos os poemas em um jato, sem maiores lapidações ou revisões: "Eu nunca convoquei a poesia. É ela que me chama. Costumo escrever de um fôlego só, não costumo reescrever, só corrigo os erros gramaticais. A minha poesia é fruto da espontaneidade. Tenho um poema em que digo que a poesia me invade".
Embora seja animado por um espírito cético em relação aos humanos, Alcoforado encontra espaço para fazer o elogio da cultura: "A leitura rompe/e vence qualquer/preconceito,/desde que se possa/ler com liberdade". A poesia o ajudou atravessar o período dramático da pandemia, que ainda não se encerrou: "A poesia é um reforço espiritual enorme. Ela liberta, não é dogmática. Deus não falou aos homens. Os homens é que falam com Deus".
Máscaras volumes 1 e 2
De Luis Carlos Alcoforado.Noite
de autógrafos, hoje, a partir das
19h, no Vinala, Centro Comercial
Gilberto Salomão.
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