Entre os artistas da música radicados em Brasília, o piauiense Clodo Ferreira é o que possui maior projeção nacional. Parceiro de Raimundo Fagner, Dominguinhos e Ewaldo Gouveia, compôs com o irmão Clésio Revelação, clássico da MPB e é autor de letras sofisticadas para canções como Carece de explicação, Conterrâneos, Querubim e Velho demais.
Aos 70 anos e 50 de carreira musical, ex-professor da Universidade de Brasília (UnB), Clodo vai ser homenageado no dia 2 de agosto, às 20h, em show comandado pela cantora Sandra Duailibe, na Casa Thomas Jefferson Hall. Ele participa da celebração, tendo ao seu lado no palco os filhos João Ferreira (violão) e Pedro Ferreira. (percussão).
Ligado à música desde a adolescência, profissionalmente, a estreia de Clodo ocorreu em 1972, quando venceu a segunda edição do Festival do Ceub com Placa luminosa, que fez com Zeca Bahia, interpretada pela banda Matuskelos. No final daquela década se juntou aos irmãos Clodo, Climério e Clésio num coletivo que fez história na cena musical brasiliense, ao lançar os LPs Chapada do Corisco (1979), Ferreira (1981) e Profissão do sonho (1989).
Clodo — A Revelação é o nome do espetáculo com o qual Sandra Duailibe vai celebrar a trajetória artística de Clodo. Além do show, com repertório de 12 canções, haverá a parte cênico-poética e a audiovisual no hall do teatro. Momentos da história do cantor e compositor serão reveladas por meio de um painel fotográfico e de um telão com depoimentos. Haverá, ainda, uma exposição feita a partir da fusão de fotografias e de pintura digital.
"Descobri Clodo na adolescência, ouvindo as músicas compostas por ele no rádio nos LPs dos artistas que o gravaram. Em 2000, quando vim morar em Brasília, tive a alegria de conhecê-lo pessoalmente. Com a convivência, fruto da amizade estabelecida, minha admiração pelo trabalho que ele realizava aumentou", ressalta Duailibe. "Eu sabia que iria homenageá-lo e chegou a hora. Ao completar 70 anos de vida e 50 de música, Clodo merece todas as celebrações e o melhor de tudo, ao lado dos filhos João e Pedro Ferreira, que são músicos talentosos", acrescenta.
"A iniciativa da Sandra me traz alegria. Ela já havia gravado Revelação em ótimas versões. Seu canto é expressivo e enriquece minha produção musical com sua energia positiva", destaca Clodo. "Esse reconhecimento muito generoso recebo como um valioso presente de aniversário, principalmente por resgatar canções que compus com meus irmãos Climério e Clésio", complementa.
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Entrevista - Clodo Ferreira
Qual era a sua relação com a música durante a infância e o início da adolescência no Piauí?
Lembro de um show do Luiz Gonzaga em praça pública, em cima de uma marquise do cineTexem Teresina. Foi impactante. Também tinha o hábito de ir ao auditório de uma emissora de rádio assistir apresentações ao vivo. E, principalmente, ouvia o Clésio e Climério tocando violão em casa.
Já morando em Taguatinga, em meados da década de 1960, a Jovem Guarda o levou a formar o duo com Ana para cantar canções daquele movimento em programas da TV Nacional. Como foi aquele início na música?
Na dupla, cantávamos o repertório de Leno e Lilian e nos apresentávamos nos programas de auditório na TV Nacional. Taguatinga conhecia a dupla. Uma vez fomos acompanhados num show ao vivo, onde conheci o Tião, músico marcante daquela época. Éramos bem adolescentes ainda.
Na época você chegou a integrar a banda Os Quadradões. Que lembranças guarda daquele período?
Toquei guitarra base e fiquei amigo principalmente do Ribah. Tive que parar por que tinha apenas 16 anos e meu pai não me autorizou tocar na noite. Esse grupo fez um dos primeiros discos independentes de Brasília (1968) e gravou minhas primeiras composições.
Como foi a experiência de participar e vencer o 2º Festival do Ceub, com Placa luminosa, em 1972?
Placa Luminosa é minha em parceria com Zeca Bahia. Foi defendida pela banda Matuskela, que gravou um disco que acaba de ser relançado 50 anos depois e está nas plataformas digitais.
A música Placa Luminosa virou o nome da banda do Ribah e regravou Velho demais, também minha e do Zeca, que entrou na novela Sem lenço sem documento da Globo. Na mesma época, Ney Matogrosso saiu dos Secos e Molhados e gravou com Fagner um compacto duplo, incluindo Ponta do Lápis (Rodger e Clodo), que o Ney relançou agora em seu mais recente CD e show.
Que contribuição, você acredita, que o coletivo Clodo, Climério e Clésio deu à música brasiliense e brasileira?
Acredito que nosso trabalho é relevante principalmente como compositores. Olhando para traz, vejo que fomos interpretados por importantes artistas como Nara Leão, Milton Nascimento, MPB-4, Ângela Maria, Tim Maia, Dominguinhos, Fafá de Belém, Zizi Possi, Fagner, Wando, e tantos outros. São mais 100 músicas gravadas e divulgadas.
O Fagner o conheceu no Festival do Ceub. Como surgiu a parceria entre vocês?
Na verdade, tenho poucas parcerias com ele, mas foi o intérprete que deu grande visibilidade nacional às minhas composições. Ele gravou umas 12 músicas minhas com outros parceiros, especialmente na década de 1980.
Nossa primeira parceria foi Corda de aço, com letra minha e música dele. Tem Meio dia, gravada pela Zizi Possi. Ele foi parceiro de Fausto Nilo e Nara Leão na canção Cli, Cle, Clo, talvez a única composta pela Nara. Temos umas cinco ou seis.
O que representou para você o sucesso de Revelação, com a gravação de Fagner?
Sem dúvida, é a mais conhecida de minhas composições. Essa fiz com o Clésio, e nos últimos 40 anos foi regravada por Simone, Engenheiros de Hawii, Razão Brasileira, Wando, entre outros. A mais recente é de Fafá de Belém.
Um outro grande parceiro seu foi Dominguinhos. Que recordações dele mantém vivas na memória?
Além de uma dezena de parcerias, ele colocou composições comigo como faixa-título de quatro discos dele. A música Querubim foi lançada internacionalmente numa coletânea de forró organizada por David Byrne. Nossas parcerias foram interpretadas até pela fantástica Ângela Maria. Uma que me comove é Carece de explicação. Outro ídolo que tive a oportunidade de ser parceiro foi Evaldo Gouveia, de quem fiquei amigo e compomos alguns boleros.
O que o levou a criar uma matéria sobre música popular brasileira no curso de Comunicação da UnB?
Quando era professor percebi que era fundamental dar aos alunos uma sólida formação em música popular. A disciplina era optativa, mas tinha até lista de espera em turmas de 50 matriculados. Depois de aposentado publiquei o livro Comunicação e Música, com os principais assuntos da disciplina.
Já fez uma avaliação sobre 50 anos de música?
Faço uma avaliação positiva diante do número de canções no repertório nacional. As pessoas que admiro gravaram minhas composições. Isso é relevante para qualquer autor. O trabalho com os irmãos Climério e Clésio tem um valor que considerado histórico e isso me honra.
Seus filhos João e Pedro também são músicos. Eles foram influenciados por você?
Deve ter alguma influência. Eles cresceram ouvindo composições serem feitas dentro de casa. Eu nunca procurei levá-los para esse lado. Em certo momento, até pensei que seria melhor eles escolherem outros caminhos. Mas eles gostam mesmo de música e cada um tem seu estilo e vão muito bem. Hoje me dão apoio nos discos e shows. O João Ferreira é violonista formado pela UnB e professor da Escola de Música de Brasília, além de um trabalho com a banda Natiruts. O Pedro Ferreira é percussionista e vai lançar seu primeiro CD solo no próximo semestre.
Trabalhar com artes digitais é uma nova atividade artística a que vem se dedicando ou se trata de um hobby?
Estou estreando em exposição agora, embora tenha colocado nas redes sociais. Tenho um agradecimento a Alex Silva e, especialmente, ao estímulo de Darlan Rosa. Se é um hobby ou não só o futuro dirá.
O que tem produzido atualmente?
Na produção musical recente, estou contente com a parceria com Bigonha. No seu mais recente CD, ele gravou Perto do Tom (Antonio Carlos Bigonha e Clodo Ferreira) que acaba de ultrapassar a marca dos 320 mil streamings no Spotify.
Clodo — A Revelação
Show de Sandra Duailibe, com a participação do homenageado e dos filhos João e Pedro Ferreira, dia 2 de agosto, com direção de Mírian Virna e iluminação de Jamile Tormann, às 20h, na Casa Thomas Jefferson Hall (Entrequadra 706/906 Sul). Entrada franca.
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