Musa, modelo, jornalista, dona de boutique, cronista, jurada de programa de tevê, atriz e memorialista. Essas são algumas das facetas de Danuza Leão, uma das mulheres brasileiras mais influentes das últimas décadas. Ela esteve na linha de frente e nos bastidores dos acontecimentos políticos, culturais e comportamentais do país. Ensinou transgressão e etiqueta, frequentou as festas da alta sociedade e o circuito da vanguarda cultural.
Danuza Leão morreu, na noite de terça-feira, no Rio de Janeiro, em decorrência de enfizema pulmonar. Nascida em Itaguaçu, interior do Espírito Santo, ela se mudou para o Rio de Janeiro, com a família, quando tinha 10 anos de idade, em 1943. Nas décadas seguintes, o Rio de Janeiro se transformaria em uma cidade efervescente e Danuza seria protagonista de muitas mudanças no campo do comportamento das mulheres.
Iniciou a carreira de modelo aos 17 anos e foi a primeira brasileira a desfilar fora do Brasil. Era irmã de Nara Leão e acompanhou o nascimento da bossa nova em casa, ponto de encontro de alguns dos mais importantes nomes do movimento. Atuou como atriz no filme Terra em Transe, de Glauber Rocha.
Conheceu os bastidores do mundo do poder e da política nos tempos em que foi casada com o jornalista Samuel Wainer, criador do jornal Última Hora. Depois de se separar de Samuel Wainer, ela ainda foi casada com o cronista Antonio Maria e com o jornalista Renato Machado.
Na maturidade, Danuza aproveitou a carga de experiências para se afirmar nos ofícios de jornalista, cronista e memorialista, com sucesso por onde passou. Manteve colunas no Jornal do Brasil, na Folha de S. Paulo e em O Globo. Ela, que foi uma das mulheres mais transgressoras do comportamento na década de 1960, escreveu livros sobre etiqueta.
O livro Na sala com Danuza se transformou em best-seller, com mais de 200 mil exemplares vendidos. A qualidade literária foi reconhecida nos dois livros de memória que publicou: Quase tudo (2005) e Fazendo as malas (2008), ambos agraciados com o Prêmio Jabuti. Famosa por falar o que pensa, Danuza forjou frases espirituosas: "O pior amigo é o falso amigo". E: "Perguntar a idade de mulher é crime".
Mais recentemente, Danuza se envolveu em várias polêmicas. Ao comentar a PEC das domésticas, lamentou que ir a Nova York havia perdido a graça, pois até o porteiro do prédio poderia viajar. Em 2018, repudiou as denúncias de assédio a mulheres no Globo de Ouro. Disse que toda mulher devia ser assediada para ser feliz. Até os netos Rita Wainer e João Wainer criticaram a avó e publicaram um post na internet com a pichação de uma letra de funk: "Minha avó tá maluca".
A transgressora da juventude se transformou em uma mulher recolhida na maturidade. Nos últimos tempos, apreciava o sossego: "Meus castigos de infância se tornaram minhas metas: ir para casa cedo, não sair da minha casa, não ir a nenhuma festa".