Em 1995, o público enchia os olhos ao entrar no cinema para assistir pela primeira vez uma animação completamente em três dimensões. Toy Story marcou a história do gênero e o coração de milhões de pessoas pelo mundo com a narrativa da dupla Woody e Buzz, um cowboy e um patrulheiro espacial. As idas e vindas da amizade dos dois bonecos perduraram por quatro filmes, até 2019. Porém, este ano, a história que fez o menino Andy comprar o boneco Buzz Lightyear chega aos cinemas trazendo nuances do personagem jamais vistas pelo público que já o ama.
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"Tenho uma relação com Toy Story que começou quando eu era moleque e terminei agora assistindo como um pai de três filho", conta Marcos Mion, responsável por assumir, e com qualidade, a voz do Buzz humano. O ator, dublador e apresentador se sente honrado em ser escolhido para um papel tão icônico e entende a responsabilidade que isso traz. "É muito louco pensar que uma geraçãozinha que está vindo aí vai estar se apaixonando por um Buzz que tem a minha voz", exalta.
No entanto, ele faz questão de pontuar que essa é uma nova história, e não trata do boneco, mas, sim, mostra a história espacial que fez o personagem se tornar um boneco popular no mundo do Andy. "Ele não ia falar espanhol, não ia ser Dona Marocas. É um homem vivendo dramas humanos", explica a voz brasileira do protagonista. "Faz parte dos tempos que vivemos, humanizar. A vulnerabilidade é um superpoder. Os grandes heróis são vulneráveis e o Buzz nunca foi vulnerável, ele sempre foi o patrulheiro espacial autoconfiante e pronto para fazer tudo e salvar o dia", reflete Mion. "Mostrá-lo com humanidade, apresentar a primeira queda de grandeza do personagem, é muito ousado, moderno e atual", completa.
"O filme faz você lembrar porque a gente se apaixonou pelo Buzz", diz Thiago Longo, diretor da dublagem brasileira do longa. O profissional é apaixonado desde os 7 anos pela franquia Toy Story e reassistiu tudo para trazer o melhor possível no trabalho do novo filme. "Eu queria que as pessoas fossem assistir o filme e encontrassem referências de Toy Story", conta. E lá estão algumas delas: desde os cones de Toy Story 2 até as citações às falas do protagonista, quando popularizado como um boneco.
O ator dublador César Marchetti é uma das novidades que o longa traz com o carismático gato Sox. Ele diz que quando pôde contar para família, viu o sobrinho e a afilhada incrédulos que teriam um parente em uma das franquias que mais gostavam nos cinemas. Os dois viveram todos os Toy Story e agora querem ir ao cinema ouvir uma voz conhecida. "É a responsabilidade com uma geração que cresceu com esse personagem em Toy Story", aponta Marchetti.
"É um daqueles momentos muito únicos, que você quer que cada segundo dure uma hora. Fui abençoado de dizer para os meus filhos: 'Sabe o Buzz? O papai vai fazer a voz dele!'", lembra Mion sobre a possibilidade de dividir essa conquista com a família. Lightyear que já havia chegado ao infinito, agora vai tentar ir além.
Crítica // Lightyear ****
Uma nova segunda chance
»Ricardo Daehn
Ejetar é a palavra de ordem, no cinema atual, quando o assunto é filme de desbravamento do espaço aéreo e de franquia cinematográfica: bem como em Top Gun: Maverick, ciclos de imprevistos e ações baseadas em preciso treinamento de novos personagens, levam o protagonista patrulheiro "ao infinito, e além". Nos filmes futuristas, viagens constantes (sob efeitos da dilatação do tempo) e a busca de cristal que sirva de combustível sideral não chegam a ser novidade, mas Lightyear carrega o peso da responsabilidade de ter afetado o destino de uma tripulação contada às centenas. E quer reajustar um tremendo erro.
Desfazendo certezas e fragilizado, o protagonista segue cheio de autonomia, mas, na aventura (na qual vive dentro de um filme que afetou o personagem Andy, visto em Toy Story), ele aprende a valorizar o convívio com recrutas espaciais e cede ao poder da tecnologia, num cenário em que pesa a desconfiança em pilotos automáticos, e ainda apinhado pela ameaça de robôs alienígenas que pretendem controlar o universo. Mudanças de curso se efetivam na vida de Lightyear; algumas singelas como ressignificar a montagem de um sanduíche clássico e, mesmo o espectador é convidado a abraçar, com naturalidade, a diversidade sexual inserida numa animação Disney/ Pixar.
Entre quebras de protocolos e a percepção da própria solidão, Lightyear, para além de enfrentar a maldade do inimigo Zurg, traz muitas reconsiderações na vida. Dos recomeços dele, o mais interessante traz o apego com o robótico gato de fala mecânica Sox, pronto para roubar cada cena. Se há uma lacuna no filme é o de pouco preencher as influências junto a Andy (Toy Story).
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