Conhecido pelas intervenções artísticas nas cidades do Distrito Federal, Gu da Cei leva sua arte para áreas urbanas de Goiânia (Goiás). “Este território pertence a Ceilândia”, avisa a placa fixada pelo artista em um lote de 800 m², próximo à Prefeitura da capital goiana, relembrando, mais uma vez, a pecha de invasores injustamente atribuída aos candangos que ergueram a tão sonhada nova capital da República.
A intervenção faz parte do Salão Nacional de Arte Contemporânea de Goiás, que começa 7 de julho e vai até 30 de setembro, no Museu de Arte Contemporânea. O ceilandense foi um dos indicados pela curadoria para participar da mostra com outros 32 artistas de todo o Brasil.
Ceilândia nasceu a partir da remoção das famílias da Vila do IAPI, em uma ação da Campanha de Erradicação de Invasões (CEI), de onde veio o nome da cidade. Considerados invasores, cerca de 82 mil pessoas foram transferidas para longe da região central de Brasília, cidade que esses mesmos “invasores” ajudaram a construir.
“A ação parte de um resgate da história de Ceilândia. Me aproprio e problematizo o título de invasores que foi dado para a população da cidade. Faço da intervenção urbana uma invasão, evidenciando o processos de ocupação de territórios e direito à moradia”, explica Gu, que também lembra que, hoje, a região de onde as famílias foram removidas se tornou um setor de mansões.
O Centro Cultural Oscar Niemeyer também foi palco para a arte de Gu da Cei. O artista fez projeções com frases como “Ceilândia capital do Brasil”, “pule as catracas da imaginação”, “arroz, feijão e cultura" e "invasor na capital”.
Gu da Cei é artista visual, produtor cultural e curador da Galeria Risofloras, em Ceilândia. Desenvolve o seu trabalho artístico no âmbito da intervenção urbana, instalação, poesia, performance, fotografia e vídeo, além de promover discussões sobre vigilância, imagem, direito à cidade e transporte coletivo. Gu é ganhador do Prêmio de Arte Contemporânea Transborda Brasília e foi selecionado para o Prêmio EDP nas Artes, realizado pelo Instituto Tomie Ohtake.
*Estagiário sob a supervisão de Juliana Oliveira