A percepção de que dá pra ser bem feliz "muito dona de si e dona do próprio corpo", como enfatiza a diretora Bel Kutner, casou perfeitamente com o desprendimento "da expectativa dos outros", como ela enfatiza, ao falar da identificação de estar à frente da peça O prazer é todo nosso. Ainda que com texto criado por Beto Brown, a partir de argumento da atriz Juliana Martins, a peça, com apresentação única neste sábado (4/6), explora as etapas de renovação da liberdade sexual experimentadas pela atriz que, desde os 20 anos, ficou casada por quase duas décadas. A globalizada evolução da liberdade feminina, "de três anos para cá", como reforça Juliana, impressionou a intérprete que, na tevê, esteve em produções como Jesus (2019) e Geração Brasil (2014).
Reforçando a diferença com o dia a dia abastecido pelo aceso à informação, Juliana conta que nunca foi cerceada da plenitude sexual."Não foi nada castradora a minha vivência, isso até pela educação esclarecedora da minha família. Hoje em dia tenho visão completamente mais ampla de sexo: me conhecendo melhor, vendo que pessoas mais sexualmente satisfeitas são realmente mais felizes", observa.
Para além de compartilhar episódios relacionados à libido, Juliana pontuou tramas experimentadas por amigas. O autor da peça é assumido confidente da atriz. "Beto me entende e respeita relações igualitárias. Ele consegue expressar o meu jeito: sou eu que tô lá (na peça) — criamos, como chamamos, 'uma personagem de mim mesma'", diverte-se. A peça cômica promete um entretenimento "delicado e feminino", com destaca a atriz. "As minhas vivências sexuais, na verdade, fizeram eu me conhecer melhor. Conhecer melhor o meu corpo me tornou uma pessoa melhor: sou mais empática, mais pronta pro que der e vier e mais divertida", comenta a idealizadora da peça. Ela destaca que o espetáculo não traz nudez. "Falamos de sexo, com naturalidade, e nada é vulgar. O que move tudo é o prazer sensual. A classificação indicativa é de 14 anos. Uma pessoa de 14, ao menos, já ouviu falar de sexo, e a peça é leve", observa a atriz.
"A Juliana está muito bonita em cena. Por mais que ela seja uma mulher muito sexy, ela nunca fica vulgar. Ela é elegante e graciosa, ao brincar com sexo. Em cena há uma naturalidade e uma graça da Juliana que, às vezes, é até desajeitada, como qualquer mulher se identifica. Representa isso de viver sem nenhum tipo de limites", destaca a diretora Bel Kutner. Domingos de Alcântara, que responde pelo cenário e figurino, como explica Bel, se concentrou em trazer erotismo, "ao expor partes do corpo, com graça e charme".
Ainda lembrada pelo papel em Verdades secretas (2015), a diretora Kutner trata das discrepâncias entre o antigo papel dela e o atual vivido pela colega de palco. "Minha personagem tinha o papel difícil de perceber e denunciar a situação de uma menina de 16 anos estar vivendo uma vida de prostituição. Acho importante o assunto da exploração do corpo feminino como mercadoria ter sido trazido à tona. Não tem nada a ver com a liberdade de expressão vista na peça: a protagonista é madura, dona do próprio corpo e querendo usufruir dos prazeres da vida, sem preconceitos. É outra a maneira de falar de erotismo", conclui Bel Kutner.
O prazer é todo nosso
Teatro do Hotel Royal Tulip (SHTN Tr. 01). Neste sábado (4/6), às 21h. Ingressos 100 (inteira). Doadores de um quilo de alimento pagam R$ 60. Peça idealizada por Juliana Martins, com direção de Bel Kutner. Informações: 3522-9521.