Completo o tempo de isolamento pandêmico, Maria Maia se viu com um grande volume de poemas em mãos. A escritora desenvolveu, como passatempo, o exercício de escrever um poema por dia, tal qual um diário poético. A profícua produção tornou-se, tão logo, um projeto literário. Os desabafos, as militâncias e os deslumbres cotidianos vividos estão, agora, gravados em mais de 300 páginas. Hoje, às 19h, o Beirute, tradicional bar da 109 Sul, abre as portas para o lançamento do livro PoemAção, da escritora e cineasta Maria Maia. O evento faz parte do projeto Beira Cultural, que promove a cultura local no estabelecimento.
Anos atrás, mais precisamente em 1975, Maria Maia, vinda do Acre e recém-chegada a Brasília, vivia uma rotina na capital que muito se assemelha à trajetória profissional que iria traçar: "Eu ia para o Cine Brasília nos fins de semana. Entrava às 14h da tarde e saía às 22h para ir ao Beirute. Lá, eu subia em cima da mesa e declamava poesia". Maria dedicou-se, ao longo da vida profissional, à produção audiovisual como funcionária da TV Câmara. Recém-aposentada, como quem sai da matinê do cinema no rolar de créditos, a autora encontra tempo, agora, para caminhar em direção ao bar onde, dessa vez, pede licença para declamar a poesia que cultiva desde o início.
O livro de Maria Maia divide-se em três seções. Em Poemas militantes, a autora deixa transbordar os momentos em que o foco do dia girava em torno de temas políticos; em Poemas do confinamento, o silêncio do isolamento fala em versos; por fim, a seção intitulada PoemAção impõe-se e dá nome à obra: "É poema e ação. Poema em ação. É sobre o exercício cotidiano de fazer o poema. Remete, também, ao movimento da vida, ao claro e o escuro, à contração e expansão". Ao longo das três partes, a poeta brinca com as palavras e abre mão da norma padrão para usar contrações e abreviações advindas da internet: "Eu incorporei isso porque são coisas que todo mundo sabe. Não quero banalizar a língua portuguesa, porque eu amo essa língua, com sua complexidade e densidade. Mas gosto de incorporar coisas novas". A autora explica que os jargões internéticos já estão consolidados: "A internet é uma praça pública, e a linguagem já está difundida na praça".
Quem folheia as páginas amareladas do livro que recebem os versos em Times New Roman, se depara, de forma inusitada, com uma seção de imagens coloridas que passam despercebidas na borda do livro. Fotos íntimas e pessoais se intercalam com projetos de artes visuais produzidos pela autora. Maria justifica o desejo da exposição imagética: "Eu escolhi o afeto. Eu sou, ao mesmo tempo, neoconcreta e concreta. É um exercício da minha subjetividade, do eu. Eu sou narradora de mim mesma. Eu me coloco subjetivamente como sujeito das coisas em que acredito. Isso é uma herança do neoconcretismo". A autora, então, reflete sobre o olhar de quem a lê: "Não só o artista que faz é um sujeito, mas quem recebe também é. E eu gosto de mexer com as subjetividades".
PoemAção, de Maria Maia.
Lançamento: Nesta quarta-feira (29/6), a partir das 19h
Onde: bar Beirute - SHCS CLS 109 Loja 2/4, Asa Sul, Brasília
Entrada gratuita
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.