Numa medida de valorização das produções artísticas em regiões administrativas da capital do país, que estão fora do circuito abastado, a FBAC investiu numa parceria com o Correio batizada de Projeto Radar. Apresentar projetos curatoriais, num estande repleto de novidades artísticas de três galerias serve de meta. A Pilastra (Guará), Risofloras (Ceilândia Norte) e RAXIV (São Sebastião) foram os núcleos valorizados pela ação.
A galeria Risofloras teve por gênese o intuito de dar visibilidade a novos talentos das artes periféricas. "Muitas vezes, a nossa arte não é reconhecida como tal. Então perdemos muitos artistas jovens periféricos por causa desta falta de reconhecimento. Participar da FBAC é muito simbólico, por estarmos afirmando a questão da produção artística", avalia Rayane Soares, curadora da Risofloras.
Rayane demonstra o entusiasmo de artistas que, primeira vez, participarão de uma feira de arte. "Talvez, um deles venda um produto artístico, e pela primeira vez. Vai ganhar uma renda, por estar produzindo. A feira trará o engajamento, o incentivo e indicativo de novas oportunidades", simplifica.
Gestora da galeria-escola e ecossistema de arte A Pilastra, a curadora e produtora cultural Gisele Lima celebra a adesão do grupo no Projeto Radar, com representatividade de artistas do Guará. "Criado em 2017, o coletivo abraçou artistas em formação, mas sem acesso a galerias. O nosso núcleo é uma reposta indireta às ações afirmativas que partiram das universidades, a partir de um público que se revelou diversificado", avalia a jovem Gisele, formada em teoria crítica e história da arte (UnB).
Na proposta do grupo da galeria A Pilastra, a ocupação de parte do estande na FBAC se dará com a impressão da forte personalidade do grupo. Experimentação e a produção livre notada em corpos dissidentes norteiam o conjunto que traz muitos ex-alunos da UnB. "Apostamos na gama vasta de minorias, entre os quais negros, criadores LGBTQIA , deficientes e encampamos um pioneirismo, com a representação de artistas trans", conta Gisele.
Inicialmente reunidos no Setor de Oficinas (QE 40, Guará 2), na promoção de estúdios, vivências e saraus, os artistas experimentaram a construção de redes profissionais formadas ainda por curadores, produtores culturais e técnicos. "Misturamos as realidades, para intercâmbio e fortalecimento. Lidamos com artistas nem sempre iniciantes, nem sempre periféricos", observa Gisele Lima.
Nessa levada, haverá mescla de artistas com relativa projeção, como Suyan de Matos (envolvida em criações têxteis, pinturas e bordados), vista como "uma artista, mentora, negra e referencial", junto a artistas a caminho da popularidade, casos de Isabele Prado e de Wendela Alves (ambas artistas da fotografia) e Ayô, produtora de desenho mural, arte em tecido e pinturas.
Localizada em frente ao Campo Central e movida por ideais de liberdade e acessibilidade, a RAXIV Galeria traz a difusão, produção e promoção da arte e cultura periférica, fomento do registro e pesquisa da história de São Sebastião. Sob diretoria artística de Ricardo Caldeira, um grupo de artistas residentes contempla a curadora Dani Dumoulin.
Suplantar estereótipos de escassez e marginalidade impulsionam os artistas que comandam exposições sensoriais e espetáculos de vendas de obras, num artifício de sustentação e autonomia para a galeria. Dança, consciência corporal, diversidade sexual, performances, grafites e design gráfico são alguns dos recursos para afirmações de vocabulário, história e memória territorial.
Colaborou Nahima Maciel
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"Apostamos na gama vasta de minorias, entre os quais negros, criadores LGBTQIA+, deficientes e encampamos um pioneirismo, com a representação de artistas trans"
Gisele Lima, curadora e produtora cultural