Lisboa, Portugal - O cantor Ney Matogrosso, 80 anos, faz sua primeira apresentação internacional depois de dois anos de pandemia. Escolheu Lisboa, a capital portuguesa, para esse recomeço. Apresenta-se no sábado na versão lusitana do Rock in Rio. Não esconde a ansiedade. E se recorda que foi o primeiro artista a se apresentar no festival histórico de 1985. “Sempre dá um nervosismo, as mãos suam”, diz.
O entusiasmo do cantor com o retorno aos palcos internacionais não minimiza seu desapontamento com o Brasil. “A cultura está na lama, não há outra palavra para definir o que aconteceu”, afirma. Foram muitos os ataques contra os artistas, sobretudo por parte do governo, situação que se agravou com a pandemia do novo coronavírus. “Felizmente, está havendo uma reação. A cultura é importante para o povo”, acrescenta.
Subir ao palco é mágico, diz Ney, que faz questão de manter todos os cuidados para se proteger da covid. “A pandemia diminuiu, mas não acabou. Voltamos a sair de casa, a viajar, a ir a shows, mas continuo usando máscara”, frisa.
Depois de Lisboa, o cantor fará uma turnê pelos Estados Unidos. Já tem shows agendados em quatro cidades. O preparo físico para essa maratona é diário. “Faço ginástica todos os dias”, reforça, dando uma demonstração de seu vigor físico. “Olha o que faço”, chama a atenção, ao se agachar e subir numa velocidade impressionante.
Ney aproveitou sua passagem por Lisboa para prestigiar a abertura da exposição fotográfica do amigo Paulo Mendonça, autor de “Sangue Latino”, um dos hinos cantados pelos Secos & Molhados, banda revolucionária que colocou o cantor sob todos os holofotes. “Paulinho é muito talentoso, um artista múltiplo. Ele é meu compadre. Sou padrinho da filha dele”, conta.
Nas obras expostas na Espaço Talante, gerido pelo ator Antonio Grassi, Mendonça retrata artistas de rua, músicos que, segundo Ney, são invisíveis aos olhos de muita gente. As imagens foram colhidas ao longo da vida por Mendonça, muitas delas, por meio do celular.
Ney se diz encantado por Lisboa. “Toda vez que venho aqui me dá vontade de me mudar para cá, morar nesta cidade”, afirma. Ele diz que se sente em casa. Mas ressalta que sua casa é o Brasil, a despeito de todos os problemas que o país enfrenta.
Sobre o show que fará no Rock in Rio de Lisboa, Ney destaca que manterá todo o ritual de seus shows. Minutos antes da apresentação, ficará sozinho na entrada do palco, se concentrando, sentindo o calor da plateia para fazer o que mais gosta: cantar.
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