Com metade do line up formado por nomes nacionais e a outra metade consagrada aos locais, o Festival MOVA tem início neste sábado com a proposta de reunir artistas que representam a diversidade da música brasileira contemporânea. No sábado (4/6) e no domingo (5/6), o público tem encontro marcado com 17 atrações no palco montado no Bosque atrás da Arena BRB Nilson Nelson.
Ana Cañas e Marcelo Jeneci estão no line up de amanhã, que tem também Gaivota Naves, Muntchako e Duo TiFi, para citar alguns do Distrito Federal, além dos paraibanos do Formiga DUB e dos potiguares da Camarones Orquestra Guitarrística. No domingo, Maria Gadú, Hamilton de Holanda e Mestrinho tomam o palco. A festa também contará com o bloco Divinas Tetas, Saci Wèrè e Capivara Brass Band e com o jazz do pernambucano Amaro Freitas.
Entre as propostas do MOVA está a de olhar com mais cuidado para temas socioambientais. O Movimento Bem Viver, que atua no ativismo pelas questões indígenas e preservação da agricultura familiar, participa do festival com rodas de conversas e ações de venda de artesanato e alimento agroecológicos.
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Uma paixão chamada Belchior
A primeira vez que Ana Cañas ouviu Belchior foi na adolescência, pela voz de Elis Regina. Como todos que gostavam de música brasileira, ficou impactada pela letra de Como nossos pais. Mas ainda foram necessários alguns anos para que a música de Antônio Carlos Belchior provocasse um encantamento quase metafísico na cantora paulistana. Durante a pandemia, em 2020, Ana fez uma live para ajudar amigos músicos e cantou o repertório do compositor cearense. Ficou surpresa com a repercussão e gravou o disco Ana Cañas canta Belchior, lançado em 2021. Agora, é hora de levar o autor de Sujeito de sorte, o hit da pandemia, para o palco.
É cantando Belchior que Ana se apresenta no MOVA neste sábado. "A poesia do Belchior me surpreende em todos os shows", conta a artista, que confessa chorar até na passagem de som. "Tem canção que já cantei diversas vezes, mas ainda tem alguma frase, algum sentido que não captei. E estar de frente para públicos diversos coloca a poesia de Belchior em estado de latência", explica. Ela fica especialmente surpresa com a atração dos jovens pela música do compositor.
Segundo Ana, o espectro dos interessados vai dos adolescentes aos mais velhos, de 60 ou 70 anos. "Belchior permite essa amplitude. Isso tá muito de acordo com o mapa astrológico dele, tem seis planetas em escorpião, e escorpião é a fênix do zodíaco. Tenho a sensação de que ele viveu várias vidas na mesma vida. São diversos recortes, e a obra dele reflete isso", acredita, ao se revelar "assombrada" pela poesia do compositor. "É um manancial de ideias, recortes, entendimentos bastante profundos e isso para mim é uma das coisas que mais encanta."
Quando gravou o disco, Ana concentrou voz e instrumentos em arranjos minimalistas e intimistas. A guitarra de Fabá Gimenez tem participação especial nas faixas. Era um momento mais introspectivo, de medo diante das perdas geradas pela pandemia, de recolhimento e sustos constantes frente à incapacidade governamental de controlar o avanço das mortes.
Agora, com o reencontro entre público e artistas, Ana acredita que é hora de dar nova roupagem às suas interpretações de Belchior. "O show que chega a Brasília é com a banda, a gente vai dar continuidade ao projeto, é a fase 2 do rolê", avisa. "Antes estava num canto muito recolhido, muito vulnerável. Agora estamos num momento em que temos um embate pela frente este ano, essa fase vem mais aguerrida, a gente tem uma luta, um combate duro. E o projeto vai refletindo a moldura política, histórica e social."
Releituras de Maria Gadú
A cantora paulistana Maria Gadú traz para o MOVA, nas próprias palavras, "um show de quase-estreia de um novo velho disco". O álbum em questão, Quem sabe isso quer dizer amor, chegou às plataformas digitais no final de 2021, mas foi produzido pela cantora em 2019. Em função da pandemia, tanto o lançamento, quanto o planejamento de shows foram adiados. A apresentação no festival brasiliense será a segunda data da turnê, o que justifica os ares de estreia.
Sobre o retorno aos palcos, a artista revela a conjunção de ansiedade e entusiasmo: "Eu já tinha dado um tempo antes da pandemia. Então, estou um pouco ansiosa para entender o que que vou sentir. Mas é aquela velha história da bicicleta. Estou também muito feliz de voltar". A participação em um festival é um atrativo a mais para Gadú: "Os públicos se misturam ali. Existe a oportunidade de ouvir coisas novas. Fica uma energia de comunhão bacana. Sai daquela coisa só focada em um artista, tem uma energia mais democrática". Ela completa sobre a troca entre os artistas: "É um palco que está ali sendo trocado, né? Você tem a energia que foi deixada ali, como uma passada de bastão. Então, ele vem com uma carga e você tem que deixar ele harmonicamente organizado energeticamente para o próximo".
Quem sabe isso quer dizer amor é um álbum composto por releituras de canções que permearam o repertório da artista no início da carreira na música, quando se apresentava em bares como intérprete. Entre os artistas homenageados ao longo das 12 faixas, Milton Nascimento e Marisa Monte são citados por Gadú como alicerces da carreira. Não ao acaso, a canção de Nascimento dá nome ao projeto.
Arte com debate
Guaianases, bairro da Zona Leste de São Paulo onde Marcelo Jeneci cresceu, tornou-se objeto de homenagem no álbum Guaia, forma carinhosa de chamar o local. Lançada em 2019, a obra, que une MPB e elementos nordestinos, será o carro-chefe da apresentação do cantor no festival MOVA. Os grandes hits de discos anteriores, contudo, terão espaço no repertório. Com a última passagem pela capital em 2019, Jeneci revela o interesse na cidade: "Gosto de descobrir o submundo de Brasília, os locais escondidos. Gosto de fugir do óbvio".
O festival MOVA ocorre no fim de semana de encerramento da Semana Mundial do Meio Ambiente. Sobre o compromisso da arte em se tornar plataforma para o debates sociopolíticos, Jeneci é firme: "Não tenho interesse em arte que não tenha esse viés. O entretenimento puro não me interessa". O artista, então, comenta sobre a questão ambiental: "Acredito que é um problema que tem de ser resolvido de forma interna. Precisamos olhar para dentro de nós mesmos e resolvermos nossas questões". O cantor divaga sobre nossa relação com o planeta ao reparar que o Homo Sapiens é uma espécie relativamente nova. "Diferente de diversas outras que estão aqui há milhares de anos. Tal qual uma criança, temos o impulso de destruir o brinquedo que nos foi dado", reflete.
Por fim, Marcelo Jeneci afirma que novas músicas estão a caminho. "Estou em um momento de composição. Estou me conectando com as minhas origens, com a sanfona", garante. O instrumento tornou-se uma forte característica do artista e pode ser escutado em diversas faixas de sua produção.
Festival MOVA
Sábado (4/6) e domingo (5/6), às 16h, no Bosque atrás da Arena BRB Nilson Nelson. Ingressos: https://www.sympla.com.br/evento/festival-mova-2022/1544134
*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel
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