Foi preciso um tempo de ócio e de convivência com os materiais para o artista plástico Elder Rocha chegar às 25 obras de Prática das pequenas construções, em cartaz na nova sede da Alfinete Galeria. Quando se mudou de um apartamento para uma casa, no início da pandemia, o artista e professor da Universidade de Brasília (UnB) ficou um tanto perdido no novo ateliê. Ensaiou alguns caminhos para dar forma a uma nova série de pinturas, mas não engrenou até descobrir uma técnica simples para dar aspecto de amassado a um punhado de tecidos antigos que levava de um lado para o outro.
Os panos trazem uma série de referências e lembranças que fizeram o artista embarcar na produção de um conjunto de pinturas nas quais há uma certa conversa entre uma herança neoconcreta e uma atitude orgânica que é marca da produção de Elder. "Esse trabalho especificamente é muito condensatório", avisa o artista, que tirou o nome da exposição de um título de um livro de arquitetura prática de Alberto de Campos Borges. "Nesse trabalho, tem muitas coisas que usei ao longo da vida, mas que agora sei fazer melhor. Eu queria aperfeiçoar alguns pensamentos que, no meu caso, são visuais. Não tem outro tipo de conexão com narrativas externas", avisa.
Elder Rocha é um pintor formalista e grande parte de suas obras refletem sobre as formas, sobre a estrutura da linguagem da pintura e história da arte contemporânea. "É a história da minha própria pintura, sempre influenciada e impactada pelo que está acontecendo em torno", explica. A série foi criada com objetos que existiam na casa do artista há mais de 20 anos, mas que, a partir de um estudo de linguagem, ganharam lugar na construção da pintura. Desse trabalho com os materiais existentes, veio também a aceitação de defeitos, imperfeições e acasos em uma escala maior daquela presente em produções anteriores. "Tentei aceitar mais coisas que acontecem, um desejo que sempre tive e que pratiquei até certo limite, mas acho que agora avanço um pouco mais sobre a ideia de deixar as coisas acontecerem", explica.
A ideia de memória e lembrança também está bastante entranhada nas pinturas de Prática das pequenas construções. A ligação com o neoconcretismo é assumida e celebrada pelo artista, assim como as reminiscências trazidas pelo próprio material. "Tem aí a ideia de um relacionamento emocional muito intenso com minha infância", diz. "Esses tecidos, os objetos antigos ou corriqueiros do dia a dia me lembram muito a vida de criança, quando as mães costuravam, os tecidos, os vieses, toda a bordinha do trabalho é acabada de viés. São materiais que têm uma relação também com minha infância, com a construção de uma visualidade através de um artesanato caseiro."
Prática das pequenas construções
Exposição de Elder Rocha. Visitação
até 25 de junho, sexta e sábado, das
16h às 20h, na Alfinete Galeria
(509 Sul, Bloco A, entrada 58)