O cantor e compositor Gilberto Gil foi o entrevistado desta segunda-feira (23/5) no programa Roda Viva, da TV Cultura. Ele falou sobre o impacto do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) na cultura do país.
Reforçando que o voto é o instrumento para mudar a situação atual do Brasil, Gilberto Gil disse que se surpreendeu com as atitudes do governo atual frente à cultura.
"Ficamos muito consternados. Não imaginávamos que essa fúria fosse prevalecer no caso das artes, do campo cultural. Foram instituições fortalecidas em governos anteriores. Processos e projetos de fomento foram totalmente abandonados", lamentou o cantor e ex-ministro da Cultura.
Saiba Mais
"Boa parte do Brasil reivindica a substituição dos que estão aí. Ficamos consternados, mas é o suficiente? É preciso batalhar, lutar e insistir no fortalecimento dos mecanismos democráticos. São importantes a liberdade de expressão, a eleição, o associativismo contemporâneo com tantos coletivos. É a sociedade brasileira tomando em suas mãos as suas responsabilidades", completou.
O artista falou também sobre a igualdade cultural no Brasil após a abolição da escravatura. "É uma abolição em processo, em evolução. Isso está em movimento e estamos avançando", afirmou.
Outro assunto abordado foi sobre Gil ter se tornado um imortal da Academia Brasileira de Letras. Ele apontou que outros músicos também poderiam ter ocupado o posto no passado.
"Tom Jobim chegou a se inscrever e a disputar uma vaga, mas ele desistiu em prol do Antônio Callado, que era muito amigo dele. Ele abriu mão da candidatura", relembrou. "Heitor Villa-Lobos também deveria estar lá, representando esse lugar entre o erudito e o popular. Ari Barroso, Noel Rosa. Muitos poderiam estar lá representando a oralidade cantada brasileira", disse.
"Resisti durante muito tempo, mas ao final aceitei e eles me aceitaram. Agora compartilham comigo a responsabilidade de insistir na popularização do acadêmico", completou.
Grande companheiro de música de Gilberto Gil, Caetano Veloso apareceu para uma rápida participação no programa e comentou sobre o movimento tropicalista, fazendo uma provocação ao amigo. "Quando você decidiu que a história era como eu contava?", questionou Caetano.
"Decidi recentemente que a história é como nós dois contamos. Evidentemente que o impulso de reunir os artistas e levar em consideração a criação de um gesto transformador na música partiu de mim. Mas o grande organizador, no sentido de juntar todos os conceitos, fazer decupagens das linguagens, das intervenções que precisávamos fazer nessas linguagens, a criação de um novo lexo foi Caetano", respondeu Gil.