A música ao vivo tem um caráter especial, além da emoção de ver os artistas de perto, também há a imprevisibilidade de como soam as canções fora das gravações e como o público reage ao que é proposto no palco. Existem artistas que são conhecidos por darem espetáculos ao vivo. Os australianos do Rüfüs Du Sol fazem parte desse segmento. O trio está no Brasil desde o início de maio e fará a segunda apresentação na edição carioca do Festival Mita.
Formada por Tyrone Lindqvist, Jon George e James Hunt, a banda do gênero dance e eletrônica já fez um show no Mita de São Paulo e recebeu muitos elogios de frequentadores e crítica do nível da apresentação. "Uma apresentação ao vivo do Rufus du Sol é uma experiência única e completamente diferente de todo o nosso trabalho gravado", afirma Jon. "Começamos o show de forma sutil e vamos brincando com a imersão do público. Nós temos a habilidade de improvisar em certas ideias e fazer loops durante a apresentação que não estão nas músicas lançadas", explica o artista.
Mita é uma sigla para a frase Music is the Answer, que, em tradução simples, significa música é a resposta. Para Jon, vir ao Brasil após os graves tempos vividos durante a pandemia, em um evento com este nome, é muito significativo. "Quando você se sente privado de algo, ter a oportunidade de explorar a música tem sido a melhor resposta para gente. Tivemos muita sorte de ter a música nesses tempos e tenho certeza que muita gente pensa o mesmo que eu", reflete.
A banda, que já está há 12 anos na estrada, busca carregar o público em uma atmosfera própria, que conta não só com a música, mas com a iluminação e o jogo de imagens nos telões. Apesar de gostarem muito de gravar as músicas, eles entendem o ao vivo como o principal objetivo de sua arte. "Ter algo muito especial no estúdio e que nós realmente aproveitamos o processo de fazer é bom. Porém, ter a chance de compartilhar com as pessoas e ver uma multidão muito envolvida com aquilo, abraçando aquele sentimento, é incrível", classifica o músico.
No momento, eles se preparam para trazer a atmosfera para o Jockey Clube do Rio de Janeiro, sede do festival MITA de 2022. Eles retornam ao solo brasileiro pela primeira vez desde a apresentação única no Lollapalooza Brasil 2019 e se veem em outra posição, já que agora dividem o posto de atração principal do evento com a gigante banda de cartoons Gorillaz. "A primeira vez que viemos para o Brasil, nós percebemos que tínhamos uma conexão especial e sabíamos que precisaríamos voltar, fazíamos planos para voltar o mais cedo possível", conta George.
A volta demorou por conta da pandemia, mas o Brasil os surpreendeu. "É muito divertido pensar que nós nem sabíamos qual era o nosso público no país, mas já tínhamos 'come to brazil' entre os assuntos mais comentados no nosso Instagram", lembra o artista. "Nós temos muitos fãs aqui e é muito legal ver que nós conseguimos deixar uma marca no Brasil, eu sou muito grato por isso", adiciona.
“O amor pela música no Brasil cada vez fica mais evidente para mim, é um lugar em que todos tem um espaço muito grande do coração destinado para a música e isso é muito legal”, analisa Jon que tem aproveitado o Brasil há mais de 15 dias, já que chegou com a banda antes para gravar trabalhos não relacionados ao festival em estúdios paulistas. “Estou aproveitando a cidade, a comida e principalmente as pessoas, todo mundo é muito caloroso e gentil no Brasil”, diz o músico que quer transformar o país em um destino rotineiro da banda. “Espero que daqui há alguns anos a gente volte para tocar em shows ainda maiores e com mais músicas novas, mas o que temos agora já me deixa muito agradecido do lugar que chegamos”, completa.
Reconexão com as origens
Voltar a ter contato com o público do Brasil e do mundo é novidade para o trio australiano. Os três músicos estiveram longe da sociedade durante o período de pandemia. Eles se mudaram para o Parque Joshua Tree, no deserto de Mojave, localizado na California, nos Estados Unidos. A intenção era um tempo distante para gravar novas músicas mas, conforme a pandemia foi se estendendo, eles foram aproveitando o tempo para se reconectarem.
“Nós tivemos muito tempo para nos reconectarmos como amigos e redescobrir nosso amor pela música”, pontua Jon George. O artista lembra que, no deserto, usaram o tempo juntos para lembrar o que fez deles uma banda no passado.”Ser um músico durante o curso de 12 anos faz com que a gente esqueça o que fez a gente chegar aqui ainda mais com todos os percalços do caminho”, reflete.
“Nós voltamos a entender por que fazíamos aquilo, nós voltamos a ser amigos”, acredita George. O período fez com que ficasse fácil escrever música novamente e até rendeu o mais novo disco da banda, Surrender, lançado em 2021. “Nós agora conseguimos amar de novo, nós voltamos a sentir aquela faísca, aquela energia”, acrescenta.
Para o artista, uma vez que eles encontraram um lugar em comum, ficou mais fácil chegar a uma produção artística na qual eles acreditam e que agrada ao público. “Uma das melhores formas de deixar o coração mandar no próprio trabalho é fazer música pensando no que você mesmo gosta”, explica. “Quando nós fomos para o estúdio da última vez, nós estávamos lá sem um público e sem nem a ideia de ter um público por muito tempo, mas nós tínhamos certeza que o que estávamos fazendo seria muito bom quando tocado para as pessoas, ao vivo”, conclui.
Saiba Mais