O olhar de um fotojornalista para a vulnerabilidade na infância de milhares de crianças brasileiras é o tema do quinto volume da série ZL. Consciência traz 20 fotografias de José Varella realizadas entre 2000 e 2008 como parte da cobertura para uma série de matérias publicadas no Correio Braziliense. São registros que mergulham em histórias sofridas de crianças em orfanatos, suas trajetórias e eventuais encarceramentos em centros para jovens.
Todas as imagens foram editadas em preto e branco, apesar de terem sido feitas em cor, uma forma de adequar ao projeto da ZL. Nick Elmoor ficou responsável por tratar as imagens e Zuleika Souza ajudou na edição. "Essas fotos foram feitas em uma série de viagens que fez para o Correio Braziliense para umas matérias sobre infância, encarceramento de crianças em orfanatos e em presídios, jovens infratores e as comunidades, mas também com jovens nas ruas, em situação de risco", explica Zuleika.
Segundo a editora e fotógrafa, há registros realizados em Brasília e no Rio de Janeiro. "É um material muito delicado, de um tema tão difícil. E continuamos com esse problema grande de encarceramento, desse futuro sem futuro das crianças. O Zé tem uma delicadeza em mostrar esse mundo", garante a editora. O olhar do fotógrafo se traduz em imagens plasticamente bonitas, que trazem certa alegria e esperança, mas também uma tristeza profunda. "Ele não poetiza ao ponto de transcender, tem a dureza da história, todo o peso que essa tragédia tem, porque é pesado, mas tem um sorriso de esperança. E, do jeito que o Nick montou, as imagens mostram do encarceramento à liberdade, a ida e a volta, o prende e solta, a vida que começa em um orfanato e termina em um presídio. Emocionava muito o Zé esse trabalho", garante Zuleika.
José Varella era conhecido, principalmente, pelo trabalho no dia a dia da política. Ele passou por redações de veículos como O Estado de São Paulo, Isto É e Jornal do Brasil, além do Correio Braziliense. Nascido no Rio Grande do Norte, veio para Brasília no começo dos anos 1960 e chegou a começar o curso de arquitetura, que não terminou. Estudou também em São Paulo, onde se aproximou da sociologia. "Essas causas sociológicas sempre o emocionavam, sempre estiveram na vida dele. Era um fotógrafo que não estava ali só para registrar, ele pensava muito sobre aquilo, sobre como poder melhorar isso. E acho que esse trabalho tem muito disso, de dar uma luz a esse mundo. E em paralelo, fazia aquele trabalho de política, que era o forte da vida dele", conta Zuleika, que trabalhou ao lado de Varela durante mais de uma década. Jose Varella morreu em 2012, após enfrentar um câncer.
Consciência
De José Varela. Lançamento nesta quinta-feira (5/5), às 17h, no Commercial São Benedito (704 Norte)