Literatura

Autoras celebram lançamento de obras que trazem perspectiva feminina na escrita

Coletivo Editorial Maria Cobogó vai lançar cinco obras que exploram diferentes gêneros e temas sob a perspectiva da mulher

Nesta quinta-feira, o Coletivo Editorial Maria Cobogó vai celebrar o lançamento de cinco obras literárias, assinadas por cinco escritoras, que exploram diferentes gêneros e temas que buscam a perspectiva feminina. Solange Cianni, Ana Maria Lopes, Claudine M. D. Duarte e Christiane Nóbrega, integrantes do coletivo, estarão no bar Beirute da 109 Sul, amanhã, a partir das 17h. Segundo as escritoras, a festa deve ir até "quando não houver mais quibe". Porta-retrato, de Tânia Maria, que não faz parte do coletivo, também fará parte da celebração.  Entre os lançamentos, todos pelo selo do próprio coletivo, há contos, prosas poéticas, romances e poemas. Além das já citadas, Marcia Zarur é integrante do Maria Cobogó, que nasceu da união de amigas que têm em comum o amor pela escrita e pela língua portuguesa. Conheça as obras a serem lançadas amanhã.

Saiba Mais

O luto da baleia

Solange Cianni

O luto da baleia trata de uma jornada surpreendente de cura de uma mãe que perdeu o filho para o suicídio (experiência semelhante à vivida pela autora). Um tabu religioso, a autodestruição não tem perdão nas religiões que a mãe conhece. Ela decide, então, amarrar o cadáver nas costas e atravessar o lago Paranoá a nado, durante toda a noite, para entregá-lo a Nanã Buruquê, orixá conhecida como a senhora da criação e da passagem de luz dos mortos desta vida para outras. No sincretismo, a divindade é representada por Santa Ana, a quem a mãe é devota. "O livro traz fragmentos de memórias da mãe com o filho criança e adolescente. Os personagens também não têm nomes, porque quero que represente todas as mães", conta a autora. "Uma metáfora recheada de verdades e mentiras". A inspiração de Solange veio de uma pesquisa na National Geographic, que relata a saga de uma mãe baleia que carrega o filhote morto por mais de 1 mil km pelo Oceano Pacífico, até que se despede do corpo encalhado em um banco de areia. A última publicação da autora, que é pedagoga e terapeuta holística, foi em 2020, com o livro Bailarina do meu jardim.

A guerra invisível

Ana Maria Lopes

Sem a atenção merecida da historiografia brasileira, a Guerra do Paraguai (1864-1870) é a inspiração para o romance histórico da jornalista Ana Maria Lopes, que mescla personagens reais com fictícios, além de fatos históricos do conflito bélico mais sangrento da história da América Latina, segundo a autora. A história é contada sob a perspectiva feminina, trazendo à tona personagens mulheres esquecidas ou rejeitadas pelos historiadores. "O papel das mulheres foi predominante. Foram para guerra, pegaram em armas e deram o suporte na cozinha. Com 80% da população masculina dizimada, foram elas que reconstruíram o Paraguai", conta Ana Maria.

O interesse pela história da guerra começou quando, ainda nos anos 1970, Lopes foi ao Paraguai e viu um muro escrito "Abaixo o imperialismo brasileiro", o que a fez ler sobre a guerra (no Paraguai é chamada de Guerra do Brasil) desde então, por curiosidade.

Atlas de memórias e outros exílios

Claudine M. D. Duarte

"Bem despretensioso, com pouco conteúdo, mas intenso", é como Claudine define a sua publicação. Dividido em duas partes, a primeira traz 12 minicontos inspirados em personagens femininos de clássicos literários. Os contos, escritos em prosa poética, falam de homens pela perspectiva das mulheres, além de abordar relacionamentos, dificuldades e desencontros. "Não é fácil gostar das personagens. Assusta estar no lugar delas", revela a autora. A segunda parte é composta por três textos envolvidos pela atmosfera de isolamento da pandemia. As ilustrações são assinadas por Tâmara Habka.

Claudine já adaptou e dirigiu Uma criatura dócil, de Fiódor Dostoiévski, no teatro, em 2016. Dois anos depois fez o mesmo com O legado de Eszter, do escritor húngaro Sándor Márai. No mesmo ano, foi finalista do Prêmio Jabuti, com o projeto Calangos Leitores, onde coordena clubes de leitura para adolescentes de escolas públicas no DF.

Hiato

Christiane Nóbrega

Hiato é uma jornada de autodescoberta de uma mulher casada, que acaba se divorciando. Em seu romance fragmentado, Christiane Nóbrega traça o perfil de uma mulher que amadurece na dor e toma as rédeas da vida após chegar ao limite do suportável no relacionamento. "O livro partiu de um desafio. Separei em 2019 ao mesmo tempo que várias amigas e conhecidas passavam pelo mesmo e acabei me inspirando nessas histórias. O livro tem uma visão feminista, de empoderamento", detalha a autora.

Hiato é a primeira publicação de Nóbrega que não é direcionado para o público infantil. Em 2016, lançou Júlio, um dinossauro muito especial, pela Franco Editora; em 2017, A Branca de Leite, pelo C de Coisas; e Fios, pelo Maria Cobogó, obra pela qual foi finalista do Prêmio Jabuti 2020.

Porta retrato

Tânia Maria

Entre as escritoras que lançarão livros nesta quinta-feira, Tânia é a única que não integra o coletivo Maria Cobogó. Celebrando seus 80 anos de vida, Tânia Maria Diniz reuniu 80 poemas, inspirados na sua vivência, na publicação intitulada Porta-retrato. São poemas confessionais, de vida, de amor, de fé, de resistência e de memória, que totalizam em cinco blocos de texto, com escritos que remontam à infância da escritora.

Por pouco, o público jamais poderia ler os poemas de Tânia. Os manuscritos acabaram sendo encontrados por um dos netos da goiana de Ipameri. Logo, ele propôs à família a confecção da obra, pedido prontamente aceito e que mobilizou diferentes gerações da parentada. "Estou no bonde da vida. Ele é ligeiro, lento, destemido, covarde, fiel, infiel. Enquanto não chego no destino, lá vou eu, vivendo, apenas, o momento", diz o poema Sensação, presente na publicação.