No romance 2047 — A revolução dos dementes, segundo volume da trilogia de Max Telesca, qualquer semelhança com a vida real no Brasil não é mera coincidência. A começar por Lisarb, país fictício e distópico onde se desenvolve a trama e que foi apresentado no primeiro livro, intitulado 2038 — A instituição da cleptocracia num futuro não muito distante, lançado em 2016. A continuação da saga está ambientada num futuro próximo, mas alinhada com os tempos atuais.
Com a derrocada de um tal Partido Ético e Verdadeiro (PEV), o jornalista Alex Tedesco volta ao país para coordenar a campanha de Cairo Góes à Presidência da República e tentar tirar do poder o ensandecido Lair Montanaro, e ainda precisa lidar com a candidatura do seu antigo aliado, Servius Mórus. Uma epidemia espalha o vírus da estupidez, a Rened-47, e transforma as personagens atingidas em seres animalescos, conta o autor, que é advogado, tem 47 anos e é membro da Academia Brasiliense de Letras e presidente do Instituto de Popularização do Direito (Ipod).
2047 — A revolução dos dementes
De Max Telesca. Disponível em pré-venda na Amazon. Lançamento no dia 31 de maio, às 19h, no restaurante Fuego (112 Sul, Bloco A, loja 3). R$ 69.
Em Cem anos de solidão, Gabriel García Márquez inventou a cidade de Macondo, e você apresentou ao leitor um país chamado Lisarb, no seu primeiro livro, 2038 — a instituição da cleptocracia num futuro não muito distante. Agora você vem com 2047. A cidade fictícia de Gabo é uma fonte de inspiração para você?
Com certeza, o realismo mágico dos autores latino-americanos são influências, especialmente neste segundo volume da trilogia. Cem anos de solidão é uma referência obrigatória. Mas não apenas este autor. Quando me isolei para terminar o 2047, busquei a releitura de alguns clássicos da literatura brasileira e universal, como Incidente em Antares (do meu conterrâneo gaúcho Érico Veríssimo), A peste (Albert Camus), Por quem os sinos dobram (Ernest Hemingway), e, obviamente, 1984 e A revolução dos bichos (George Orwell). Eu ainda tentei criar alguns diálogos na estruturação de um conto que é uma obra-prima do Caio Fernando Abreu: Linda, uma história horrível. Para as partes finais, quando o personagem Alex Tedesco vai para o Estado Celeste, de carro, tem uma passagem que eu gosto muito, bastante lírica, poesia em prosa, que eu tentei ambientar à maneira Jack Kerouac.
Suas obras são de ficção e qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real não é mera coincidência. Motivação não faltou, não é?
Partiu de uma angústia muito grande com a realidade. Eu costumo dizer que 2038 nasceu de várias mortes, porque foi escrito por um Max Telesca com 36 anos. É o meu olhar do que é a nossa política, e o primeiro traz essa certa desilusão com aquilo que a gente acreditava de melhor na política, que poderia ser algo transformador. Mas essa transformação não é e não foi como a gente gostaria que fosse.
E 2047?
Quando eu lancei o primeiro livro da saga, o 2038, na Feira do Livro de Porto Alegre, em 2016, um repórter disse que, ao final da leitura do livro, havia sentido necessidade de ler mais sobre aquela história, como se o romance não tivesse terminado. Eu havia escutado este sentimento de outras pessoas, desde o lançamento em agosto daquele ano. Nessa ocasião nasceu a ideia, já gestada, mas ainda não confirmada, de transformar o 2038 no primeiro romance de uma trilogia. Com o tempo, com a observação do que vem ocorrendo na política, com a crise de representatividade, pensei num fio condutor que fosse uma abordagem sobre aquilo que considero o maior de todos os problemas do sistema político: a instrumentalização da institucionalidade democrática para a obtenção de interesses privados, mas a realidade real me trouxe uma aflição maior.
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