Soraya Ursine*
Habituado ao Festival de cinema de Cannes, o cineasta italiano Marco Bellocchio, 82 anos, volta ao tapete vermelho, fora da seleção competitiva, dada a exibição de série criada em parceria com a empresa Arte, onde ele faz uma releitura da morte de Aldo Moro, presidente italiano sequestrado em 1978 pela Brigada Vermelha. O tema já tratado por ele no filme Bom dia, noite (2003).
A série, com seis episódios, será apresentada em duas partes na Itália, mas no festival foi apresentada em um compacto de cinco horas, que reteve o publico sem descolar da poltrona, aplaudindo por vários minutos o grande maestro após a exibição. A obra tem fotografia impecável, música grandiosa, riquíssima e lírica linguagem visual. Bellocchio explicou haver necessidade de rever o assunto, pois , em 2003, ele teria explorado o interior do ex-presidente, e buscou explorar o exterior da morte de Aldo Moro.
Todos os episódios trazem a maestria do grande diretor, fazendo de cada um, uma obra de arte por inteiro, onde o cuidado recai sobre seus excepcionais atores e as composição das cenas. O espectador faz uma introspecção que o leva a conhecer as circunstâncias do fato e o caráter dos personagens. No primeiro episódio, há cenas de extrema ação com estilo documental. Nele, está a Itália fraturada dos anos de 1970, em um ambiente político de um estado absolutamente ausente, mas com um presidente humano, fragilizado por um sistema instituído e desumano.
E no decorrer da narração, toda a cultura desta Itália fragmentada, mas riquíssima, vem em cena, nos remetendo a grandes clássicos. Sem julgamento dos personagens, o diretor constrói sua obra, trazendo ora uma ópera, ora um thriller, mas em tom seco e ajustado ao estilo das séries atuais. A pergunta 'Por que Moro foi assassinado?' é latente em cada personagem.
Para realizar esta obra perfeita, Bellocchio escolheu uma equipe de atores de primeira: Toni Servillo, que interpreta um Papa angustiado, Fabricio Gifuni, na pele de Aldo Moro e Marguerita Buy, na pele de Eleonora Moro, a esposa de Moro. Perfeitos em suas interpretações, eles dançam a musica de Bellocchio, trazendo para a tela, a beleza poética das grandes obras cinematográficas.
* Especial para o Correio
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