Os pais são exemplos, são pessoas que, na maioria das vezes, marcam a vida e deixam ensinamentos importantes. Porém, pais famosos podem ser uma responsabilidade para os filhos que querem seguir a carreira da arte. As comparações são inevitáveis e o que sempre foi um exemplo passa a parecer um peso.
A forma de fazer as pazes com essa cobrança é buscar dar os primeiros passos criando uma identidade artística própria, que pode até beber das referências dos pais, mas vai para um novo lugar. A ideia é se diferenciar, sem se perder da própria origem. São artistas que fazem parte de uma nova geração e que ainda levam um sobrenome conhecido para frente.
A cantora Flor é uma das que tem tentado a vida a partir do próprio nome. Ela é filha de Seu Jorge e embarcou, recentemente, em uma carreira de cantora, tendo lançado três singles: Macumbeira; Sapiens, com participação de Arthur Verocai; e Pra melhorar, que conta com Marisa Monte e o próprio Seu Jorge colaborando. "Eu estou um pouquinho em choque de começar a minha carreira, porque estou esperando por isso a minha vida inteira. Estou praticando, aprendendo, observando meu pai e as pessoas em volta dele", conta a artista.
"Como todo o adolescente passa por uma fase, eu passei por aquele período de: 'não quero mais fazer música, porque todo mundo vai olhar para mim só como filha do Seu Jorge'", lembra. "Porém, quem é Seu Jorge? Um cara que saiu do nada e construiu uma carreira honesta, conquistou o respeito do país dele e ainda o respeito internacional. Eu quero ter as respeito das pessoas assim como ele", reflete a musicista.
Flor vive com a mãe, Mariana Jorge, em Los Angeles, nos Estados Unidos, desde os 10 anos. Portanto, foi criada em uma cultura diferente e, também, com certa distância do pai, que trabalhava sempre viajando muito. O fato, contudo, não impediu que os dois nutrissem uma relação muito próxima e conectada pela música. "Ele sempre vê o processo da música, me passa a crítica dele e eu tento ser um pouquinho rebelde, mas toda a opinião dele eu levo muito a sério", afirma Flor, que confessa que o pai é coruja. "Eu passo vergonha com ele mostrando as minhas músicas para todos os amigos. Ele também fica no meu pé falando que eu tenho que lançar as minhas músicas e me dá muito suporte", adiciona.
Outra artista que tem no pai a entrada na música é Tília, filha do Dj e produtor de funk Dennis. A cantora do pop iniciou a trajetória após fazer sucesso na plataforma TikTok reagindo a músicas antigas do pai. Com forte investimento no desenvolvimento da carreira, ela lançou o álbum de estreia, 2003, trabalho que tem expectativas altas. "Eu quero que as pessoas consigam esquecer dos problemas e se conectar na música e se divertir. Que interpretem a letra, porque eu gosto muito de fazer letras feministas, empoderando a mulher. Quero que, quando uma mulher ouça a minha música, se sinta poderosa, livre, alegre e aproveite", almeja a cantora.
A cantora aponta que um dos melhores benefícios de ter escolhido essa carreira é saber que o auxílio do pai vem do fato que ele já viveu as situações. "Fazer música em família é uma delícia. Passar tempo com meu pai, ali no estúdio, eu amo. E é muito bom que meu pai consegue entender tudo que eu falo, tudo que eu quero", conta Tília. "Não tenho muita técnica, às vezes falando, e eu faço os barulhos com a boca e ele consegue entender e vai me ajudando e ensinando", complementa.
Tília, contudo, não quer ser lembrada apenas como filha de Dennis. A artista inclusive tem uma música no disco toda sobre o assunto, Venda casada, em que pede: "me deixa trabalhar, pô" e lista formas que é chamada por ser filha do famoso produtor, termos como "mimada" e "venda casada" são alguns deles. "Eu quero mostrar que eu sou muito mais que filha de alguém. Eu quero mostrar minha história, fazer a minha história. Falar sobre as minhas dores e conquistas. Cada um nasce para fazer sua história, além de ser alguma coisa de outra pessoa", comenta.
Em um momento parecido da carreira, Theo Bial, filho do jornalista Pedro Bial e da atriz Giulia Gam, lançou um álbum recentemente. Intitulado Vertigem, o disco foi apresentado ao público em 6 de maio e mostra a forma como o músico quer expressar a própria arte."Gostaria de levar paz para as pessoas. Reflexão, questionamentos... Amor ao próximo, amor à natureza", afirma o cantor. Pretendo levar um pouco disso tudo para as pessoas e sei que o tempo é cada vez mais valioso. A vida está acelerada, é tudo muito rápido. Então, se eu puder proporcionar algum momento bom para alguém, estarei realizado", completa o cantor, que tem focado na carreira desde 2017.
"Ser artista requer muito esforço e, para que eu tenha reconhecimento, as pessoas precisam gostar do meu trabalho. Ninguém vai gostar da minha música só por causa do meu sobrenome", acredita Theo. Entretanto, ele sabe a importância que a criação no meio artístico teve para a escolha de vida que decidiu seguir. Um bom exemplo vem da mãe, foi Giulia Gam que indicou que tocasse violão e, desde então, o instrumento nunca mais o deixou se sentir sozinho. "O violão é sempre um companheiro. Ele me dá calma e muitas vezes clareia meus pensamentos. Acho que a solidão não depende muito de estarmos ou não com alguém. Depende muito de como estamos com nós mesmos. O violão me ajuda a ficar melhor comigo mesmo reflete.
Ele vê os próprios passos e acredita que tem um legado deixar. No entanto, sabe de onde veio e o que carrega dos pais. "Acredito que minha relação com o palco vem muito da convivência com minha mãe. Desde pequeno ela me levava nas peças e nas filmagens. É um lugar pra mim onde tudo faz sentido. Do meu pai acredito que herdei uma certa curiosidade jornalística. Gosto muito de estar com pessoas diferentes, conversar sobre assuntos da vida, entender as questões dos outros, ler, pesquisar", conta Bial.
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