Crítica

Confira a crítica do filme francês 'A fratura'

Com ideais de uma sociedade liberta, a diretora Catherine Corsini aprisiona galeria de personagens enfurecidos dentro de alas hospitalares. Questiona, com o filme, quem de fato estaria doente

Ricardo Daehn
postado em 05/05/2022 07:20
 (crédito:  Imovision/Divulgação)
(crédito: Imovision/Divulgação)


Crítica // A fratura ####

Saúde à prova

Não é nada mórbida — e em tempos de sofrimento com o impacto da covid-19 é bom ressaltar — a comédia A fratura, toda passada em calamitoso ambiente hospitalar. Com roteiro criado em conjunto com colaboradoras dos filmes dos consagrados Olivier Assayas e François Ozon, a reconhecida diretora Catherine Corsini, que, no Festival de Cannes, teve a obra celebrada com a Queer Palm (dedicada ao cinema LGBT), cria um filme complexo e repleto de agitação e graça.

Completamente sem noção, e perdida entre sentimentos fortes e desprovidos de filtros, Raphaelle é a protagonista atolada em confusão, emocional e física, ao ter que largar Julie (Marina Foïs), por quem ainda está enamorada. Nos tropeços da vida, Raphaelle literalmente cai, sendo atendida com uma espécie de joelho, no lugar do cotovelo, dada a gravidade de seu ferimento.

Entre absurdidades, a protagonista (uma cartunista imobilizada) apresenta a cada momento um sorriso sardônico, que cabe sob medida à divertida presença cênica de Valeria Bruni Tedeschi. Dona de muito zelo e compaixão, a atriz (e cuidadora de idosos, na vida real)
Aïssatou Diallo Sagna dá vida e colorido à enfermeira Kim, papel capaz de lhe render o prêmio César de melhor intérprete coadjuvante.

Na linha de explorar a relação amorosa entre duas mulheres, como feito em Um belo verão e A repetição, Corsini avança ainda pelo tema de responsabilidade, num acidente de trânsito (tema do anterior 3 mundos). Daí, o despontar do motorista de caminhão Caron (Pio Marmaï) no enredo.

Dotado de tênue espírito revolucionário, o cinema de Corsini traz à tona a discussão e as reflexão que cercam o movimento dos chamados coletes amarelos, insurgentes contra desmedidos avanços capitalistas. A fratura mostra a sua extensão, ao acolher situações como a da insegurança reservada a cidadãos, tensão imperante entre pessoas alarmadas e a inexistência de debate frente à tropa de choque governamental. Policiais capachos, o discurso bizarro entre alas de pacientes misturados e o zelo pelo bem estar de terceiros também engrossam o caldo de A fratura.

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