Carnaval

Conheça o Exu da Grande Rio, ex-jogador de futebol e filho de evangélica

Demerson D'alvaro foi o destaque do desfile da escolas de samba do Rio de Janeiro, encarnando Exu no comissão de frente da campeã Grande Rio

Maior destaque da Acadêmicos da Grande Rio, talvez de todo o desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, Demerson D’alvaro entrou para a história do carnaval ao encarnar o orixá Exu. Com o enredo Fala, Majeté! Sete chaves de Exu, o desfile rendeu à agremiação o título inédito de campeã e o Estandarte de Ouro de melhor escola, que teve a intenção de desmistificar a divindade africana, equivocadamente associada ao diabo no imaginário cristão. No entanto, a performance marcante de D’alvaro não significa que ele seja adepto de alguma religião de matriz africana.

Cria de Honório Gurgel, subúrbio do Rio de Janeiro, o ator conta que sua família tem representantes de diversas religiões, incluindo uma avó umbandista e mãe evangélica, mas que não frequenta nenhuma igreja ou outro templo religioso, apesar de crer em Deus. Em entrevista ao Extra, ele lembrou que já viveu caboclos e pretos velhos na avenida, além de outro Exu, na comissão de frente do Salgueiro, no carnaval de 2016.

Para o desfile deste ano, Demerson investiu em alguns detalhes sobre a preparação para o personagem que impactou a Sapucaí. Ele se preparou com uma mãe de santo da família e recebeu do Ifá D'olu patuás vindos especialmente da África. O carioca também contou com a ajuda da esposa Isadora, adepta do candomblé, indicando-lhe leituras sobre a religião.

Com suporte técnico do coreógrafo Hélio Bejani, Demerson fez pesquisa de campo dos axés e estudou sobre os balés afros da Bahia. Antes de entrar na avenida, lavou as mãos com uma água de ervas para garantir proteção e abrir os caminhos. Ao Globo, ele falou que, para aperfeiçoar a coreografia em que Exu cospe o padê, gastou 10 kg do produto na semana que antecedeu o desfile, treinando para o grande momento.

Dos campos às passarelas

Por pouco, o menino nascido e criado no subúrbio carioca não virou jogador de futebol. Chegou a fazer base como goleiro em alguns times pequenos, como o Art Sul e o São Cristóvão. No Fluminense, fez testes, mas não foi aprovado. No São Cristóvão, ele foi de uma geração que veio pouco depois do Ronaldo Fenômeno. Quando se profissionalizou, chegou a jogar pelo Japeri.

Os primeiros convites para trabalhar como modelo fizeram Demerson repensar a carreira. Nas passarelas, passou a ganhar mais do que conseguiria nos campos de futebol. Como vem de família humilde, escolheu a carreira que poderia lhe proporcionar um futuro melhor, mesmo sem esquecer a paixão pelo esporte.

Atualmente, D’alvaro é morador do bairro Riachuelo, mas ainda tem uma forte relação com a comunidade de Honório Gurgel, onde tem um projeto social com um time de futebol infantil, o Marimba, apelido do pai de Demerson, que mantém contato com clubes do Rio.

*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel

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