Alguns já anunciaram a morte do rock brasileiro, no entanto o gênero segue vivo, não tão vigoroso como em outros tempos, mas resistindo de diversas formas, em inúmeras vertentes. O punk, surgido em meados dos anos 1970 mais ruidoso, acelerado e politizado, é uma das ramificações do rock que atravessaram décadas, mantendo, até hoje, um público extremamente fiel não só à música, mas a uma postura diante da sociedade e a tudo que o indigna.
Em Brasília, o punk tem seus representantes, entre eles a banda Besthöven, formada em 1990, liderada pelo multi-instrumentista Robson Felipe, mais conhecido como Fofão. Após muitas trocas de integrantes, Fofão passou a tocar a banda sozinho a partir de 1994, comandando os vocais, o baixo, a bateria e a guitarra. Para as apresentações ao vivo, ele convida músicos temporários para completar a formação.
Besthöven carrega influências sonoras e poéticas de bandas da década de 1980, principalmente da Suécia e do Japão, com o estilo conhecido mundialmente como D-beat, uma variação do punk com a batida mais caótica que leva ao público temáticas como o horror da guerra e o perigo nuclear.
Desde os anos 1990, antes mesmo da popularização da internet, Fofão vem criando e fortalecendo contatos com músicos do mundo todo. "Trocávamos fanzines (publicação não profissional e não oficial, produzida por entusiastas de uma cultura particular) e fitas tapes com bandas de diferentes países pelos correios, tanto para mostrar o nosso trabalho quanto para que conhecêssemos a música deles também", recorda o artista, que explica que essas trocas também foram uma forma de alcançar públicos de outros países. De uma fita tape eram feitas várias cópias e distribuídas para outras pessoas. "Na página da banda no Facebook fãs de todo o mundo publicam fotos com as camisetas do Besthöven e até tatuagens. Muitas vezes eles são de lugares por onde eu nunca nem passei."
Em 2011, a banda teve a oportunidade de fazer sua primeira turnê no exterior. Foram 40 shows, ao longo de 40 noites seguidas, em 40 cidades diferentes, passando por países como Alemanha, Itália, Suécia, Suíça, Holanda, Bélgica, Espanha, França, Dinamarca e Finlândia. A ocasião possibilitou que ele encontrasse pessoalmente várias amizades que vinham sendo cultivadas a distância, fortalecidas pelo amor ao punk.
Oito anos mais tarde, Fofão embarcou para o Peru para outra turnê internacional. A banda lança álbuns físicos desde 2004 no país vizinho, onde tocou ao lado de bandas como Autonomia, Vete a la Mierda, DHK e Punk Terrorist. Agora, Fofão se prepara para a próxima temporada de shows fora do país, dessa vez no México, país onde também tem muitos amigos e vários lançamentos em tapes e CD's. Intitulada Canciones contra la guerra, a turnê começa em 30 de abril, com duas apresentações no Punkytud, tradicional festival de punk na Cidade do México, no qual Besthöven configura entre as atrações principais. Depois a banda segue com apresentações em cidades como Cancún, Monterrey, Querétaro, Salamanca e Guadalajara.
Trabalho
As primeiras gravações em vinil de Besthöven ocorreram em meados dos anos 1990, após convites feitos pelo baterista da banda finlandesa Força Macabra e pelo vocalista da Disclose, do Japão. Hoje, a discografia da banda é gigantesca, com mais 100 lançamentos entre álbuns, EP's, coletâneas, relançamentos e splits (discos compartidos entre duas bandas, uma de cada lado do vinil), segundo Fofão. Todos os anos, Besthöven lança, em média, dois ou três discos.
Tamanho é o material já lançado, que, em 2020, Fofão escreveu, editou e lançou um livro sobre a discografia, com todas as capas, detalhes de cada disco, como onde foi lançado, quem convidou, qual selo lançou e histórias de bastidores. A publicação com 2020 páginas foi lançada pelo selo do próprio Fofão, Ulixo de Brasília.
Em 2007, em comemoração aos 17 anos de existência da banda, 17 bandas de diversos países gravaram um álbum de tributo, tocando músicas da Besthöven. Mercyless Game (EUA), CTHUWULF (Japão), Força Macabra e Beton (Eslováquia) foram alguns dos grupos que participaram da homenagem.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco