Cinema

Confira a crítica do filme 'Paris, 13º distrito', de Jacques Audiard

Em 'Paris, 13º distrito', Jacques Audiard segue firme no cinema autoral e repleto de conteúdo

Ricardo Daehn
postado em 28/04/2022 12:19
 (crédito:  Shanna Besson/Divulgação)
(crédito: Shanna Besson/Divulgação)

Crítica // Paris, 13º distrito

Prioridades em ebulição

Aos quase 70 anos de idade, o diretor Jacques Audiard se prova, sistematicamente, um ótimo contador de histórias. Num crescente, constrói carreira destacada, desde o belo De tanto bater meu coração parou, passando pelo profundo O profeta (vencedor do Grande Prêmio, em Cannes), e com direito ainda ao doloroso Ferrugem e osso e Dheepan: O refúgio, este último, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes.

É através dos acréscimos, com a inspiração focada em enredos de cartum assinados por Adrian Tomine (em 2020, responsável por A solidão de um cartunista de longa distância), que Audiard examina o amor e, com filtro original, o bairro de Olympiades, em Paris, 13º distrito. A roteirista Céline Sciamma (do aclamado Retrato de uma jovem em chamas) reforça a escrita do novo longa de Audiard, na mesma medida em que Léa Mysius (de Ava) dá fôlego ao time de roteiristas — trazendo mais naturalidade à exploração da sexualidade feminina disposta em Paris, 13º distrito.

Atores promissores, Lucie Zhang e Makita Samba trazem a consistência e o interesse, num caldeirão cultural: ela, de origem asiática, tenta respirar, entre um exaustivo atendimento de telemarketing; e ele, negro, bate ponto como professor universitário. Assumidamente, o cineasta Jacques Audiard bebe da fonte dos enredos de amores ligeiros, no passado, desenhados nas tramas do romântico Éric Rohmer.

Pelo preto e branco estilizado na fotografia de Paul Guilhaume (do documentário Adolescentes), Audiard se aproxima da Paris que, onde, desde criança, circula. Pretendeu dar à cidade um aspecto asiático e distanciado. Justamente nisso reside a força do longa, que examina o teor de relações contemporâneas, superficiais e em nada construídas: o filme centraliza um debate (discreto) na falta de traquejo entre os jovens, exaustivamente, engolidos pelas jornadas de trabalho e pouco hábeis na lida com os sentimentos.

Sobrepujando o terreno sentimental de Émile (Lucie Zhang) e Camille (Makita Samba), desponta a personagem de Nora (Noémie Merlant), que adentra a universidade um pouco envelhecida em relação aos colegas e passa por um escrutínio severo e criminoso, ao ser confundida com a stripper Amber (Jehnny Beth). Ao som de uma premiada trilha sonora assinada por Rone, todos os jovens vão redefinindo prioridades e assinalando as perdas frente a velhas e novas escolhas. Tudo com a sexualidade em polvorosa.

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