A chamada "Era de Ouro" de Hollywood esconde capítulos conturbados atrás de grandes produções. Depois das acusações de abuso durante as filmagens de O mágico de Oz, veio à tona uma overdose acidental nos bastidores de E o vento levou. Sofrida por Vivien Leigh, intérprete da protagonista Scarlet O’Hara, a intoxicação com tranquilizantes é um capítulo da mistura de elementos explosivos: grande sucesso nas telas e palcos, uma vida de exageros na bebida e no sexo, e um transtorno mental grave tardiamente identificado.
A passagem da biografia de Leigh foi retratada no livro Truly, Madly: Vivien Leigh, Laurence Olivier and the Romance of the Century (Verdadeiro, louco: Vivien Leigh, Laurence Olivier e o romance do século, em tradução livre). Conta-se que ela teve uma crise ansiosa por causa do ritmo intenso de gravações e recebeu, logo depois, uma carta do amado Laurence Olivier que a repreendeu: “Como você se atreve a tomar quatro pílulas assim, sua maluca”.
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Embora preocupada, a mesma carta trazia passagens sexualmente insinuantes, dando o tom de como era a vida dos então recém-casados. Como o título diz, o livro do canadense Stephen Galloway é focado no relacionamento conturbado dos atores. Em meio a sucessos, fracassos, separações e adoração pública, o romance, que começou com adultério de ambas as partes, durou 20 anos.
“Eles pareciam ter tudo; e, no entanto, em suas próprias mentes, estavam arruinados, condenados por uma doença mental que nenhum dos dois entendia, que transformou seu relacionamento de sonhos em um pesadelo vivo”, diz o escritor. Galloway, que é ex-editor executivo do site especializado em personalidades The Hollywood Reporter, fez questão de enfatizar como o transtorno bipolar de Leigh, à época conhecido como depressão maníaca, impactou nos altos e baixos do casal, assim como na vida profissional de ambos.
Em jornais internacionais, como o The Guardian e o The New York Times, a crítica literária destaca a inovação do escritor ao ouvir especialistas em saúde mental da atualidade para contrapor aos relatos autobiográficos escritos na época em que os fatos aconteciam. Apesar de a primeira intoxicação ter sido acidental, Leigh passou por diversas tentativas de suicídio ao longo da vida, o que é comum para um paciente bipolar. Pesquisas apontam que pessoas com esse transtorno têm um risco 23 vezes maior de atentar contra a própria vida que a população em geral.
Para Galloway esse foi um aprendizado trágico deixado pelos quatro anos e meio dedicados a entender e recontar a história do casal. “As pessoas pensavam que Vivien era apenas maluca e alcoólatra”, contou em entrevista ao The New York Times. “Eles não tinham absolutamente nenhuma simpatia pelo fato de que ela estava na posse de uma doença muito grave que mudou seu comportamento”, complementou.
E a tragédia também se estendeu ao casamento das estrelas. “Como, mesmo com a maior e mais consumidora atração, um pouco de areia na ostra pode se tornar uma pérola escura. Como, se você não for cuidadoso, pequenas coisas podem construir e construir até que este pedregulho tombe e esmague o relacionamento. Não sei como você evita isso. Essa é uma lição de advertência”, finalizou o escritor.
Lançado em março deste ano no mercado internacional, o livro Truly, Madly não tem previsão para ser publicado no Brasil. Entretanto, é possível encontrar a versão em inglês à venda para importação ou em forma de e-book.
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