Nos 62 anos da capital, um enredo que envolve cumplicidade, casamento de propósitos e compromisso de eterna fortuna crítica estampa os feitos de uma mostra no Cine Brasília (EQS 106/107). Com entrada franca, o evento que transcorre nesta sexta (22/04), entre as 10h e 20h, é intitulado Maratona de Filmes e teve curadoria das jornalistas Carmem Moretzsohn e Gioconda Caputo. Grosso modo, seis produções de cinema, fundamentais em momentos distintos da vida cultural de Brasília, formatam a programação.
Tainá — A origem dá a largada, às 10h, com participação de alunos de escolas públicas e o público em geral. Conduzido por Rosane Svartman, o filme, que conta com o brasiliense Nilson Rodrigues como coprodutor, enfoca aspectos da importância e do respeito pela preservação ambiental. Atração programada para sequência, às 12h, a comédia A canoa furou tem por astro Jerry Lewis. O filme teve realização em 1959, e revela os empecilhos para a pretendida lua de mel de um ex-oficial da Marinha norte-americana que se vê preso às forças militares, mesmo em momento de extrema importância para a vida pessoal. Dirigido por Norman Taurog, o longa marcou a inaugural sessão de abertura do Cine Brasília, e que contou com a presença do presidente Juscelino Kubitschek.
Maior colorido local volta a ser injetado na sessão das 14h, com o longa Louco por cinema que, no 27º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, conduziu o filme e o diretor André Luiz Oliveira à vitória com seis prêmios Candango, computados os de melhor filme e melhor diretor. Na trama, a sanidade de um realizador é posta à prova, depois que ele assume o arriscado plano de concluir uma obra de cinema, por décadas, inconclusa.
Nome de peso no cinema nacional, o realizador paraibano Vladimir Carvalho, radicado em Brasília desde os anos de 1970, integra Maratona de Filmes com Barra 68 — Sem perder a ternura, que, há 20 anos, foi consagrado no Festival de Brasília, quando expôs a direta interferência militar nos corredores acadêmicos da universidade. A narração do documentário é do ator Othon Bastos, presente no título seguinte, a ser mostrado às 18h: Bicho de sete cabeças, filme assinado por Lais Bodanzky. Com participação vital do ator Rodrigo Santoro, o longa mostra processos degenerados de suposta recuperação mental reservada a pessoas condenadas ao esquecimento em manicômios.
Finalmente, às 20h, a sessão celebrará Arnaldo Jabor, diretor e cronista morto em fevereiro passado. O filme escolhido é de 1978: Tudo bem, irônico desde o título. Regulamentos, normas sociais e o famigerado “jeitinho” nacional assentam espaço na trama que repercute os bastidores de uma reforma em apartamento carioca. Dotado de um sentimento de admiração por indigenistas (em nada, valorizados, ontem e hoje), o protagonista de Paulo Gracindo é um aposentado que carrega o desinteresse pela mulher interpretada por Fernanda Montenegro. Ditando máximas como “massas para a massa”, Jabor introjeta um punhado de tiradas alegóricas que revelam, indiretamente, o Brasil enamorado por estrangeiros, a cegueira acoplada à religião e a prática da bondade, tão festejada pelos brasileiros.
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