Quando começou a idealizar a exposição Brasilidade Pós-Modernismo, a curadora Tereza Arruda fez para ela mesma algumas perguntas sobre o impacto do modernismo e da Semana de 22 na arte contemporânea brasileira. Tereza queria entender se as indagações e os questionamentos da época ainda pautavam a produção de arte nacional. A resposta veio nas dezenas de obras de 51 artistas que compõem a exposição em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Brasilidade Pós-Modernismo é dividida em cinco núcleos — Liberdade, Identidade, Estética, Futuro, Natureza — e ocupa as três galerias do CCBB com obras de artistas de diversas gerações e localidades e um diálogo intenso com a história da arte brasileira. "A mostra é composta de núcleos distintos que pautaram temas desses questionamentos da Semana de 22 e da evolução dessa tentativa de modernismo brasileiro, que é o preceito de liberação dos parâmetros eurocentristas que demarcam nossa história da arte, parâmetros que foram introduzidos não de forma igualitária, mas por certas imposições", explica Tereza.
A curadora lembra que, quando se fala em modernismo, há uma expectativa de se fazer um retrato do Brasil, mas esse recorte não comporta apenas uma única imagem e sim um mosaico multifacetado que encontra eco nos cinco segmentos da exposição. "São segmentos que norteiam nosso contexto e indagações atuais", avisa Tereza. Parte da pesquisa da curadora se debruçou sobre a essência e as ambições da Semana de 22 com o intuito de investigar se a pauta proposta pelos modernistas foi conquistada ou perdeu a validade. Após muito diálogo com os artistas convidados e visitas aos ateliês, Tereza concluiu que ainda há um processo de construção em curso das ideias propostas no início do século 20.
Um vídeo com entrevistas com os artistas abre o caminho para Brasilidade Pós-Modernismo, que foi vista por mais de 70 mil pessoas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na gravação, eles falam sobre as obras e as conexões com o modernismo. Entre eles está Jaider Esbell, artista de etnia macuxi morto em novembro de 2021 e cujo trabalho tem trilhado caminho para a representatividade indígena na arte contemporânea brasileira. Uma pintura de Esbell está no núcleo Estética, ao lado de nomes como Delson Uchôa, Beatriz Milhazes, Ernesto Neto, Emmanuel Nassar e Nelson Leirner.
Construída com base no diálogo com os artistas, a exposição tem, principalmente, obras inéditas selecionadas nos ateliês. "Tive oportunidade de visitar vários artistas. Fomos construindo uma conversa, construindo nossas metas. São trabalhos que nem sempre estão em acervos de instituições com visibilidade contínua", avisa Tereza.
Os segmentos ajudam a trazer algumas das temáticas que perpassam a arte brasileira, mas que também eram alvo do interesse dos modernistas. Em Natureza, o comprometimento ético com o ambiente e a sustentabilidade ganha o mesmo peso que a representação geográfica em trabalhos assinados por artistas como Caetano, Dias, Gisele Camargo e Luzia Simons, autora de uma tapeçaria exuberante na qual o avesso traz reflexões sobre flora e fauna. A brasilidade é um dos temas mais explícitos em Estética, enquanto Liberdade revisita momentos difíceis da história e da realidade nacionais com obras de Adriana Varejão, Farnese de Andrade, Anna Bella Geiger, José Rufino e Rosana Paulino.
Em Identidade, o Brasil profundo protagoniza as pinturas de Fábio Baroli e a mortalidade entre a população carcerária negra pauta o vídeo de Bela Reale. De Brasília, Camila Soato também está nesse segmento com um painel formado por seis telas nas quais o Brasil da gambiarra encontra um clássico do impressionismo em combinação inusitada.
Em Futuro, Tereza Arruda trouxe Brasília como símbolo da esperança utópica nos tempos da construção e da inauguração. Fotos de Joaquim Paiva, uma pintura rara de Oscar Niemeyer, desenhos de Lucio Costa, um filme em super 8 de Jorge Bodansky e obra na qual Cildo Meireles dialoga com a ideia de pesos, medidas e valores formam o núcleo. No segmento Poesia, a palavra sobressai em obras assinadas por nomes como Arnaldo Antunes, Floriano Romano e Lenora de Barros. Estética é o último segmento, montado na galeria de vidro, espaço ideal para o varal de xilogravuras suspensas de Francisco de Almeida, que podem ser vistas em frente e verso e trazem a ideia da literatura de cordel para falar da cultura popular. Obras de Alex Flemming, Rejane Cantoni e Marlene Almeida completam o núcleo.
Brasilidade Pós-Modernismo
Curadoria: Tereza de Arruda. Visitação até 5 de junho, de terça a domingo, das 9h às 20h30. Ingressos: agendamento através do site bb.com.br/cultura ou site Eventim. Entrada gratuita
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