Premiação

A estrela de cada um no Oscar: quem deve levar os prêmios?

Na enxuta 94ª entrega do prêmio, as apostas são no incremento de audiência, em Ataque dos cães e na consagração de Will Smith

Na 94ª edição, o cobiçado prêmio Oscar pode trazer a surpresa da dupla consagração de dois longas vencedores do Festival de Sundance — isso se No ritmo do coração desbancar a esperada coroação de Ataque dos cães, filme que pode render o terceiro Oscar para uma diretora — Jane Campion, que, pela segunda vez na carreira, foi destacada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Carta praticamente marcada é a vitória do documentário Summer of soul (do cineasta Questlove), que lança luz sobre os efeitos do preconceito racial, a partir de um festival cultural, no Harlem, e traz o subtítulo Quando a revolução não pode ser televisionada. Na festa do Oscar, há a novidade de oito categorias serem anunciadas antes da efetiva festa da premiação. Tudo resultará em possível melhora na audiência televisiva, pela projeção dos organizadores que escalaram um trio de apresentadoras para a cerimônia: Regina Hall, Amy Schumer e Wanda Sykes. Outras duas mulheres com promessa de brilho no evento são as cantoras Billie Eilish (que defenderá a canção original No time to die) e Beyoncé.

Uma reconfiguração do evento tem sido percebida, ano a ano, e rendeu vitórias importantes para filmes como Parasita e Nomadland. Há duas décadas, a tevê apresentou o Oscar mais extenso de todos os tempos, com quatro horas e 23 minutos. O cenário de agora é muito diferente. A quebra de padrões, recentemente, trouxe a vitória do filme sul-coreano Parasita e a consagração de diretoras como Kathryn Bigelow e a asiática Chloé Zhao. Com apelo de público — e é visível que a Academia está atenta a isso, a ponto de ser incorporada uma estratégia de apontar os filmes favoritos, na visão dos fãs —, o Oscar retorna ao Dolby Theatre (Los Angeles), num ano em que menos filmes se viram elegíveis (ao todo, 276) e no qual a decisão de 9,5 mil votantes será televisionada para mais de 200 países.

Valorizado pelos sindicatos de produtores, roteiristas e de atores, No ritmo do coração tem a difícil missão de tirar a produção Netflix Ataque dos cães dos holofotes, mesmo que o filme de Jane Campion traga 12 indicações (caso de 17 filmes na história do Oscar), e tenha sido superada (em indicações) por 13 títulos de grande potencial, a exemplo de Forrest Gump e Mary Poppins. Um mix de apresentadores que contempla Josh Brolin, Jason Mamoa, Lady Gaga, Kevin Costner, Daniel Kaluuya, John Travolta e Elliot Page foi escalado como indicativo de diversidade no Oscar.

Premiado pelo Sindicato dos Diretores e no Bafta (o chamado Oscar inglês), Ataque dos cães emplaca um interessante duelo entre a realizadora Jane Campion e o mais do que consagrado diretor Steven Spielberg (de Amor, sublime amor, pelo qual ostenta a oitava indicação e ainda o 11º destaque como melhor produtor), num embate que repete situação de 1994. Num patamar específico, o de direção de fotografia, os dois títulos têm muita chance, trazendo para o páreo a profissional Ari Wegner (de Ataque dos cães) e Janusz Kaminski (habitual colaborador de Spielberg). Sem indicação no quesito direção, Denis Villeneuve deve ver a superprodução Duna promover arrastão em alas técnicas como desenho de produção, efeitos visuais e edição.

Som também é categoria importante para Duna, mas nela há o favoritismo do musical Amor, sublime amor. O musical, que noutra versão venceu o Oscar em 1962, tem quase como assegurado o Oscar de Ariana de Bose, atriz coadjuvante que interpreta a vigorosa Anita. Duna tem Hans Zimmer, candidato a melhor trilha sonora que pode levar prêmio, depois de uma vitória (O Rei Leão) e outras 10 indicações. Embalado por muitos sucessos musicais, o drama cômico assinado por Paul Thomas Anderson Licorice Pizza não deve converter em prêmios as importantes indicações a melhor filme, direção e roteiro original.

Exceção?

Reconhecido na categoria central (num dos 13 casos raros da história do prêmio), junto com outros nove indicados a melhor filme, Drive my car tem tudo para faturar para o Japão, distante de vitórias há 12 anos, o Oscar de melhor filme internacional. Apesar do monumental trabalho de adaptação do roteiro de Duna, Drive my car tem forte chance de vitória para Ryusuke Hamaguchi (indicado ainda a melhor direção). Candidato a sete prêmios (com direito até a melhor direção para Kenneth Branagh), Belfast leva o favoritismo no Oscar de melhor roteiro original (para Branagh que, há 32 anos, namora uma vitória no certame).

Na espera do Oscar pela última década, a atriz Jessica Chastain é, desde já, a virtual vencedora do Oscar, pela cinebiografia Os olhos de Tammy Faye, na qual está afundada numa extravagante maquiagem, que ajuda a fazer reviver o espírito da empresária televisiva Tammy, capaz de converter crença em entretenimento e farsa. Chastain defende uma composição louvável, a exemplo de Renée Zellweger, que venceu Oscar por Judy: Muito além do arco-íris (2019). Uma surpresa seria ver Kristen Stewart, iniciante na candidatura ao Oscar, por Spencer, vencer, pelo retrato de Lady Di, morta há quase 25 anos.

À frente de um longa com excepcional acabamento visual, o diretor Guillermo del Toro, por O beco do pesadelo, não terá grandes chances na festa. Quem não contou com a menor consideração no evento foi o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky, que, apesar de ter o nome cogitado para a solenidade, foi vetado. Aos 53 anos, o ator surdo Troy Kotsur, tornado o primeiro na condição a ser lembrado pela Academia, tem muita possibilidade de levar o prêmio de melhor coadjuvante. Com potencial de vitória, o australiano Kodi Smit-Mcphee (de Ataque dos cães) é o mais forte oponente de Troy que, em No ritmo do coração, contracena com a deficiente que venceu o Oscar por Os filhos do silêncio (1986), Marlee Matlin. Doze outros personagens destacados nos 94 anos de Oscar também se comunicavam por sinais.

Entre o time de veteranos, a produtora Disney tem amplo terreno para faturar o Oscar de melhor animação por Encanto. Outro renomado que tem muito para ver de perto a estatueta é o ator Will Smith que parece aplicar o que aprendeu de autoridade paterna, proteção e rigor disciplinar, no longa King Richard: Criando campeãs (baseado na vida do pai e treinador das tenistas Serena e Venus Williams, convidadas para o Oscar). Quem desponta na categoria, mas com menor oportunidade, é Benedict Cumberbatch (Ataque dos cães).

Com histórico de afinidade com a Academia, intérpretes como Denzel Washington (que tem dois prêmios e cinco outras indicações), Judi Dench (dona de um prêmio e mais sete indicações) e, até mesmo Nicole Kidman (na quarta indicação, depois de uma vitória com As horas), devem sair de mãos abanando. Com a sistemática indicação de atores estrangeiros, corrente desde 2016, Penélope Cruz, em 2022, foi lembrada por mais uma colaboração com Pedro Almodóvar (Mães paralelas, que traz o autor da trilha, Alberto Iglesias, com excelente obra), mas não deve faturar Oscar (ela já tem um, de coadjuvante, por Vicky Cristina Barcelona).

 

Netflix/divulgação - Favorito, Ataque dos cães é o recordista em indicações, com 12 delas
Chiabella James/Warner Bros. - Duna conta com excelência técnica
CHRISTOPHE SIMON - Na terceira indicação, Jessica Chastain deve levar a estatueta
Warner Bros./Divulgação - King Richard: criando campeãs
AFP / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / KEVIN WINTER - A cantora Beyoncé tem presença confirmada na festa
Mubi/Divulgacao - Drive my car traz a força do Japão para a cerimônia
Courtesy of Searchlight Picture - Summer of Soul tem tudo para ser o melhor documentário
Divulgação - Ataque dos cães 2