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Baile no DF: rapper FBC convida brasilienses ao ‘real hip-hop’ na sexta (18)

Uma das principais atrações do festival Nova Wave, o artista conversou com o Correio sobre os últimos sucessos e o próximo show nos palcos da nossa capital

Em Brasília, a cultura e produção do Hip-hop não são novidade. Mas a realização de um grande evento apenas com artistas do gênero e seus desdobramentos, sim. Nesta sexta-feira (18/3), o festival Nova Wave promete trazer artistas que têm protagonizado e sido expoentes de músicas alternativas da quebrada. O rapper FBC é uma das atrações mais esperadas da noite. Em entrevista ao Correio, o artista falou sobre os últimos lançamentos, o que está produzindo e o que o público do DF pode esperar da apresentação.

Criado nas batalhas de rima de Belo Horizonte, Fabrício Soares Teixeira, o FBC, é um rapper de 32 anos – dos quais 16 são de dedicação ao hip-hop. O artista cresceu na favela Cabana do Pai Tomás e tem cinco álbuns publicados. O último, Baile, vem se destacando desde o lançamento, em 2021, e já soma mais de 22,7 milhões de audições no Spotify. Das 10 faixas, a música Se Tá Solteira foi a que mais caiu no gosto dos jovens e estourou com protagonismo em muitos vídeos produzidos no Instagram e TikTok.

Baile nasceu de uma decisão um tanto quanto arriscada. Acontece que o álbum usa, em todas as faixas, batidas do 'Miami Bass', gênero musical originário do Hip-hop e que fez sucesso no Brasil nos anos 90, embalado pelo funk carioca. O esquecido Miami Bass foi uma aposta certeira do beatmaker e produtor musical do álbum, Vhoor (Vitor Hugo de Oliveira Rodrigues para a família). “O Vhoor me ameaçou”, brinca FBC. Mais sério, Fabrício conta que a ideia dos dois era fazer algo completamente diferente do que já era produzido por ele. Entre as várias tentativas, foi o Miami Bass que encaixou perfeitamente na proposta. “Era o que estava dando mais certo, tá ligado? O que queríamos fazer.”

Foi um tiro no escuro. FBC e Vhoor nem de longe esperavam o retorno que tiveram. “A gente tinha medo de não dar certo e não funcionar porque era algo muito diferente do que estávamos acostumados a fazer”, lembra Fabrício. “O Miami Bass é muito antigo, então a gente precisou se adequar e adequar as ferramentas que usávamos para conseguir fazer esse trabalho”, completa Vhoor sobre o processo de criação. Foi um projeto despretensioso feito com um pé atrás – mas também feito com genialidade musical. E, por isso, deu certo.

Miami Bass e baile funk

O tamborzão do Miami Bass chegou ao Brasil no início da década de 90 e logo foi incorporado nas batidas dos bailes funks do Rio. Na época, o gênero fez sucesso em faixas como Rap das Armas, da dupla Cidinho e Doca, ou Rap do Solitário, de MC Marcinho. Nos anos 2000, o Miami Bass desapareceu das rádios. Para FBC e Vhoor, o ritmo era perseguido pela polícia e pela mídia. “É um ritmo que já foi muito criticado e perseguido não só nas ruas como intelectualmente. Isso privou a liberdade de muitos produtores da época, que tiveram que se adaptar”, diz o rapper, dando como exemplo uma de suas inspirações para Baile, MC Marcinho.

Já é uma marca do FBC reforçar suas raízes em letras que narram a vida na favela, a cultura da periferia e a marginalização de quem vive em comunidade. Acrescentar tudo isso a um gênero que já tem, há anos, fama de marginalizado e alcançar públicos inusitados é um trabalho para poucos. “Tocar em 2022 um beat de Miami Bass em casa de boate com ingresso a R$ 350 já diz muito. O que é bom chega em todos os lugares. O que importa é fazer música boa e causar choque, tá ligado?”, fala Fabrício. O que o rapper e o beatmaker querem não é apenas um choque estético, “mas um choque em ter necessidade de escutar um som que está sendo produzido e não é achado em outro lugar”.

Raideno/Reprodução - A capa do álbum Baile, com batidas de Miami bass

“Hip-hop real”

“Hip-hop real” é o que os brasilienses podem esperar da apresentação do FBC nos palcos do festival Nova Wave, segundo o próprio artista. A fórmula de Baile proporciona uma mistura entre o bom e velho Hip-hop e batidas eletrônicas. O resultado é carinhosamente chamado por FBC de “música eletrônica de favela”, que promete agitar nosso quadradinho na sexta.

O rapper garantiu cantar músicas de todos os álbuns. São eles: S.C.A (2018), Padrim (2019), Best Duo (2020), Outro Rolê (2021) e o já falado Baile (2021). FBC já foi avisado de que público quer muito Hip-hop e beats pesados no show. E, se depender dele, não há com o que se preocupar: “Prometemos levar o baile para o DF.”

A nova onda

Já são mais de 1.200 pessoas confirmadas no festival Nova Wave. O evento começa às 19h desta sexta (18/3), no Complexo Esportivo e de Lazer do Guará (Cave). São 14 artistas confirmados, entre pessoas de Brasília e de fora. FBC, as gêmeas Tasha e Tracie e N.I.N.A são uma das atrações mais aguardadas, mas nem por isso podemos minimizar os rappers com potencial do DF que vêm crescendo e chamando atenção na cena.

“Estamos trazendo artistas gigantes e colocando artistas locais no palco de gente grande. Estamos gerando oportunidade para quem tem um trabalho de qualidade mas não tem patrocinadores ou olhos voltados para si”, aponta o organizador do evento Thiago Zago, de 23 anos. Zago, que é conhecido pelo nome artístico Fosk Fobos, e Mayara Virgínia, 23, organizaram todo o festival – desde a criação do projeto no papel à contratação dos artistas e escolha do local – sozinhos. “O processo de fazer o festival é um pouco desgastante, porque não temos apoio de ninguém em questões financeiras e nem verba pública. Até hoje, muito próximo ao festival, achamos tudo uma loucura”, relata Zago ao Correio.

Arquivo Pessoal - O evento foi organizado por Thiago Zago e Mayara Virgínia, ambos com apenas 23 anos

“O festival não tem patrocínio nenhum, só muita vontade de fazer algo e coragem”, reforça Mayara. A jovem conta que os dois contrataram o designer Kevin Lorde para criar a identidade visual e trabalhar no dia do evento. “Posso falar com orgulho que temos uma equipe composta 90% por negros, sendo majoritariamente mulheres pretas, e LGBTQI+. São pessoas incríveis.”

A presença de minorias tanto na produção quanto no Line Up foi uma das exigências dos organizadores. “Por ser meu primeiro festival, fiz questão de colocar a essência feminina no planejamento”, ressalta Virgínia.

Os desdobramentos do Rap e a ponte com a periferia

O Nova Wave foi anunciado em dezembro de 2021 como um festival de Trap, Grime, Drill, Funk e Hip-hop. Cada gênero tem sua singularidade, mas se podemos pontuar uma semelhança é que todos são originários da periferia. E o público gostou da escolha. “É o que a periferia ouve. Tivemos uma resposta boa de quem queríamos atingir e isso mostra falha na baixa criação de eventos da periferia e como tratam o hip-hop, o funk e o que vem das ruas”, diz Mayara, em tom de crítica.

Dos ritmos, dois são relativamente novos: o Grime, gênero que surgiu na periferia de Londres nos anos 2000, começou a ser utilizado por artistas brasileiros há 10 anos. O Drill é ainda mais recente e só apareceu no Brasil após 2014.

As novas vertentes se expandem de forma cada vez mais rápida. Por isso, Mayara e Thiago não se intimidaram em promover um evento com vários artistas de Drill e Grime. “Sempre vi como gêneros em ascensão. Com Drill e Grime, a gente capta o público mais fiel do rap para o evento. A ideia sempre me pareceu assustadoramente certa e eu só ficava me perguntando ‘Cara, por que ninguém nunca fez algo assim em Brasília?’”, comenta Zago.

Com artistas que misturam Funk e Hip-hop e letras que, em sua maioria, falam sobre realidades duras, uma coisa é inegável. O festival Nova Wave chega para ajudar a expandir a cultura da quebrada em Brasília.

*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori

Saiba Mais

 
Wanderley Vieira - Criado nas batalhas de rima de Belo Horizonte, FBC é um rapper com mais de 15 anos de experiência no Hip-hop
Raideno/Reprodução - A capa do álbum Baile, com batidas de Miami bass
Arquivo Pessoal - O evento foi organizado por Thiago Zago e Mayara Virgínia, ambos com apenas 23 anos