Foi Darcy Ribeiro quem convidou o arquiteto Sérgio Rodrigues para projetar o mobiliário da Universidade de Brasília (UnB), na década de 1960. Quando a instituição foi inaugurada, em 1962, parte dos móveis utilizados em salas de aula, auditórios e administração eram assinados pelo designer carioca responsável por criar um estilo genuinamente brasileiro na produção de móveis. Ao longo do tempo, muito desse mobiliário se perdeu, um destino natural para uma instituição que começou a patrimonializar seu acervo na década de 1970. Um pouco dessa história é contada na exposição Sergio Rodrigues e o Mobiliário Moderno da Universidade de Brasília, em cartaz no Museu de Arte de Basília (MAB) e idealizada pelo arquiteto e pesquisador Airton Costa Jr.
A exposição é resultado de pesquisa iniciada em 2014, durante um mestrado. A ideia era detectar os móveis desenhados por Rodrigues em 1962 para equipar a UnB. Costa pretendia catalogar esse mobiliário e identificar o que ainda estava em uso e o que havia desaparecido. "Como produto da pesquisa tínhamos a exposição e o catálogo, que virou um livro de 96 páginas com a história de como o Sérgio veio para Brasília, a convite do Darcy, para mobiliar um auditório que nem existia", conta. O livro será lançado no MAB hoje e traz boa parte da pesquisa de Costa.
O improviso, uma das marcas do trabalho do designer e herança da cultura brasileira na qual se formou, pautou o processo de criação das cadeiras do Auditório Dois Candangos. A montagem foi feita na véspera da inauguração da UnB, em abril de 1962. "Ele contava essas histórias com muita emoção, imagina, chegar a uma cidade que ainda estava sendo implementada, numa universidade cujos prédios não existiam. O grande desafio era fazer as coisas acontecerem do nada. O arquiteto, nessa época, fazia tudo, tinha que se virar", lembra Costa. Durante anos, a poltrona Candango foi um dos símbolos do auditório, mas a mão de Rodrigues também está em outros itens de mobiliário, alguns até hoje presentes no dia a dia da universidade.
Uma mesa Eleh ainda ocupa sala no subsolo da Faculdade de Comunicação (FAC) e outra está no Dois Candangos, que teve as poltronas originais trocadas. Airton Costa Jr. encontrou uma cadeira Lucio Costa, homenagem ao urbanista, na prefeitura do câmpus, mas a peça havia sido reformada e estava descaracterizada. Segundo o pesquisador, era muito comum os móveis acabarem distantes do projeto original após uma reforma, já que a maioria das pessoas desconhecia o valor do mobiliário. "Quando quebrava, as pessoas transformavam", diz. A salvação é que Rodrigues era obsessivamente organizado em relação a seus projetos e, hoje, todos eles estão disponíveis no Instituto Sérgio Rodrigues.
Airton Costa Jr conseguiu projetos, croquis e fotos de todos os móveis assinados por Rodrigues e desenhados para a UnB. Parte desse material está na exposição. Nesse conjunto, é possível acompanhar as linhas de pensamento seguidas pelo designer para suas criações. Lucio Costa foi o primeiro a dizer que ele usava situações genuinamente brasileiras. Couros, madeiras nacionais e sistemas de encaixe formam a base da produção de Sérgio Rodrigues. As travas em madeira — não há parafusos em boa parte de suas peças — remetem à montagem do carro de boi, meio de transporte típico de certas regiões brasileiras.
As tiras em couro presentes em muitas de suas cadeiras e poltronas também vêm da observação dessa carroça quase medieval. "É por isso que ele é tão querido e tão conhecido: porque tem esse entendimento de trazer a cultura popular brasileira para se criar um móvel que, nesse tempo, é considerado moderno porque sai do padrão colonial e passa a ter característica essencialmente brasileira", explica Costa.
Mobiliário de Sergio Rodrigues para a Universidade de Brasília
Curadoria: Airton Costa Jr. Visitação até 31 de março, de quarta a segunda, das 10h às 19h, no Museu de Arte de Brasília (MAB).
quarta à segunda de 10:00 às 19 horas.
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