A jornalista Gloria Maria foi a convidada do programa Roda Viva, da TV Cultura, da noite desta segunda-feira, 14. Em sua primeira participação na atração, a global afirmou que "nada blinda o preto do racismo" e trouxe situações em que suas duas filhas, Laura e Maria, foram vítimas do preconceito. Além disso, relembrou fases da carreira, recuperação de um tumor no cérebro e desejo de viajar para Marte - ou ao menos ir ao espaço.
"Nada blinda preto de racismo, nada. E com mulher preta é pior ainda. Nós somos mais abandonadas e discriminadas, porque o homem preto não quer a mulher preta. Nada blinda a gente. Você tem que aprender a se blindar da dor, isso é importante. Se você for esperar uma proteção universal, você está perdida. Você tem que fazer com que a vida te faça aprender a se blindar", disse. As aspas vieram em resposta para a jornalista Claudia Lima, pauteira do programa Saia Justa, do GNT, que perguntou se a fama "a protegeu" de ataques em algum momento.
Em outro momento, a comunicadora explicou que as filhas, Laura e Beatriz - 13 e 14 anos respectivamente - já passaram por episódios de racismo. A primeira ouviu que "a cor dela era feia". A segunda escutou: "você, sua macaca, não fala nada". Em ambos os casos, as falas foram ditas por adolescentes de "escolas de elite". "Isso não vem da criança, isso vem da família. (...) Quando ele (amiguinho) falou, queria machucar. E a maneira que tinha é para machucar era ofender racialmente. Isso que acho uma coisa trágica. Se ele sabe que chamar de macaca é uma ofensa racial, é porque foi ensinado", atestou.
Com passagem pelo Jornal Nacional, Jornal Hoje e Fantástico, a apresentadora do Globo Repórter foi a primeira jornalista brasileira a cobrir uma guerra (Guerra das Malvinas em 1982). No Roda Viva, ela disse que só não foi para a da Ucrânia por conta do problema de saúde. "Se não tivesse passado por isso, eu iria. Estou mais frágil, não teria muita resistência pra fugir de um tiro, uma bala, um canhão. A sabedoria de viver é você não estacionar e eu nunca estacionei, o que me deixa viva, o que me dá prazer é a mudança".
Em 2019, Gloria foi submetida a uma cirurgia de emergência para retirar um tumor no cérebro. "Não pensei na possibilidade do fim nem por um segundo - afirmou. Se eu não tivesse descoberto naquele momento, o tumor me mataria em 15 dias. Criou um edema que inflamou, me fez ter uma convulsão. Vivi a primeira bênção porque não me deixou sequelas. Tinha 30, 40% de chance de sobreviver e 20% de sobreviver sem sequelas. Mas não tive medo. A vida é isso. Você está vivo para passar por todo tipo de experiência. É que o ser humano tem a tendência de querer viver num mundo cor-de-rosa", indicou.
Conhecida pelas diversas viagens ao redor do mundo em seus mais de 40 anos de profissão, a jornalista relembrou quando andou na Ferrari de Ronaldo Fenômeno, fumou maconha na Jamaica e presenciou um festival de pesca na Nigéria, episódio classificado como "o mais transformador que já viveu". Apesar do vasto histórico, ela revelou um desejo inusitado. "Estou querendo ir para Marte numa dessas maquinas aí. Seria um grande presente da Globo, tomara que tenha algum poderoso ouvindo a gente", brincou.
O assunto surgiu após ser questionada se já algum tipo de proibição na empresa da comunicação. "Nunca dei tempo para censura. Nunca ninguém me falou 'isso você não pode'. Tem umas coisas que eles acham falta de juízo, coisas perigosas", contou.
Além de Claudia Lima, a atração comandada por Vera Magalhães contou com a bancada formada pela repórter da Elle Brasil em Beleza e Sociedade Ísis Vergílio, Laura Ancona, diretora de redação da revista Marie Claire, Cris Guterres, colunista do Universa Uol e apresentadora do Estação Livre na TV Cultura, e Cristina Padiglione, colunista do jornal Agora São Paulo. A participação foi ainda em celebração ao Dia Internacional da Mulher.