No auge dos 70 anos, Vera Fischer sustenta um status semelhante ao das grandes influencers do país. Mas nem sempre foi assim. Até o início da pandemia, a atriz nunca havia tido um celular. Hoje, ela não só é uma usuária ativa das redes sociais, como também está cada vez mais envolvida com o mercado dos NFTs, os tokens não fungíveis que movimentam milhões de criptomoedas e são a nova febre do mercado artístico.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Vera Fischer contou que pretende vender de forma online quase 200 quadros autorais — criados desde 2006 — usando a tecnologia blockchain, que associa códigos alfanuméricos a conteúdos como imagens, vídeos e músicas, postos à venda com um certificado de autenticidade digital. "Tudo que está ligado à arte é comigo mesmo", diz a atriz
"É uma questão de escolher o melhor produto. Quanto mais novidades surgem, mais chances há de ganhar dinheiro”, explica ela sobre o crescente interesse pelos NFTs, nicho que ainda é visto como algo estranho para muitos artistas e entusiastas do setor.
Desde que foi dispensada da Globo em junho de 2020, tem trabalhado em produções de streaming, peças online e presencial, leituras dramáticas, websérie, propagandas publicitárias e projetos como a venda de quadros em NFT — ainda sem data definida.
Em 2021, Vera anunciou um leilão — também em NFT— de uma fotografia de 1976, registrada por Bubby Costa, em que aparece em uma pose sexy, coberta de lama e debruçada sobre um galho de uma árvore, em um pântano.
Ela conta que a notícia do leilão, que, segundo o site da revista IstoÉ, tinha o valor de lance mínimo de R$ 447 mil, chegou até mesmo à Rússia, mas a foto não foi vendida porque será parte de outro projeto em breve, com detalhes ainda em segredo. "É uma foto concorrida", diz ela. "Desde o ano passado, está rodando pelo mundo."
Entre as obras que colocará à venda, está Mulher², coleção de retratos com várias faces e facetas femininas, com desenhos como a de um grande rosto maquiado que se inclina para observar as águas de uma piscina no meio da escuridão.
"São mulheres múltiplas, elevadas à sua potência, multiplicadas sucessivamente por si mesmas. São também vítimas enquadradas em parâmetros sociais historicamente machistas e violentos", diz a atriz, que planeja, além da venda digital das obras, uma exposição das telas.
"Maquio as minhas mulheres [dos retratos], boto o blush nas bochechas, pinto os cílios, as sobrancelhas e a boca. Gosto dos olhares que faço para elas. Algumas olham para o alto procurando por algo, outras para baixo, com vergonha, ou para o lado, desconfiadas. Outras até olham diretamente para mim como quem diz 'estou aqui'", afirma a Fischer, que define as moças dos desenhos como "jovens, maduras, sonhadoras, elegantes, inocentes e sedutoras".
A dispensa da Globo em meio à pandemia a deixou com instabilidade mental. É o que afirma ao relembrar o isolamento social, período em que sentia pouca fome, emagreceu bastante e adoeceu de desânimo.
"De repente, os trabalhos foram sendo cortados. As pessoas morrendo e o país ficando à deriva. Temos um presidente que não queria vacinar ninguém, falava mal da vacina e defendia a cloroquina."
Como válvula de escape, iniciou a fase blogueira. Comprou um celular para se conectar com o mundo e, desde então, troca mensagens com mais de 50 fã-clubes e posta selfies sorridentes, momentos marcantes de sua carreira, curiosidades sobre a rotina e dicas culturais acompanhadas pela hashtag #VeraFischerIndica, o que rendeu a ela o apelido de "Veraflix", em referência à gigante do streaming Netflix.
"O meu Instagram existe desde 2015, mas, como não tinha celular, não postava nada", conta ela. "Gosto de conversar com os meus fãs, postar sobre comida, escrever coisas da minha cabeça. Eles amam. Precisam de carinho e atenção."
Entre as dicas, há filmes como Casa Gucci, de Ridley Scott, Guerra e Paz, de King Vidor, e A Órfã, de Jaume Collet-Serra. Vera conta que anota todas as fichas técnicas dos filmes que vê e indica. Tudo para publicar dicas com embasamento. "Tenho um caderninho especial. Faço a pesquisa ali mesmo."
Ela conta que varia as dicas, mas, claro, tem as preferências dela. Filmes que são "o sucesso do momento", por exemplo, não são prioridade. "Às vezes, eles não têm muito a dizer." Há também artistas que chamam mais a atenção dela. É o caso da britânica Olivia Colman, de A Filha Perdida e The Crown.